Como Dominar Um Cretino

Capítulo 45

• Maiara •

Finalmente entro no sobrado, solto meu corpo desprovido do frenesi causado pela adrenalina de dirigir o Porsche em alta velocidade. Agora ele está mais para dilacerado e absorvido pelas lágrimas que correm soltas acompanhadas de um soluçar lânguido e sofrido. Giro meu corpo buscando a pequena bolsa de festa largada ao meu lado e procuro meu celular. — 3h da manhã — abro o WhatsApp seleciono o contato do Hugo.

Maiara: volto hoje para Goiânia. Te ligo quando chegar.

Não demora muito tempo vejo a marca acima da minha mensagem "...digitando".

Hugo: Passo aí às 9h. Tente dormir um pouco.

Eu não preciso explicar nada para Hugo, ele sabe, claro que sabe! Com toda a certeza naquele momento em que os dois estavam no sofá da casa dos seus pais, "eu" era o assunto. Eu não esperava outra atitude do meu protetor e melhor amigo e saber que amanhã eu teria os seus braços reconfortantes e seu ombro amigo me fez finalmente adormecer.

O cheiro de café transborda pelo ar, acordando meu corpo ainda dolorido pelo sexo intenso da escada de sábado à noite e o contato com o ferro agora parece que foi de fato mais intenso do que imaginei. Passo a mão no colchão ao meu lado e está vazio. Na verdade, está do mesmo jeito de quando deitei e sei que ele não dormiu aqui. Levanto com calma, tomo uma chuveirada rápida e aproveito para juntar minhas coisas que estão no banheiro. Algumas estão aqui desde a última viagem e agora eu cato todos os produtos e começo a organizar na mala. Não trouxe tanta roupa, então em pouco tempo a mala está pronta. Visto uma calça jeans, camiseta branca, jaqueta e tênis. Faço um rabo de cavalo alto, junto tudo e desço de uma vez sem saber se vou encontrá-lo ou não na cozinha.

Meu coração bate acelerado ao vê-lo atrás do balcão pegando duas xícaras de café. O sorriso claro e fácil que sempre recebo quando o vejo na cozinha não está ali, seus olhos estão fixos na mala vermelha ao meu lado e ele apenas estende a xícara de café no balcão

Maiara: Obrigada por isso. — digo simplesmente. — Bom dia. Desculpe pelo tapa de ontem.

Fernando: Eu mereci. Como você se sente? — não sei como responder sua pergunta, nesse momento ela tem tantas respostas e possibilidades. Que tal a mais real de todas? Uma merda. Mas escolho o caminho mais fácil.

Maiara: Indo. — sento na banqueta alta e apoio minha bolsa e jaqueta na outra ao meu lado, ele caminha em minha direção com passos lentos, talvez sentindo minhas reações e analisando se pode ou não se aproximar.

Meu coração parece saltar pela boca, meus olhos traidores se enchem de lágrimas, ele puxa meu queixo até o seu rosto, se inclina e pousa um beijo singelo nos meus lábios. Encosto minha testa no seu peito e enrosco minhas mãos na sua cintura enquanto ele afaga meu pescoço. É como se uma faca entrasse de uma vez no meu peito e a pontada aguda me dilacera, as lágrimas rolam sem freio e sem possibilidade alguma de que eu consiga impedir. Como se o silêncio dissesse tudo e o sentimento que me toma dessa vez não é nada bom. Eu continuo esperando ansiosa, na verdade desespero descreve melhor o que sinto na expectativa de que ele diga as palavras que tanto espero. "Eu preciso apenas e somente de você Maiara, me desculpe por ontem". Mas nada sai dos seus lábios. Nada. A sua completa incapacidade de me dizer alguma coisa, qualquer palavra me faz balançar a cabeça em um sinal negativo, eu limpo as lágrimas do meu rosto e sou tomada por um sopro de coragem para encarar seu rosto tenso.

Meu celular vibra no momento em que me preparava para iniciar minha despedida, vejo a mensagem de Hugo avisando que está no portão. Tomo mais alguns goles do café e deixo a xícara no balcão, ao mesmo tempo que busco a bolsa, atravesso no peito e passo o casaco sobre meu braço. Com a outra mão eu suspendo a alça da mala vermelha, levanto e encaro mais uma vez seus olhos turvos e que acompanham todos os meus movimentos ainda em silêncio. Dou as costas e caminho até a porta, seguro na maçaneta pronta para apertar e puxar em minha direção.