De mãe para filha

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S/n

Minha ansiedade aumenta  a cada passo que dou ao lado dela. Ela não disse nada desde que nos despedimos daquele velho. Ela apenas sorriu ao me ver. Lhe falei que jantaríamos em outro lugar e ela apenas assentiu.

Confesso que ela não é da forma que a imaginei. Ela é alta, talvez tenha 1,79cm, seus cabelos são longos, encostando-se a sua cintura. Seus quadris são largos e suas coxas são beeem grossas. Uma pena eu não ter herdado isso dela. E seu rosto é gentil. Seus traços finos não demonstram a idade que tem.

Bom, juntas, caminhamos até encontrar um restaurante pouco movimentado. Ao menos, essa era a minha intenção.

Eu apenas aponto para o local. Há um nó na minha garganta. Talvez ela sinta o mesmo.

Entramos no restaurante e sentamos em uma mesa qualquer. Meus dedos batucam contra a mesa. Eu espero sua iniciativa. Ela parece esperar a minha. Isso está me matando.

O garçom vem até nós duas.

- Pretendem pedir algo? - Ele pergunta, erguendo um bloco de papel e uma caneta.

Olha para ela, mas ela parece tão perdida, ansiosa e nervosa quanto eu. Decido tomar as iniciativas a partir de agora.

Talvez ela sinta culpa demais. O peso sobre ela deve ser bem maior.

- Vamos querer... - Olho o cardápio, de relance. - Algo que envolva salada... Você sabe, tomate, cebola. Essas coisas e... Feijão? Talvez. Bom... É, acho que feijão... preto? - Olho para ela, confusa. 

Porra! Que merda se pede num encontro de desculpas com uma mãe que desapareceu a 21 anos atrás?

O garçom percebe a minha dificuldade. Talvez, tenha até percebido o clima pesado que nos sonda.

- Bom, precisam de mais tempo ou posso trazer o prato principal? - Ele indaga após julgar minha indecisão.

- O prato principal parece perfeito. - Digo, abrindo um sorriso para ele.

Ele assente, anota o número da mesa e então afasta-se de nós. O silêncio volta. 

Eu tento distrair-me, olhando as roupas das pessoas. Penteados. Sapatos. Pensando se eu usaria as mesmas coisas, nesta ocasião ou em outras.

Mas não tem como fingir que ela não está bem na minha frente, me encarando com essa cara piedosa.

Mas então porquê caralhos ela não fala nada? Perdeu a porra da língua em um de seus serviços sexuais?

- Ok, senhora... - Dou uma estendida na última palavra, esperando que ela diga-me seu nome.

- Grace. - Ela, finalmente, fala algo.

Achei que estenderia a palavra até o fim do jantar e ela apenas sorriria para mim. Porém, surpreendeu-me ao me responder. Acho que ela também tem senso o bastante para saber o momento certo de falar.

Sua voz é calma. Bem padrão de aeromoça. Uma voz encontrada em várias mulheres. 

- Me desculpe não falar antes. Meu nome é Grace.

- Ok, Grace. - Respiro fundo. - Quando estiver preparada, eu também estarei.

- Podemos comer antes? - Ela pergunta, em tom de súplica. 

Controlo minha vontade indesejada de revirar os olhos. Pra que tanto drama? Tanta enrolação? O passo mais difícil era estar diante de mim, e ela já passou por ele. Sinceramente, não entendo, porém, concordo, assentindo.

Passamos os próximos 5 minutos caladas. Evitando contato visual. Qualquer tipo de de contato, na verdade.

Agradeço quando o garçom traz nossa refeição. E esta foi a última vez que falei pelos próximos 30 minutos.

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