Reino de Vatten

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Chegando lá, ele chamou três mulheres, lhes disse que eu serviria somente a ele e a mais ninguém, exceto o rei, quando eu fosse solicitada pelo mesmo, senão estava proibida de ajudar ou servir outros além dele. Mandou que me alojassem e então disse que iria falar com seu pai, o rei.

Assim que ele virou as costas, fui meio que maltratada pelas mulheres. Elas me insultaram e me disseram que eu não era bem vinda ali.

Pedi onde que eu poderia dormir, e uma delas, riu e apontou para fora, disse que eu deveria dormir lá fora, que ali dentro do castelo não havia espaço para mim, e não me deixaram nem entrar no corredor que dava para o dormitório dos funcionários.

Fui para fora então, andei um pouco e encontrei um canto e me ajeitei ao lado do estábulo, passei a noite ali.

Quando era cedo, e o sol começou a raiar, ouvi um senhor me chamando.

- Ei menina, menina, você está bem? Porque dormiu ai? – o senhor me tocou no ombro com delicadeza para me acordar.

- Desculpe, não me deixaram dormir no castelo, sou a nova serva do príncipe. Não consegui encontrar outro lugar para dormir, pois já estava muito tarde.

- Aquelas desgraçadas, como podem fazer isso! Você é só uma criança! Venha, vou te mostrar um lugar, onde poderá ficar provisoriamente, até que você consiga outro, pode ficar aqui. – Ele me mostrou uma porta e então a abriu.

- Aí pelo menos ninguém irá te perturbar, o cavalo que ficava aí morreu de velho, e acho que é mais seguro do que ali fora, dentro do pequeno armário tem cobertores, são velhos, mas pode lavar eles e se cobrir. Arrume os fenos ali, e forme uma cama para você, se limpar aqui, poderá dormir sem preocupações, poderá fechar a porta e ninguém saberá que você está dormindo aqui dentro, mas tome cuidado, como já pode reparar, existem muitas pessoas más aqui. Tem água ali do lado de fora, pode pegar, é limpa, caso precise de mais alguma coisa, que esteja a meu alcance, é só me procurar, ainda é cedo, descanse um pouco e depois vá fazer suas tarefas. – O senhor falou e ia saindo.

- Qual seu nome senhor? – Perguntei.

- Estevão, e o seu? – Ele perguntou.

- O meu é Mali, me considere sua nova amiga, Estevão, o que precisar é só me chamar. – Falei e ele sorriu e acenou com a cabeça e então saiu.

Comecei a varrer com uma vassoura improvisada, ajeitei os fenos, transformei os blocos de feno em uma cama, fui até onde havia agua e lavei os cobertores que o senhor falou, os deixei secando em uma cerca atrás do estábulo, se alguém os visse não saberia que eram para mim. Me lavei e então fui para a cozinha do castelo.

Me apresentei a uma das moças, que estava na cozinha, e ela me disse onde tinham as panelas, alimentos, vinhos, jarros, talheres, copos e pratos, então comecei a preparar o desjejum do príncipe. Quando ia subindo com a bandeja, nas escadas, para levar até o quarto do príncipe, veio a mulher que havia me jogado para fora do castelo, e me empurrou com a bandeja, escada a baixo, me esfolei toda, cortei próximo ao pulso, levantei meio desajeitada, enquanto a mulher passou por mim, rindo do que havia feito comigo.

Juntei os pedaços da louça e voltei para a cozinha, estava engolindo o choro, tinha vontade de sair correndo dali. Na cozinha arrumei outra bandeja, e subi novamente a escada cuidando para não encontrar a mulher, até que achei o quarto do príncipe.

- Vossa Alteza, com licença, vim lhe trazer seu desjejum. – Falei abrindo as cortinas, ele estava só de calças.

Levantou com bastante preguiça, foi e lavou o rosto, e então se sentou e começou a tomar o desjejum.

- Você se machucou? Seu pulso está sangrando. – Ele foi até uma cômoda e pegou um lenço e então o colocou em volta do meu pulso.

