Demônios do passado

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Mitsuya

San Diego.
08 de Abril.

- E como me garante que não estarei investindo em vão?

- Não tenho como garantir. - Respiro fundo. - Mas posso remunerar o dinheiro gasto.

Ele cruza os braços e semicerra os olhos, inclinando a cabeça. Acabo de perceber que minha última frase não foi nem um pouco convincente ou confiante.

Não é algo que se fala quando está tentando convencer um CEO a investir na sua franquia.

- Claro que não vai desperdiçar um dólar sequer. - Digo.

- E como me garante isso?

Ok. Esse puto é igual a porra de uma redação. Se eu não der argumentos concretos, não vou ter um bom resultado.

- Bom, minha loja foi fundada a um ano atrás. - Me levanto da cadeira e mudo de slide. Uma foto da loja em reforma. - Como pode ver, sem recursos exteriores, transformei isso... Nisso daqui. - Ponho um slide da loja atual. - Todas as peças foram, unicamente, feitas por mim. - Mostro-lhe fotos das peças. - E, por trás de cada uma delas, há uma pesquisa aprofundada, feita por mim. Claro, isso foi feito com base no estilo francês, onde a loja se encontra. - Endireito minha gravata. - O lucro bruto dela, mensalmente, é de, aproximadamente, 5.500,00 euros. Com dois meses de inaugurada, recebi um convite para comparecer ao jornal local, com a seguinte enquete: "3 melhores lojas recém inauguradas". Consegui fazer isso numa pequena cidade. Imagina o que conseguirei fazer numa cidade da Califórnia. Então, não estou apenas falando quando digo que não desperdiçará nenhum dólar.

Ele encosta-se na cadeira, cruza as pernas e encara o slide com as fotos das peças no telão. Ele parece reflexivo; observando cada detalhe dos vestidos.

- Compareça aqui na semana que vem. - Ele levanta-se e caminha até estar de frente para mim. - Meus executivos prepararão tudo para fecharmos um contrato.

Ele estende a mão, para um cumprimento, e assim eu faço. Quando ele sai da sala, me deixando sozinho com o aparelho, sinto meu corpo inteiro relaxar.

Finalmente consegui. Depois de seis meses viajando em vão para entrevistas, finalmente vou expandir a minha franquia.
Finalmente.

Desligo o aparelho, removo a tela branca da parede, ponho os papéis de volta na maleta e saio daquela sala.

Verifico o horário em meu relógio. 15:47h.

13 minutos para chegar ao aeroporto e, finalmente, reencontra-la.

...

15 horas dentro de um avião.

Acordo, às seis da manhã, com a aeromoça falando "Já chegamos ao seu destino". Repetitivamente.

Esfrego os olhos e pego a minha mala, que estava acima da cadeira.

Desço do avião, me espreguiçando. Dou passos sonolentos para fora do aeroporto.

Não trago muita coisa na minha mala, então eu a puxo de forma tão leve, que só percebo que não estou mais carregando ela quando uma senhora me avisa. Volto uns três passos e a pego novamente.

Espero alguns minutos por um táxi, quando ele chega, dou ao motorista o endereço do hotel que reservei.

Subo até meu quarto e durmo novamente.

Algumas horas depois, acordo-me, escovo os dentes, tomo banho, lavo o cabelo. Encaro-me no espelho por alguns minutos.

Sinto meu coração acelerar. Começo a ficar nervoso. E se só eu for? E se ela não lembrar mais disso? E se ela só me prometeu isso, porque se sentiu pressionada?

Que tipo de maluco eu sou por esperar tanto uma garota que eu não faço ideia do que sente por mim? Que não faço ideia do que sinto por ela? Bom, não com tanta clareza.

Já fazem cinco anos.

Não temos muitas lembranças juntos, ao ponto de eu ama-la. Mas temos o suficiente para não me permitir esquecê-la.

Abro a torneira e molho o rosto. Não tenho mais tempo a perder.

Escolho uma roupa casual. Uma calça social preta, uma camisa de gola alta branca e um sobretudo preto. Ok, talvez não tanto casual. Mas, porra, se ela tiver pensando em me rejeitar, quero que ela ao menos pense duas vezes, por eu ser lindo e estiloso.

Respiro fundo antes de abrir a porta. Encaro a maçaneta. Espero que ela também se lembre.

...

"Me encontre nesta mesma data. Naquela ponte. Daqui a um ano."

E aqui estou eu.

Mas ela... Ela não tá aqui.

Três minutos e nada dela.

Ok. Relaxa, Mitsuya.

Apoio os braços na ponte e observo o pôr do sol.

Lembro da foto que ela tirou de mim. Exatamente neste lugar.

Não pode ser unilateral.

- Esperando uma garota? - Diz uma voz masculina.

Olho em direção ao falante e vejo uma figura loira de óculos. Um pouco familiar, eu diria.

- Sim. - Digo, ignorando a sua aparência.

Bom, isso é uma ponte numa praça pública, qualquer um pode vir aqui. Eu não deveria pensar o pior, não é?

O fato do Kisaki estar aqui, só pode ser coincidência, certo?

- Essa garota?

Esfrego as mãos no rosto antes de ver a fotografia que ele ergueu.

- O que você quer, Kisaki? - Pergunto, impaciente.

Tomo o celular de sua mão.

- Por que diabos tem uma foto dela?

- Achou que você foi o único que ela transou? - Ele sorri, enterrando as mãos nos bolsos.

Desvio o olhar, suspirando.

Obrigado, pai, por me fazer entrar numa gangue aos 14 anos. Por mais que eu tente me livrar dessa parte da minha vida, esse passado sempre acaba voltando.

E dessa vez, o demônio veio em pessoa para me levar de volta para aquela época.

- Quanto mais rápido acabarmos com isso, melhor para nós dois, certo? - Cruzo os braços. - Me diz o que quer.

- É o nosso capitão. - Um sorriso cresce em seu rosto. - É hora do reencontro, líder da segunda divisão.

...

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