Como Dominar Um Cretino

Capítulo 16

• Fernando •

E por que mesmo estou tão agoniado para puxar Maiara dali e explicar aquele momento com Mikelly? Porque a minha donzela-megera entendeu tudo errado e posso ver as labaredas do inferno que saem pelo seu corpo de ódio profundo ao me ver trocando um inocente selinho e um abraço de reconciliação com Mikelly!

Porra, encontrar Mikelly depois de doze anos é desenterrar um garoto que foi varrido para debaixo do tapete iludido com a possibilidade de construir uma relação como a dos seus pais. Uma visão romântica e simplista, muito distante da realidade de um casamento que não vive só de amor, mas que precisa tratar o desgaste e os desencontros de uma rotina muitas vezes abandonada e preterida pela prioridade de tocar os negócios da Z&M.

Mas hoje a única coisa que faz sentido é agradecer a Mikelly por ter sido a voz da razão naquela época em que éramos jovens e um casamento não poderia ser uma atitude mais inocente naquele momento. Simplesmente não tenho outra atitude senão colocar um beijo simples em seus lábios e trocar um abraço sincero. Um carinho sem nenhuma intenção, apenas resultado automático da nossa conversa adiada por tantos anos, iniciada claro por ela. Eu mesmo não sabia como agir, assim que vi a bela mulher saindo do carro e subindo a escadaria do casarão em minha direção, com o sorriso mais lindo do que nunca e me puxando para a um abraço caloroso. Devo admitir que rever Mikelly me despertou algo que achei que estivesse morto e enterrado no meu peito. Passei anos da minha vida sem nenhum contato mais próximo e íntimo com a única mulher que amei e imaginei que seria minha para a vida toda, um garoto inocente que aos vinte anos acreditou no amor com a certeza que colocar o anel de compromisso em seu dedo seria o símbolo do início da nossa vida juntos.

Mikelly: Fernando! Que saudade eu estava de você! — alguns minutos de silêncio que pareceram horas para que Mikelly começasse a conversa adiada por tantos anos ali mesmo no topo daquela escada! — Quero que saiba que pensei em nós dois muitas vezes durante esses anos! Mas você há de convir que a gente não tinha vivido absolutamente nada ainda! Eu queria conhecer o mundo, ter muitas aventuras, viver outros amores e desilusões também, me divertir, aprender e crescer! Agora quero saber de você! Do seu tempo em Nova York, me conte tudo!

Fernando: Bom, pra começo de conversa eu nunca pensei que ia agradecer uma mulher por ter me dado um pé na bunda antes, mas aqui estou eu. Vivi plenamente as aventuras e oportunidades do mundo que eu achava que faria de mochilão, mas acabei fazendo de jatinho e me hospedando em hotéis de luxo e sempre acompanhado de mulheres lindas. Não se preocupe, eu mantive seu padrão! Fora isso, me transformei no estereótipo perfeito de workaholic! Que tal? Você não sabe como senti sua falta, Mikelly! Achei que viria para o enterro da vovó.

Mikelly: Eu também, Fernando! Senti tanto, tanto a sua falta. Mas também de Hugo, Cadu e Tati. Até hoje não sei como consegui ficar tanto tempo longe de vocês. Foi muito difícil não vir, mas eu tinha um desfile, uma oportunidade de ouro e que me abriu tantas oportunidades depois. Foi a decisão mais acertada não ter vindo e eu tenho certeza de que a avó Olívia ia puxar meu pé pela eternidade se eu tivesse abandonado tudo para vir. Eu realmente sinto muito por não estar aqui com a minha família nesse momento tão importante.

Vejo logo atrás de nós, duas mulheres lindas e elegantes que aguardam pacientemente o fim da nossa conversa e com um sorriso agradecem por esse recomeço sincero.

Fernando: Eu não sei realmente como os anos não passam para a senhora. Meu pai que não abra o olho para a gata que tem ao seu lado.

Helena: Ele que não fique esperto mesmo! Filomena levou uma cantada no aeroporto hoje, daquelas que fariam qualquer casamento desandar! — minha Tia Helena entrega logo o que aconteceu sob o olhar fuzilante de minha mãe. Certamente era um segredo entre as duas, mas é claro que minha tia não ia perder a oportunidade de alfinetar o irmão.