Seguindo em frente

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Mitsuya

Voltei para Dijon. Já faz uma semana.

Tento não pensar no meu último dia na capital, mas é algo tão inevitável. Sempre que estou com tempo livre, meus pensamentos me detonam. Me pergunto como seria se eu tivesse feito diferente. Se eu tivesse lhe falado quem sou.

Mas ela devia ter me reconhecido. Acho que não fui marcante o bastante para ela. Ao menos, agora, ela vai se lembrar de mim como um estranho de cabelo roxo.

Estou disposto a seguir em frente. Assim como ela. Com outra pessoa.

Sheila tem sido ótima para mim, desde que a conheci. Uma boa amiga, uma boa companhia, uma boa companheira. Ela é engraçada, atenciosa, dedicada, solidária e divertida. Talvez, boa demais para mim.

Mas não posso mudar o que ela sente. Com três dias do meu retorno, ela me chamou para jantar. Jantamos, fomos num karaokê, sentamos na areia da praia para conversar e então, ela me beijou.

Não sei o que está acontecendo conosco, mas algo, definitivamente, mudou.

"Eu te amo, Mit". Foi o que ela disse após o beijo. Estou tentando ama-la também.

Estou tentando sentir como é ser amado.

Dormimos juntos na noite passada. Observo a mulher deitada na minha cama. Penso que posso estar errando com ela, mas quando eu estiver certo, espero que ela me perdoe.

Sei que vou magoa-la, porque não a vejo como uma mulher. Mas também sei que vou magoa-la se não tentar corresponder aos seus sentimentos.

Sento-me na cama. Esfrego os olhos e ponho o cabelo para trás. Percebo ela se movimentar e logo ela me abraça por trás.

- Está preparado para hoje, Mit? - Ela beija minha bochecha e deita seu rosto em meu ombro.

- Tenho que estar. - Respondo, ainda sonolento.

- Vai dar tudo certo. - Ela se ajeita e senta de frente para mim. - A inauguração vai ser um sucesso.

- Não é a inauguração que me preocupa, Sheila.

- O que então?

- As vendas. - Sorrio, amargurado. - Estou desempregado. Investi tudo que tinha na loja. Tem que dar certo.

- E vai dar. - Ela segura a minha mão. - E se não der, pode contar comigo. Eu tenho economias que...

- Sheila. - A interrompo. - Não faça tanto por um homem.

Ela engole em seco. Solta as minhas mãos e força um sorriso.

- Quero que saiba que pode contar comigo.

- Obrigado. - Beijo sua testa e me levanto da cama.

Vou direto para o banheiro e faço minha higiene matinal. Após um longo banho, visto-me e vou para a sala. E vejo um banquete a minha espera.

Ela estava sentada na mesa, me esperando. Um largo sorriso toma seu rosto ao me ver. Ela aponta para a cadeira ao seu lado, induzindo-me a sentar.

Não sei se o fato de eu sempre ter vivido sozinho tem algo a ver, mas, naquele instante, me senti bastante incomodado. Detesto surpresas. Detesto ainda mais a ideia de alguém cozinhando na minha cozinha. Mexendo nas minhas coisas.

Mas sei que a sua intenção é pura. Então respiro fundo, sorrio e vou até ela.

Sento-me ao seu lado e ponho algumas torradas no prato.

- Não vai dizer nada? - Ela pergunta enquanto seu sorriso morre.

- Obrigado.

- "Obrigado"? - Ela repete, com tom de decepção.

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