Letizia
Meu pai tinha falecido há dois meses. Para mim foi uma perda muito grande. Ele me ensinou a maioria das coisas que eu sabia. Desde menina, ficava sentada em um canto da sala de reuniões, prestando atenção nas conversas, tinha aulas com associados mais velhos e adquiri a paixão por armas. Fui treinada para assumir a liderança da organização na Rússia. Meu pai era o chefe de uma das maiores organizações. Da máfia.
O maior sonho dele era unir as duas organizações, sob o nosso comando. Casou-se com minha mãe, que era italiana, por causa disso e mesmo assim, viveram bem por muitos anos. Minha mãe era uma típica esposa da máfia, obediente e atenciosa. Algo que prometi para mim mesma desde cedo que não seria.
Meu pai enxergava o meu potencial e me garantiu que eu não teria que me casar com alguém por conveniência, pelo menos enquanto estivesse vivo.
Eu tinha sido educada para comandar.
Com ele aprendi sobre estratégia, ataque, defesa e liderança. Já meu irmão, Domenico, passou alguns anos fora, estudando e se aperfeiçoando. Quando retornou, tinha interesse em assumir os negócios como membro da máfia italiana, além das suas próprias empresas.
Mas, agora estávamos no escritório do meu pai, após duas semanas intensas de ataques aos membros que não queriam que eu assumisse o comando da organização, por ser uma mulher. Como tínhamos mais homens e melhores armamentos, foi relativamente fácil. Nossos opositores foram eliminados (literalmente) e por regra, seus negócios seriam meus.
E assim, aos 25 anos de idade, eu ia assumir a segunda organização do país. Voltei à realidade ao ouvir a voz de meu irmão:
- Tizia, acredito que nossos problemas foram resolvidos. A reunião com o conselho foi marcada para amanhã.
Sorri:
- Ótimo. Mas eu preciso fazer uma negociação.
- Qual?
- Quero ficar com o monopólio das armas e me livrar da prostituição e drogas.
Ele olhou preocupado, para mim:
- Nesse caso, vai ter que encarar Sergei.
Respirei fundo.
Sergei Solitevsko era o chefe da maior organização. Controlava metade do contrabando de armas, a outra metade era nossa. Tinha quase vinte anos a mais do que eu, e era conhecido por ser uma pessoa difícil e um tanto agressiva. Eu o conhecia de vista, em algumas reuniões que fez com meu pai, porque na maioria das vezes mandava um representante em seu lugar, normalmente um pakhan, líder de um grupo menor.
Virei para meu irmão:
- Vou agendar uma reunião com ele, em particular.
Ele estava sério:
- Cuidado, sabe da fama que ele tem.
- Vou ser cuidadosa.
Fui para o meu quarto, estava cansada e precisava tomar um banho. Tirei minhas roupas e vi as marcas de hematomas, arranhões e o curativo no ombro direito onde tomei um tiro de raspão. Guardei minha SR-1 vektor no coldre. Essa arma foi um presente de meu pai, personalizada para mim e desde então nunca mais me separei dela.
Olhei para mim mesma no espelho, e disse em voz alta:
- Coragem, Tizia. Você consegue.
Sergei
Estava irritado. Tinha tido um grande prejuízo com uma carga de drogas e sem tempo de ir até o armazém verificar o que tinha ocorrido por causa da reunião do conselho. Havia prometido à Domenico que iria apoiar a sua irmã, e assim o fiz. Me mantive longe dos ataques e concordei em votar a favor da inclusão dela no conselho, reconhecendo sua liderança.
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A senhora das armas (livro 2)
Action"Estava olhando de forma fixa para a janela do outro lado da sala, com os braços cruzados, quando ouvi uma voz, bem perto de mim, junto com um cheiro amadeirado, fresco: - Desculpe o atraso. Me virei. Sergei. Era um homem bonito apesar da idade, ve...