- Não foi nada, cai na escada e acabei me cortando na louça, mas não foi nada sério. Não se preocupe. – Falei tímida com ele.

- Sente e coma um pouco, você trouxe bastante comida, coma! – Ele falou e levantou, foi até a porta e a fechou por dentro.

Voltou, sentou e me serviu.

- Desculpe, é que fica estranho, um príncipe servindo sua serva! Ainda mais eu, que sou uma inútil que não sabe nem mesmo quem é.

- Claro que não, você não é inútil, e também gosto de você, você me salvou, irei te ensinar e você também irá me ensinar, quero aprender a lutar como você e quero aprender Latim e quantas mais línguas você souber. Mas terá que ser nosso segredo, pois ninguém pode saber que é você que está me ensinando, nosso reino ainda é machista e preconceituoso quanto as mulheres. Na verdade, antes de te conhecer, antes de ter salvado minha vida eu também era. Depois que te conheci, percebi que você é a pessoa mais inteligente e sábia que já conheci. Você me ensinaria? A lutar e a falar latim? – Sebastian falou gentil comigo.

- Achei que já havia esquecido daquele dia, mas sim, eu te ensino sim, tudo o que eu souber, e quiser aprender, eu o ensinarei. Mas já antecipo que sou exigente e não lhe darei moleza. – Falei rindo.

Sebastian também riu e começou a comer. Fiquei observando o seu jeito e comecei a gargalhar, ele parou e ficou me olhando sem entender.

- O senhor é um príncipe e come desse jeito? Ou é porque está na presença da sua humilde serva?

- O que tem de errado com o jeito que como? – Ele falou sério me olhando com espanto.

- O senhor nunca estudou etiqueta? Ou como um príncipe deve se portar? Se quiser eu lhe ensinarei também. O senhor será rei um dia e deve se portar como tal, deve ser um exemplo de pessoa, deve ser admirado, e deve ter bons modos. A primeira coisa que faremos, será ir a biblioteca do castelo, para pegarmos livros para o senhor estudar, o senhor como futuro rei, deverá ser o homem mais sábio do reino, então o ajudarei a se tornar um rei fabuloso, o senhor se tornará o melhor rei que o mundo já viu! O que acha? O senhor aceita minha ajuda? – Falei entusiasmada.

- Por incrível que pareça, nunca havia parado para pensar nisso, você acha que preciso me preparar e estudar para ser rei? – Sebastian estava pensativo.

- Claro Sebastian! O senhor tem que melhorar o seu reino, expandir, aumentar as riquezas, melhorar a infraestrutura, aumentar a produtividade, já estou começando a ter várias ideias, se o senhor me permitir ajuda-lo, iremos reconstruir este reino inteiro e ele será prospero e grandioso!

- Do jeito que você fala, até parece que irá mudar o mundo! Não sei como poderei mudar muita coisa, pois nosso reino é muito pobre, as colheitas estão cada vez piores, a maioria do povo é analfabeto, não quero desanima-la, mas não sei se terei um reino para governar no futuro! – Sebastian falou desanimado.

- Que tal fazer um teste? Mas terá que fazer exatamente tudo o que eu falar para o senhor fazer! E se em um mês, não melhorar em nada, então não serei mais sua serva, e irei retornar para a floresta, o que acha Vossa Malvadeza?

- Tudo bem, espera, Vossa Malvadeza? – ele falou rindo. – Irei fazer tudo o que me falar, mas terá que ser nosso segredo, pois se meu pai souber, não sei o que ele fará! Agora termine de comer e então iremos a biblioteca.

- Sim, Vossa Malvadeza!

- Só você mesma, para me fazer rir, com um apelido desses! Aposto que as criadas dizem que sou malvado, mas eu sou apenas exigente, e elas são preguiçosas e relaxadas. Espero que você não fique assim também, gosto do seu jeito, inquieta, disposta e com uma alegria, que parece contagiante. Pelo jeito terminou sua refeição, então vamos a biblioteca. – Falou colocando seu manto.

Recolhi tudo, deixei organizado e então o segui.

Mali, a criada!Onde histórias criam vida. Descubra agora