02 | Archeron demais.

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Cassian acordou integralmente decidido naquela manhã.

Ele sabia que tinha dois caminhos básicos a seguir: se entregar à forma com que sentia intensamente sua recente perda ou continuar vivendo sua vida tentando deixar para trás toda aquela rotina que teve por tanto tempo.

Era estranha a forma com que ele sentia falta de algo que nunca o fez bem para início de conversa. Sempre estve acostumado com a mesma rotina: acordar ao lado de Lucy, ouvir Lucy falar, tomar café com Lucy, sair para trabalhar com Lucy, almoçar com Lucy.... sendo sincero, ele nunca compreendeu bem como um relacionamento aparentemente saudável poderia ter se tornado um limbo de dependência tão grande. Ou pior, em como tornou-se dependente de alguém que definitivamente não merecia ele. Cassian sabia disso, no fundo ele sabia. Sabia que tinha feito tudo o que pôde para salvar o próprio casamento, que foi o mais passivo dentro do que conseguia ser, que abrira mão até mesmo de si mesmo para tentar manter tudo em ordem. Lucy era tudo que ele conhecia quando se tratava de relacionamentos sérios. Demorou um certo tempo para ter um padrão e entender que tudo aquilo não era certo. Tempo demais.

Por isso, naquela manhã acordou decidido a seguir com um dia de cada vez, e pela primeira vez, sentiu-se livre no própio espaço. Estava pronto para começar sua nova caminhada trabalhando na firma de Devlon e até sentia uma certa alegria sobre isso. Ele já tinha traçado um plano: estender sua carreira profissional, se estabilizar, dedicar todo o tempo livre à sua família e a seu sobrinho.

Ah, ele chorou horrores quando Nyx nasceu, mesmo que não pudesse estar presente. O viu vez ou outra quando Rhys o levava para alguma visita curta, mas tentou aproveitar cada segundo. Vivia uma alegria silenciosa ao ver Rhysand tão feliz com sua esposa e filho, mesmo que sentisse uma inveja completamente saudável e secreta ao vê-lo de longe. O homem sempre prensou que seria o primeiro a ter filhos dentre os três Ilyrians e apesar de estar feliz pelo irmão do meio, sentia que gostaria de ter realizado esse sonho.

Já estava na hora de ir para o escritório quando Cassian verificou, em frente ao espelho, a posição exata com que aquele terno lhe caía. Sentiu-se inteiramente confiante retirando a pasta que estava sob a cômoda e foi em direção à porta, o sentimento do novo o deixando sutilmente otimista. Assim que saiu, assustou-se um pouco com o que viu: ao lado da porta de sua casa havia uma pequena garotinha. O que chamou a atenção, de verdade, fora um coque com pecinhas coloridas e brilhosas, bem no alto da cabeça, exatamente como uma pequena bailarina. O advogado se permitiu uma curta risada ao olhar mais a fundo para ela, que olhava ansiosamente para a rua como se esperasse algo.

A pequena então o olhou rapidamente, como se sentisse uma presença, mas então desviou o olhar de volta para a rua, agora num tom desconfiado. Cassian a observou durante a curta troca de olhares e... a garotinha era simplesmente a cara de Feyre. Os olhos eram mais acinzentados e irritadiços, mas os traços em geral... era quase assustador. Por questões óbvias ele apenas seguiu o caminho e desceu as escadas, não seria louco de conversar com uma criança desconhecida, sobretudo uma menininha fofa que certamente havia sido instruída sobre esse tipo de coisa. Já estava no último degrau da escada quando a pequena voz doce chamou sua atenção.

Poxa vida ele é a cara do tio Rhys.

— O que foi que você disse?

Ele se virou sem perceber, já com as palavras fora da boca. A garotinha o encarou com uma expressão completamente fofa e carrancuda.

— Eu disse que você parece o meu tio.

— Você disse o seu tio Rhys. Conhece Rhysie? Digo, Rhysand, conhece Rhysand?

A pequena deu uma risadinha simpática, embolando os dedos na saia de uniforme.

— Rhysie? Eu gostei de Rhysie. Você conhece o meu tio Rhys?

Honey | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora