Troca justa

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Três dias após o retorno do Mitsuya.

S/n

"Ele não me reconheceu". Essa frase continua martelando na minha mente. Ando meio desligada ultimamente. "Avoada", segundo Breno.

A verdade é que estou pensando demais. Por que o destino fez-nos reencontrarmos novamente, se ele sequer lembra de mim?

Estou jogada na cama. Quando finalmente decido levantar-me, não vejo Breno ao meu lado. Primeiramente achei que ele, talvez, tenha acordado antes de mim. Logo em seguida lembro que, de repente, ele decidiu que precisava fazer uma viagem de volta para Londres.

Ele não me disse o porquê, mas o mais estranho é que eu não paguei nada. E ele está desempregado.

Vou até a cozinha e como algumas torradas da noite passada, quando ouço a campainha tocar.

Não tenho amigos aqui, então provavelmente deve ser algum funcionário insistindo em fazer o serviço de quarto. Ignoro. Mas a campainha não para, então vou até ela.

Ao abri-la, vejo um senhor, elegante demais para ser um funcionário.

- Senhorita S/n, estou certo?

- Sim. - Respondo, hesitante.

- Sou Hoshiro Takashi. Pai de Mitsuya Takashi. - Ele estende a mão para comprimentar-me. - É um prazer conhecer a mulher que estragou a relação que tinha com meu filho.

Ele força um sorriso. Eu engulo em seco.

Não o cumprimento. Estou inerte nas milhões de possibilidades de isso ser uma mentira. Uma armadilha. Não parece ser real, até porque, qual motivo trouxe ele à minha porta?

- Não tenho contato com seu filho a quatro anos. - Tento fechar a porta.

Eu só queria sair daquela situação embaraçosa e confusa. Comer minhas torradas muchas e voltar a procrastinar.

Tudo isso é impedido quando o senhor a minha frente decide segurar a porta.

- Também não tenho contato com ele a quatro anos.

- Nossa, que coincidência. - Finjo entusiasmo. - Agora pode sair da minha porta, por favor?

- Não. - Ele mexe em sua gravata. - Preciso da sua ajuda. Mas, não se preocupe, você será recompensada.

- Não estou interessada no seu drama familiar. - Tento fechar a porta novamente.

Ele a segura. Novamente.

- Acredito que deve ter interesse em seu drama familiar.

Arqueio a sombrancelha, o encarando. Tentando entender a sua visita. Estudando o cinismo na sua cara. E além de tudo, vendo o quão desesperado ele está.

- A sua mãe. Sei onde ela está.

- Não estou procurando por ela. Não me importo com aquela mulher.

- Você não conhece a história. Peço que me escute, por favor.

Penso por alguns segundos. Espero, profundamente, que ele não seja um assassino em série.

- Me espere no restaurante em frente ao hotel. Desço em quinze minutos.

Ele concorda e vai embora.

Eu fecho a porta e passo os próximos dez minutos processando tudo.

Passo a manhã lamentando meu drama mal resolvido adolescente e o universo me traz um pai carente? Sério?

Ok. Decido me arrumar. Ponho uma calça jeans e uma camiseta personalizada. Talvez não esteja arrumada. Mas é melhor assim. Ele pode ser um tarado também. Porém, ele não pode fazer nada em público.

Eu acho.

Saio do hotel. Entro no restaurante. Avisto ele. Vou até ele. Sento-me a sua frente e espero ele começar a se explicar.

- Sou toda ouvidos, sr. Hoshiro.

- Sua mãe é uma escrava sexual. - Ele fala num tom banal.

Arregalo os olhos. Mais do que deveria. Respiro fundo. Olho ao redor. Baixo a cabeça. Tento processar, mas sinto uma carga cair sobre mim. Uma bem pesada.

Ele não é nem um pouco delicado com as palavras.

Enquanto eu engulo esta informação, ele me olha, paciente.

- Me dê motivos para acreditar.

Ele põe a maleta que carregava consigo sobre a mesa. Abre-a e tira um papel de lá.

Ele me entrega o papel.

Há uma foto 3×4 dela no topo do papel. Tudo a seguir são informções sobre ela. Mas o que está escrito abaixo é o foco daquele documento.

É um comprovante de compra.

- Comprou a minha mãe? - Pergunto, exasperada.

- Sim. E posso liberta-la. Posso fazer o que quiser com ela. - Ele me mostra seu celular.

As imagens estão ligadas a uma câmera, em um quarto. E ela está lá.

- Só preciso que se aproxime do meu filho novamente e o faça me encontrar. - Ele pega o papel de volta. - Pode resolver seu drama familiar. Eu resolverei o meu.

- Um encontro com seu filho por um encontro com a minha mãe. Justo, eu diria.

- Um encontro e a liberdade da sua mãe.

Respiro fundo.

Não sei que tipo de laço maternal me faz tomar esta estúpida decisão, mas...

- Quanto tempo eu tenho?

- Um mês.

...

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