Mitsuya
Faz três semanas que estou em Paris. Já não tenho mais nada a acrescentar em minha pesquisa. Então, porque ainda estou aqui?
Eu sei bem qual é a resposta, só não quero aceita-la. Mas decidi que hoje será meu último dia na capital.
Sheila disse-me que, nesse tempo que passei fora, conseguiu organizar tudo na loja. Ela está pronta para ser inaugurada. No instagram da loja, diversos seguidores questionam quando a tal inauguração irá acontecer.
Não posso mais adiar isso.
Usei meus últimos trocados para pagar a passagem do busão, de volta para Dijon.
A viagem foi marcada para o começo da noite. 18:45h.
Para não morrer de fome, tive que pedir dinheiro emprestado a Sheila. Fui até o banco e saquei o dinheiro direto da conta.
Aposto que ela me cobrará com juros. Aquela garota é pior que agiota.
Sinto uma necessidade de me despedir daqui. Desde quando cheguei, não tive a oportunidade de ir à praça central.
É um lugar onde tem grande concentração de crianças e idosos. Eles não são meu público alvo, por isso não fui aos lugares que, normalmente, são frequentados por essa idade. Não ajudaria na minha pesquisa.
Mas agora, faz total sentido conhecer o local.
Já passei de relance por aqui, mas nunca desfrutei do lugar.
Avisto uma ponte de madeira, no canto da praça. Abaixo dela há um lindo lago. Porém, não vejo ninguém. Percebo uma ótima oportunidade para fotografar o local. Ando em direção a ponte, enquanto tiro da bolsa minha câmera forográfica.
Chegando lá, me posiciono de uma forma ridícula para captar a imagem da bela visão que tenho neste momento. Tudo pela foto perfeita.
O sol radiante no fim do lago, a ponte amadeirada que leva do parquinho a um lindo campo com flores; o reflexo das nuvens sobre a água. Tudo aquilo era paradisíaco.
O sol, que pairava sobre meu rosto, de repente é substituido por uma sombra. Avisto que uma garota parou na ponte, logo a minha frente. Talvez ela não tivesse me visto ou só não se importava mesmo.
Ela tinha uma caneta em suas mãos. Uma bem diferente. Nunca vira nada igual.
Aproximo-me dela, já que não consiguirei mais fotografar o lugar.
- Bela caneta. - Ela olha-me, ao ouvir minha voz.
Seu cabelo voava levemente com a brisa. Seu olhar sereno, observava os fios roxo do meu cabelo. Ela parecia achar fascinante.
- Onde conseguiu? - Pergunto, já que ela permanecera calada.
- Com um cara. Numa noite dessas. - Ela suspira e volta a encarar o lago. - Já faz uma semana e ele me disse para ligá-lo, mas, não consigo.
- E porque não?
- Não quero piorar as coisas com meu namorado. Estamos voltando a nos dar bem.
Passo a encarar o lago também.
- Entendo.
- Gostei do seu cabelo. - Ela comenta. - Não se vê muitas pessoas de cabelo roxo em Paris.
- Então acho que é minha marca registrada.
- Acho que sim.
Sinto uma grande curiosidade e não me contenho em perguntar.
- Por que acha que o cara seria um problema para a sua relação?
- Porque senti atração por ele. E não sei se foi o efeito do baseado, mas é a única coisa que me lembro. - Ela olha para mim e há uma nuvem de preocupação a rodeando. - Eu queria muito beija-lo.
Fico em silêncio, analisando a situação.
- Nossa, você deve me achar uma pessoa terrível. - Ela sorri.
- Bom. - Olho para ela no mesmo instante que ela olha para mim. - Eu acho que você é humana. E se não fez nada além de sentir atração, você não é uma pessoa terrível.
Ela sorri e amarra o cabelo num rabo de cavalo.
Estava ventando muito e seu cabelo caía sobre seu rosto constantemente.
Agora, que nada mais cobria seu rosto, ela me parecia familiar.
Mas, se fosse mesmo ela, teria me reconhecido, não é mesmo?
E, se for mesmo ela, significa que ela seguiu em frente. Significa que apenas eu fiquei obcecado em reencontra-la.
Eu não a amei. Não me apaixonei por ela. Mas ela tinha um brilho que era fissutante. Algo que me deixava imerso na sua grosseria. Quando, na verdade, eu sabia que ela não era grossa. Acho que gostei dela assim que a vi porque, assim como eu, naquela época ela fingia ser alguém que não era.
Mas ela tem um namorado e seus próprios problemas. Prefiro acreditar que não é ela.
Minha fantasia de que ela ainda estaria esperando por mim, mesmo depois de ter nos afastado na noite em que deixou meu olho roxo, é menos cortante do que a realidade.
- Estou falando de mim desde que atrapalhei sua foto. - Ela se aproxima. - Ficou boa, ao menos?
Mostro a foto que registrei na câmera. Nem mesmo eu a tinha verificado. E estava perfeita.
- Você tem talento. - Ela pega a câmera da minha mão e imita a posição em que eu estava quando ela chegou.
Vejo seu dedo passar sobre a tela. Ela provavelmente estava vendo as outras fotos. As fotos das vitrines, mulheres bem vestidas, casais vestidos casualmente. Coisas desse tipo.
Quando ela volta, mostra-me uma nova foto. Sou eu. E a linda paisagem atrás de mim. O sol que se põe, escurece a foto e meu rosto não aparece. Somente a minha silhueta.
- Vi que você não tem fotos próprias. - Ela põe o cordão da câmera novamente em meu pescoço. - Agora você tem.
Acabo sorrindo.
- E você? Tem namorada?
- Sim. - Digo sem pensar.
- Entendi. - Ela respira fundo. - Foi bom te conhecer.
Ela acena para mim. Aceno de volta. Ela vira-se e começa a caminhar. Observo sua silhueta desaparecer.
Até que ela se foi.
...
VOCÊ ESTÁ LENDO
BADBOY?
FanfictionJaqueta de couro preta. Sarcasmo. Moreno alto. Cigarro entre os dedos. Tatuagens. Uma bela moto e... Uma mentira? Todas as características de badboy que você já conhece em nosso lindo Mitsuya. Ou não.