Até lá.

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S/n

Deslizo minha mão sobre seu rosto, acariciando-o, enquanto estudo a tristeza em seus olhos marejados. Me pergunto o que pode ter acontecido com seu pai.

Na verdade, não espero nada de bom vindo daquele homem. Às vezes, o universo dá filhos bons a pais ruins, como forma de equilíbrio. Mas o Mitsuya não merecia fazer parte disso.

Sinto-me culpada e responsável pela situação em que ele está. Seu pai usou-me para atingir ele, não entendo o porquê dele ter aceitado, mas aceitou, então, farei o que for possível para ele se sentir melhor, porque, nós dois fomos as vítimas. Eu só não acabei tão mal como ele.

Ele repousa sua mão fria sobre a minha e a retira, gentilmente, de seu rosto. Seus olhos já não estão a altura dos meus, isso porquê ele inclina seu corpo lentamente, em direção ao chão. Em direção ao meu colo, sendo mais exata. Até que sua cabeça deita sobre minha coxa, ele a agarra como se fosse um travesseiro e encolhe as pernas como se estivesse deitado na cama mais confortável do mundo.

Entrelaço meus dedos entre os fios de sua cabeça e contenho a vontade de perguntar o que houve. Naquela noite ele apenas deitou minha cabeça em seu ombro, neste mesmo lugar, encostados neste mesmo carro, e me deixou chorar, frustrada, como uma criança. Sei que é disso que ele precisa, no momento.

Encosto minha cabeça na porta do carro e observo a lua, enquanto escuto o seu baixo fungar e seu choro reprimido.

...

Quando ele se recompôs, ainda não quis falar sobre o motivo da sua fragilidade. Ele é um homem, apesar de tudo. Deve ferir amargamente o seu ego ter que chorar daquela forma na frente de uma garota. Mas ele não demonstrou isso. Levantando-se do meu colo, ele enxugou as lágrimas, sorriu e me convidou para sua casa.

E cá estou eu.

Seu apartamento é reconfortante. E super organizado. Chega a ser surreal. Quadros perfeitamente pregados na parede. Não há poeira nas estantes ou sobre os móveis de madeira. O sofá está forrado. Tudo no seu devido lugar. E a decoração combina extremamente com sua personalidade. A casa inteira tem o seu toque.

Ele se põe atrás de mim e retira o meu sobretudo, jogando-o em cima do sofá.

- Quer comer algo? - Ele pergunta.

- Vai cozinhar para mim?

- Vai me observar cozinhando?

Paro um pouco para pensar. O clima está extremamente flertante agora. Não sei como posso terminar se as coisas prosseguirem assim.

- Vou. - Digo, movendo-me até a sua cozinha.

O vejo parado sorrindo, ainda na porta. Ele não tem medo de demonstrar nada. Seu sorriso é o sorriso mais idiota que já vi em seu rosto. E ele não disfarça. E não parece querer disfarçar.

- Pode entrar, badboy, sinta-se em casa. - Ironizo.

Ele também retira o seu sobretudo e o põe acima do meu. Subindo as mangas da camisa, ele lava as mãos e organiza tudo que vai usar para cozinhar. Sua cozinha é no estilo americano, então senti-me no banco e apoio os braços sobre a pequena parede que divide os cômodos.

- O que vai fazer? - Pergunto.

- Surpresa, baby. - Ele diz, olhando-me de relance.

Mitsuya começa a cortar as verduras. Ele tem habilidade com a faca. Suas mãos se movem rapidamente, cortando as cebolas. Algumas veias ficam expostas em seu antebraço, de acordo com o seu esforço. É impossível não observa-las. Não sabia que achava isso tão atraente, até vê-la nele. Aliás, sua facilidade em ser ágil, o deixa mais atraente que suas veias.

BADBOY?Onde histórias criam vida. Descubra agora