Capítulo 31

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• Maiara •

Despeço de Tati agradecendo pelo "retiro espiritual" na fazenda e em seguida me lanço nos braços já cheios de saudade de Hugo. Volto minha atenção para Fernando avisando que já me despedi de todo mundo e que podemos ir. As janelas estão abertas e ele dirige com uma das mãos em minha coxa. Seguimos sem falar muito apreciando a estrada ouvindo agora "You Give me Something", de James Morrison, uma das lindas músicas que nos acompanharam nessas duas semanas e com certeza toda vez que escutar uma delas, lembrarei do meu "retiro carnal".

Chegamos no aeroporto. Sinto um vazio infinito na boca do estômago. As desalmadas das borboletas abandonaram meu corpo e não deixaram uma mísera mariposa como consolo. Já está quase na hora do voo, tenho pouco tempo para despachar a mala e seguir para o embarque. Desço do carro enquanto ele tira a mala do banco de trás e me entrega na calçada.

Maiara: De volta para onde começamos? — encosto minha testa no seu peito, com a nítida sensação de que meu coração vai sair pela boca. Não achei que seria tão difícil. Afasto meu rosto o suficiente apenas para levantar e pousar meu olhar no dele.

Fernando: É só um "até breve", linda! — ele sorri enquanto passa a mão carinhosamente no meu rosto.

Maiara: Claro! Até sexta. Cinco dias. — tento dar meu melhor sorriso para esse momento. Seu corpo está apoiado na lateral do carro e suas mãos estão em minha cintura. — Preciso ir.

Tomo coragem para dizer o que precisa ser dito, demorando o maior tempo possível porque simplesmente não quero ir. Mas as suas mãos permanecem no mesmo lugar e seus olhos não se desviam dos meus.

Maiara: Então... se você não me soltar, eu não consigo ir.

Fernando: E se eu te sequestrar?

Maiara: Você não está facilitando esse "até breve". — vou soltando sua mão devagar e pego a mala para ir.

Porque meu coração bate tão forte? É só até sexta. Meu novo mantra. Ele puxa rápido minha mão, me abraça apertado e me rouba um último beijo.

Fernando: Boa viagem, mande mensagem quando chegar em casa, está bem? — faço que sim com a cabeça, trocamos um selinho e saio sem olhar para trás. Não posso.

Sigo rápido para o balcão da TAM e despacho minha mala. Finalmente aqui estou, na segurança da poltrona do avião. Consegui embarcar! Quem diria que durante meu "retiro espiritual" eu seria arrebatada desse jeito? Passo os dedos pelos meus lábios me lembrando do seu toque, do seu gosto. Saio dos meus pensamentos quando escuto a famosa voz.

XX: Atenção tripulação, decolagem autorizada. Portas em automático. — fecho os olhos, abraço minha blusa de tricô e adormeço.

Acordo com a aeromoça pedindo que retorne minha poltrona para a posição de pouso. Olho pela janela, Goiânia está do jeitinho que deixei, mas quem volta não é a mesma Maiara. O avião aterrissa no horário previsto, pego minha mala e peço um Uber. Logo avisto meu prédio. Enfim, em casa!

São quase 17h quando entro no apartamento me jogando no sofá depois de largar todo o resto em qualquer lugar no meio da sala. Pego o telefone, procuro seu contato para avisar que cheguei bem. Aproveito para mudar o seu nome de contato e para minha surpresa sua mensagem chegou primeiro.

Fernando: Espero que tenha feito uma boa viagem. Até breve, Maiara.

Maiara: Acabei de chegar em casa. Nos falamos quando você puder.

Dou uma geral na casa, tenho a infeliz notícia de que o computador e a televisão da sala estão queimados! Depois de conferir as mensagens do grupo do condomínio, descubro que o prejuízo veio de um pico de energia e que vários moradores estão com eletrônicos danificados. Maravilha! Era só o que me faltava ter que gastar com um computador e uma televisão! Chance zero de comprar os dois agora! Resolvo deixar para resolver o BO da televisão amanhã e ir tomar um banho relaxante para descansar da minha maratona sexual dos últimos quinze dias! Porque sim, estou acabada e chego à conclusão de que preciso de férias das minhas férias!

***

• Fernando •

Volto para a fazenda pensando nesses dias e na transformação que ela provocou em minha vida, sem fazer ideia o quanto isso seria inconcebível há poucos dias atrás. Ela se encantou por Zor, motorista da fazenda, brigou com Fernando e se entregou ao controle possessivo do Sr. Zorzanello. Sorrio pensando que retorno para São Paulo completamente diferente e vou ter que enfrentar o interrogatório da Srta. Agnes.

Vou no quarto buscar minha bagagem e vejo ao lado do computador o estojo com a joia que dei para Maiara. "Guarde para mim. Usarei de novo em São Paulo junto com minhas sandálias e nada mais!" Mas que garota surpreendentemente safada, aos 45 segundos da prorrogação do 2º tempo, ela consegue me deixar abalado lembrando de sua imagem nua usando apenas esses brincos e sua sandália de festa. Caralho Maiara! Você não sabe o que te espera na sexta-feira!

Guardo a caixa na minha pasta e procuro meus pais e minha tia para me despedir. Nos abraçamos e minha mãe quase não me solta dizendo o quanto estava feliz por eu ter deixado Maiara entrar na minha vida. Tati nos espera na varanda e se pendura em meu pescoço como a menina de sempre, desejando boa viagem. Hugo já está à minha espera avisando que Fábio está no heliponto pronto para seguirmos para São Paulo.

Fernando: Excelente. Tenho milhões de mensagens, áudios do Enzo, Agnes e imagino como minha caixa de e-mails não deve estar.

Hugo: Efeito Mai! Aposto que valeu a pena.

Fernando: Com certeza! — respondo sorrindo olhando para o celular.

Hugo: Puta que pariu! Eu achei que morreria sem ver essa sua cara de paspalho filho da puta apaixonado pra cacete!

Fernando: Hugo, seu escroto do caralho... Se eu não estivesse tão feliz, eu te mandava tomar no cu e não encher a porra da minha paciência!

Já estamos quase chegando em São Paulo, passo o voo inteiro verificando minha caixa de e-mail e respondendo as mensagens mais urgentes. Olho no relógio, são quase 16h, acesso seu contato e aproveito para atualizar seus dados, trocando donzela-megera por Maiara. Deixo uma mensagem curta perguntando pela viagem e dizendo um "até breve".

É bom estar em casa! Subo direto para o quarto, deixo a mala no chão e vou tirando a roupa enquanto olho no celular se Maiara já me respondeu. Sei que combinamos de responder apenas quando fosse possível, mas sinto uma aflição esperando que diga logo que chegou e bem. Resolvo tomar logo um banho e debaixo da ducha farta e morna penso em todo o tempo que passei com Maiara. Em quinze dias, ela quebrou paradigmas e mudou regras que valeram por muitos anos da minha vida adulta. Agora uma nova fase do jogo está começando com novas regras e sei que a porra da vantagem é toda dela que tem as cartas nas mãos.

Mal posso esperar pelo próximo lance.

Como Dominar Um CretinoOnde histórias criam vida. Descubra agora