Aos poucos, a clareza da promessa de um novo dia pairava pelas frestas da cortina. Com um brilho dourado caloroso, seus primeiros raios de sol dançavam pelo cômodo; paredes, móveis, roupas espalhadas pelo chão, emaranhado de lençóis, o cabelo loiro caido delicadamente sobre o travesseiro...
Quando a luz atinge seus olhos, Yeosang desperta com um bocejo preguiçoso. O jovem pisca várias vezes até se ajustar à luz matinal e, posteriormente, quando a mente finalmente parece acompanhar o despertar de seu corpo, à imagem de Seonghwa dormindo profundamente ao seu lado, um reflexo da mais perfeita serenidade.
Yeosang imediatamente prendeu a respiração, uma tentativa de prender o instante entre os dedos - como uma borboleta - antes que, como sempre acontecia em seus sonhos, o momento nunca mais fosse seu.
Mas dessa vez não parecia um sonho. Não. Ele conseguia sentir o calor suave do outro corpo colado ao dele, a nudez, o perfume acolhedor, a textura macia do cabelo negro quando esticou os dedos e o afagou...
E como se isso desencadeasse uma memória involuntária, a cena da noite anterior surgiu em sua mente; o brilho de antecipação nos olhos de Seonghwa. O encaixe certeiro do beijo. A delicada e curiosa troca de carícias. A fricção dos tecidos. O eco dos desejos que compartilharam em silêncio. Os corpos se movendo juntos em ritmo cadenciado. O tremor suave de seus corpos. As promessas. Os dois completamente perdidos um no outro, compartilhando um amor tão intenso que parecia transbordar a cada batida de seus corações.
Yeosang sentiu uma onda de ternura invadir todo seu ser. Não era um sonho. Nem em suas fantasias mais lúcidas ele seria capaz de imaginar sentir algo assim.
"Me deixe cuidar de você, Kang Yeosang..."
Foi tudo real. E saber disso fez com que uma sensação de alegria e gratidão enchesse seu coração, mas logo sentiu uma pontada de culpa; será que ele havia feito coisas boas o suficiente para merecer essa felicidade? Ele realmente era digno de alguma coisa? Ele podia?
Na medida em que a alegria e a gratidão enchiam seu coração, ele não conseguia deixar de se questionar sobre sua própria capacidade de merecer essa felicidade e a responsabilidade que agora recai sobre ele. Enquanto olhava para Seonghwa, o brilho dourado da claridade iluminando o rosto do jovem, ele se perguntou se era a pessoa certa para ensiná-lo a arte de ser verdadeiramente amado.
A vida lhe ensinou muitas lições, e ele cresceu a partir de suas próprias experiências, mas a insegurança, a dúvida, persistia. Será que ele tinha as qualidades para guiar alguém no caminho do amor?
Seonghwa era seu paciente. Teria ele influenciado algum papel na trajetória de Seonghwa até o presente momento? Seria ele, de alguma forma, responsável por este jovem estar agora, deitado nu ao seu lado? O quanto ele se meteu na antiga relação de Seonghwa e sua ex-esposa para tê-lo aqui agora?
A culpa o levou a pensar em todas as ações passadas, os momentos de ajuda e compreensão que ele ofereceu a Seonghwa. Lembrou-se das conversas, dos conselhos, e do apoio que havia compartilhado. Tinha sido um guia, um amigo e, de certa forma, uma figura exemplar para Seonghwa.
Ele se lembrou das vezes em que incentivou Seonghwa a superar desafios, a enfrentar seus medos e a continuar acreditando no amor, mesmo quando ele mesmo não acreditava. Ele havia investido tempo e esforço e, nesse processo, testemunhou a incrível transformação do jovem diante de seus olhos. Assistiu o nascer de um novo homem.
Enquanto observava Seonghwa dormindo ao seu lado, ele percebeu que, sim, ele havia desempenhado um papel importante na vida do jovem. Sua influência, suas palavras de encorajamento e amor foram ajudadas a moldar o homem que Seonghwa estava se tornando.
Mas não sabia se estava preparado para encarar a culpa, toda a manipulação que ele fez para esse presente momento acontecer. Ele não teria feito nem metade das coisas que fez por Seonghwa, seu paciente, se não estivesse apaixonado por ele desde o início. Isto é, se é que fez por Seonghwa, e não por mero descontrole próprio.
E foi o abrir de olhos do jovem que fez a insegurança de Yeosang se dissipar como nuvens. Agora distantes, muito distantes...
Com um sorriso tímido nos lábios, Seonghwa escondeu o rosto entre o travesseiro e o rosto de Yeosang, sem conseguir se acostumar com a claridade do quarto. Seus cílios fazem cócegas nas bochechas do loiro como se fossem as delicadas asas de uma borboleta.
Seonghwa suspira profundamente, percebendo que o cheiro de Yeosang está em tudo. Queria poder penetrar nesse cheiro, se tornar o próprio cheiro, afogar os pulmões...
- Bom dia! - é Seonghwa quem murmura, tímido.
Yeosang sorri pequeno, sentindo-se encantado pela doçura da timidez do outro.
- Bom dia! - ele responde com uma voz grave e arrastada, os lábios bem próximos do ouvido de Seonghwa devido ao rosto meio enterrado no travesseiro, causando-o arrepios e questionamentos internos se seria capaz de algum dia acostumar-se a isso.
- Você costuma acordar envergonhado assim sempre? - Yeosang provoca, acariciando as costas de Seonghwa com a ponta dos dedos.
- Bem, acho que isso depende do motivo, não é? - Seonghwa murmurou, enquanto as carícias de Yeosang provocavam arrepios pelo seu corpo. Ele levantou o rosto e se aconchegou mais perto, seus olhos encontrando os de Yeosang com um brilho travesso. - Afinal, como eu poderia não acordar envergonhado quando você me fez perder a cabeça daquela maneira?
Yeosang riu, seus olhos cintilando com desejo, e Seonghwa pôde sentir o calor da noite anterior retornando quando sentiu o deslizar daquelas mesmas mãos descer pelas suas costas, puxando-o para mais perto.
- Então, talvez eu deva continuar a fazer isso com mais frequência. - Yeosang sussurrou, seus lábios quase roçando os de Seonghwa.
- Eu estava tentando ser o cavaleiro ontem à noite, meu anjo. Mas você me faz sentir coisas que nunca imaginei antes... - Seonghwa confessou, contornando o desenho dos lábios de Yeosang com o polegar.
- Eu só comecei uma preliminar sobre o que você pode sentir - o loiro respondeu, mordiscando o dedo de Seonghwa, que suspirou com desejo.
Os olhares cúmplices deles se encontraram e disseram mais do que palavras poderiam expressar; transmitiram promessas, fazendo ambos tremerem de antecipação enquanto seus lábios se encontravam em um beijo apaixonado.
A timidez de Seonghwa desapareceu e, assim, sob a luz da manhã o dia começou do jeito que terminaram a noite; livres, unidos e em constante movimento, como o suave bater das asas de uma borboleta, que agora voa por esse sentimento novo e delicado que nunca imaginariam alcançar.
...
Acharam que eu não iria voltar? ~ Dodusca
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ame-me, Sou Seu | Woosan & Seongsang
FanfictionOs relacionamentos amorosos não são feitos somente de amor abundante, carinho e alegria. Assim como a vida, eles também são vítimas de altos e baixos causados por turbulências como a rotina, o trabalho, os compromissos, o cansaço cotidiano e até mes...