Tudo tinha mudado depois daquele dia em uma bagunça deliciosamente caótica.
Tudo em seus quase trinta anos.
Nestha remoeu por dias a conversa que tivera com Cassian logo que se resolveram. Ela não conseguia simplesmente acreditar que aquilo era real. Havia uma parte inerente dela que sabia se prender muito bem à realidade, mas ainda assim, não parecia real. Não parecia real que eles estivessem juntos daquela forma agora, dentro das regras dela, que ela não tinha medo dele e que estava feliz. Não conseguia entender que tinha criado coragem para dar aquele passo, quase como se não se reconhecesse mais.
A Nestha de alguns meses atrás jamais teria aceitado. Jamais permitiria um homem ter tamanho espaço em sua vida, jamais permitiria alguém em sua cama com tanta — ou qualquer — frequência. Parecia surreal a ideia de que estava com ele, que verdadeiramente gostava dele e que ansiava por novos dias. Que dali alguns anos, quando Catrin decidisse seguir os próprios caminhos — uma verdade dolorosa que ela demoraria muito tempo para aceitar — talvez ela não ficasse sozinha afinal. Talvez teria com quem compartilhar seus medos e frustrações, sua alegria e anseios. E mesmo que a ideia de se sentir verdadeiramente desejada fosse apavorante... ela gostava.
E era tudo por causa dele.
Enquanto esperava ansiosa na escada em frente à própria casa, Nestha refletiu sobre o quanto a afetividade era um sentimento insólito em sua vida. Já estava com quase trinta anos e, devido a toda a conturbada realidade que presenciou a vida toda, nunca se deu ao luxo de sentir como uma pessoa normal. Permitiu-se sim amar Catrin, suas irmãs e até o cunhado, mas o que estava acontecendo naquele momento era diferente.
Ela estava em um vestido azul de tecido leve que deixava suas costas nuas de uma forma delicada. Seu cabelo estava preso em uma das laterais e nos pés ela usava uma sandália simples, com um pequeno salto fino branco. Ela tamborilava os dedos na bolsa em suas mãos, sentindo-se estranha com aquela circunstância.
Nestha estava prestes a ir em um encontro.
Duas semanas após a manhã em que as coisas entre ela e Cassian tomaram um rumo completamente diferente ele finalmente a chamou pra sair.
Pura cerimônia. Os limites da relação dos dois se nublaram há muito tempo, antes mesmo de toda reviravolta. Agora, eles só não faziam tanta questão de esconder. Cassian voltou a dormir na cama de Nestha todas as noites, se esquivando pela manhã antes que Catrin acordasse. Eles tomavam café da manhã juntos e se encontravam após o ballet de Catrin. Ele aparecia no estúdio as vezes, assistindo silenciosamente ela dançar. Eles também apareciam juntos na casa de Feyre, e em uma dessas vezes ela não contestou quando Cassian deixou a mão nas costas dela para que todos vissem. Bastou um olhar de "o que foi?" e ninguém fez mais perguntas. Como se todos já não soubessem, ao que parecia.
Mas, mesmo tendo todo esse tempo com ele, ela estava nervosa. Em seus quase trinta anos, nunca havia tido um encontro de verdade. Thomas foi o único homem com quem ela se relacionou, e entre eles não haviam encontros. Tinha uma certa afeição — antes das coisas tornarem-se violência — e certamente muita dependência. Mas era aquilo. Seu primeiro encontro. E era reconfortante que fosse com Cassian.
Ele apareceu com o carro em frente ao prédio, buzinando para que ela entrasse. Nestha e ele tinham entrado em um consenso de que ele não precisava abrir a porta pra ela, então ela entrou.
— Você sabe que moramos no mesmo prédio, certo? Poderíamos ter simplesmente decido juntos — ela sibilou enquanto colocava o cinto, sentindo a colônia atrativa de Cassian
— E não te dar a experiência completa, Nes? Nunca em um milhão de anos — ele sorriu e se virou pra ela, tocando seu queixo e a puxando para um beijo simples, quase casto — Oi Nes. Você está linda. Gosto quando usa azul.
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Honey | Nessian
FantasyA vida de Cassian se encontra em um limbo existencial complexo: após o fim de um noivado conturbado e longo, o homem decide voltar à sua cidade natal para contar com o apoio da família. Ressentido, Cassian decide adotar uma vida distante e pacata, b...