12 | Princesa Cat Bailarina

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O dia dos pais de Catrin foi totalmente o oposto do que Nestha esperava. No melhor dos sentidos possíveis.

Ela conseguiu dormir depois de voltar do apartamento de Cassian, mas evitou pensar no espaço que seu vizinho tinha silenciosamente conquistado em sua vida. Na forma como era tão fácil simplesmente contar as coisas pra ele. Ou como era mais fácil ainda não se sentir arrependida ou compelida a fugir. Nestha não dava abertura para pessoas num geral pela conclusão de que não valia a pena, mas o fato de que nem mesmo se perguntou se deveria ceder a Cassian era algo que ela escolheu conscientemente ignorar. Não queria pensar no quanto era simples estar com ele, conversar com ele, se abrir com ele, beijar ele — mesmo que nunca mais tenha acontecido. Nunca fora fácil com ninguém, nem mesmo com sua melhor amiga. Naquele ponto ela se perguntava se ele não seria a pessoa com mais detalhes sobre ela. Feyre, Rhys, Az... eles sabiam de muita coisa. Mas nunca com aquela complexidade, aquela vulnerabilidade. E Nestha não podia pensar sobre isso. Certamente não podia refletir sobre todas essas coisas e sobre como ele cuidava de Catrin com tanto amor, ou então, em como ele despretensiosamente a distraiu com tanta facilidade somente por aparecer em sua crise — sem camisa, um detalhe que aqueceu suas bochechas e não passou despercebido. Não podia pensar em como isso abalava partes intrínsecas dela. Em todos os sentidos.

Rhysand pegou Catrin bem cedo e levou ela pra piscina — depois de uma promessa de Nestha de que na próxima vez iria junto. E não, ele provavelmente não estava brincando sobre isso — e logo em seguida foram para o parque. Az passou no local juntamente com Gwyneth, o que fomentou ainda mais a alegria da pequena. Eles foram no carrossel tantas vezes que Cat perdeu a conta, e quando chegaram em casa, a criança estava tão exausta que só quis ficar com sua mãe comendo pizza de tomatinhos. Cassian não apareceu, a princípio, mas quando estavam quase terminando de comer, ela entendeu porque: o homem apareceu despretensiosamente dizendo que era hora de eles verem o filme juntos. Se não fosse o bastante, Cassian também levou uma roupa exatamente igual a Barbie bailarina para Catrin, que o fez dançar com ela em absolutamente todas as vezes em que as doze dançavam.

Nestha precisou ignorar isso também.

Mesmo que ver os dois interagindo abalasse seu peito com mais força do que podia aguentar. Mesmo que o misto de alegria e culpa a invadissem a cada giro, a cada risada livre de Catrin, a cada vez que ela percebia o cuidado e devoção do homem pela garotinha. Ela não conseguia se decidir como se sentia a respeito disso, e mais ainda, até que ponto seria moral pensar em Cassian daquela forma. Nestha não era tola, e passou por coisas demais para se sentir confusa sobre emoções. Ela era completamente instalada em sua realidade, mesmo sendo tão ansiosa. Ela sabia que em algum momento precisaria erguer suas barreiras em relação a ele, impor limites. Mas não conseguia, simplesmente não sabia se decidir sobre isso. Não queria ter que pensar nisso.

Nestha estava no estúdio de ballet sozinha na enorme sala que costuma abrigar as bailarinas mirins nos outros dias. Ela costumava fazer aulas com outras garotas, mas em prol do recital, todas estavam concentradas em um salão no andar de cima, incluindo Catrin. Contudo, ela gostava de praticar sozinha, gostava da liberdade de seu corpo em poder executar com a intuição e se expressar através de seus passos. A música tocava livremente — uma de suas sinfonias clássicas cotidianas — enquanto seu corpo se movia pelo espaço. Ela sentia o leve atrito da fina saia nas coxas, concentrava-se na pressão se seus pés na grossa sapatilha de ponta, a forma como a cada giro, seu corpo se condicionava ao equilíbrio imediato a cada segundo. A música sempre fora aquilo pra ela: libertação. Desde quando começou a dançar, ainda quando criança — um milagre divino, em sua cabeça, que seu pai tenha permitido isso — a bailarina usou a dança como uma válvula de escape que a salvou em todos os anos desde que começou. Como uma pessoa que guardava demais pra si, Nestha dançava e dançava tudo aquilo que sentia. Sua dor, raiva, emoções e até mesmo apatia. Uma de suas professoras quando ainda morava com Thomas dizia que a dança de Nestha era uma bela violência. E, mesmo que tendeu a se sentir ofendida, ela conseguia entender o porque.

Honey | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora