Como Dominar Um Cretino

Capítulo 44

• Maiara •

Maiara: Preciso beber água, já volto. — aviso do quarto já próxima da escada, palco do sexo mais intenso e devastador que fiz na vida.

Não foi ruim, longe disso. Foi excitante, gostoso pra caramba, senti um prazer diferente de tudo que já vivi. Eu posso ser qualquer coisa que ele desejar desde que seja dentro de quatro paredes e que eu tenha certeza de que sou apenas eu, e sempre, apenas eu.

Sim, eu deveria ter dito a palavra de segurança antes, mas eu queria testar seu limite, saber até onde ele chegaria mesmo ultrapassando o meu próprio e, principalmente, eu queria encontrar a resposta para a pergunta que martela na minha mente desde a fazenda. Ele será capaz ou mesmo deseja manter um relacionamento monogâmico comigo? Fernando enfim se mostrou livre de qualquer máscara e agora eu conheço sua versão forte, controladora e até dominadora. Não era necessário um quarto vermelho da dor com camas preparadas com grilhões e suportes ou mil acessórios para técnicas de BDSM como nos filmes ou nos romances hot que leio. Um simples par de algemas, uma gravata e uma escada. Essa foi a cena que ele escolheu para mostrar o que gosta de fazer, na verdade o que ele quer continuar fazendo e não apenas comigo.

Depois de hoje penso como fui inocente e simplória ao imaginar os jogos sexuais de que tanto ouvi falar, entendendo que vão muito além de um simples fetiche de ser observado ou observar, de participar de ménages ou surubas, tudo isso me parece agora tão simples, quanto o sexo "baunilha" de um casal. Agora eu tenho plena consciência de que uma escolha definitiva paira sobre nós e que vai muito além de um relacionamento à distância.

Um de nós deverá mudar para o outro e eu me pergunto se isso é de fato amar alguém.

Mudar suas convicções, valores e até seu amor-próprio por alguém. Isso é amar?

Não. Amar é respeitar a individualidade do outro, é confiar e respeitar suas decisões.

E é por me sentir assim, completamente tomada pelo amor que sinto por Fernando Zorzanello, que não há outra decisão possível de ser feita hoje e eu tenho plena certeza de que essa decisão deverá partir de mim, porque fica cada vez mais nítido e claro de que ele não tem a menor intenção de abandonar esse estilo de vida de sexo livre e casual, por maior que seja o seu amor, eu nunca serei o bastante, nunca suficiente.

Mas o melhor agora é tentar dormir e deixar para falar sobre isso e ter nossa conversa definitiva amanhã de manhã. O meu coração já está apertado e dolorido, mas ainda assim como todo bom e velho coração apaixonado, é bobo e tão iludido a ponto de manter e alimentar um pequeno fio de esperança de ser surpreendido. Quero desesperadamente acreditar que não serei eu a pessoa tomada por esse sentimento enorme que transborda a abrir mão, o meu desejo mais puro é ouvir que sou suficiente para ele do mesmo jeito que ele é para mim. Pensar em Fernando com várias e diferentes mulheres fazendo esse tipo de sexo que fizemos agora é sofrido demais. Não sou forte o bastante para aceitar, na verdade é uma decisão muito maior do que "aceitar ou não", eu não preciso me submeter, porque fazer isso seria violar a mim mesma e eu não posso agir assim comigo.

O copo com água está em cima da bancada me encarando há algum tempo do mesmo jeito, mas agora a imagem está turva e nebulosa e percebo minhas lágrimas descendo sem controle me fazendo compreender por que a água de repente ficou cinza e desfocada. Não posso chorar agora nem permitir que esse sentimento de perda, que me dilacera e rasga minhas entranhas, me consuma a ponto de desistir de tudo, simplesmente fechar os olhos para tudo isso e apenas pensar em Fernando. Ele não é apenas o homem do estacionamento, o motorista da fazenda, o dono de uma égua chamada Salsa, o primo cretino e ordinário, o Arcanjo Gabriel, ele é também Sr. Zorzanello, o homem possessivo e que gosta de foder outras mulheres e satisfazer seu desejo sexual controlando e possuindo quantas ele quiser e da forma que determinar.