Letizia
Parada, na porta da sala de jantar, me deparo com a loira agarrada nas pernas de Sergei, que olhava para mim, pálido.
Inclinei minha cabeça para o lado, bastante irritada com a mulher, por se humilhar dessa forma. Virei para a governanta e perguntei em voz baixa qual era o nome dela.
Me aproximei dos dois, falando para ela:
- Natalya, certo?
Ela olhou assustada para mim:
- Ele me trocou por você? Nem é tão bonita assim.
Sergei ia abrir a boca, fiz sinal para que ficasse quieto.
Fingi não ouvir o insulto:
- Por causa de mulheres como você, que não conseguimos avançar. Pare com essa humilhação. Pegue o que restou da sua dignidade e vá embora.
- Não é justo – falou, enxugando as lágrimas.
Me abaixei:
- Minha querida, o mundo não é justo. Precisa de dinheiro?
Ela balançou a cabeça, negativamente. Ajudei a se levantar do chão e a observei sair cabisbaixa, se equilibrando nos saltos, que eram bem altos.
Respirei fundo e me virei para Sergei que me olhava com desespero:
- Tizia, eu não sabia que ela...
Interrompi:
- Juro que não entendo, como uma mulher pode se degradar tanto. Por causa dessas e outras, temos que lutar duas vezes mais para conseguir as coisas.
Aborrecida, puxei a cadeira e me sentei. Ele me acompanhou, calado.
Suspirei:
- Bom, eu vim jantar – olhei em volta – a mesa está linda, e quantas rosas...
Ele já estava mais confortável:
- Eu pedi que caprichassem. O que quer beber?
- Pode ser um vinho. Tinto.
Foi até o aparador buscar. Coloquei um pouco de água no copo. Trouxe a taça de para mim. Pegou na minha mão:
- Vai passar a noite aqui?
Comecei a rir:
- Sergei, você não tem jeito. Gastamos energia suficiente ontem. Eu ainda tive que acordar cedo, para acompanhar o treinamento dos seus homens, esqueceu? Estou cansada.
- Podemos dormir – levantou uma sobrancelha.
- Não confio em você na mesma cama que eu. E depois tem o seu filho.
Virou o copo de vodka:
- Dimitri fica a maior parte do tempo em uma ala separada. Por segurança.
Achei que tinha sido cuidadoso em providenciar o jantar, resolvi aceitar:
- Então eu fico, mas para dormir. Eu preciso descansar e você também.
Vi um sorriso aparecer no seu rosto:
- Certo.
Os empregados entraram para servir o jantar, que era refinado. Carnes e massas, receitas italianas.
Conversamos sobre os negócios, me explicou o que pretendia fazer com as boates que eu iria passar para ele, os planos de expansão. Discutimos algumas estratégias, a mudança dos centros de distribuição.
Ele me ouvia atentamente, sem se importar por eu ser uma mulher.
Isso era uma das coisas que eu mais gostava nele. Me tratava como se fosse parte da sua própria organização.
Depois do jantar, fomos para seu escritório, pois queria me mostrar a planta de um dos armazéns para que eu sugerisse a melhor localização dos seguranças, além dos tipos de armas.
Já estava ficando com sono, tirei meus sapatos e me acomodei no sofá, enquanto ele estava em uma ligação.
Acordei enquanto estava sendo carregada para seu quarto. Me colocou na cama. Sentei, sonolenta e comecei a tirar minha roupa, jogando as peças no chão, ficando só com minha lingerie.
Sergei me ajudou a vestir uma camiseta e eu me estiquei, fechando meus olhos. A última coisa que senti foram seus braços me trazendo para perto dele. Acomodei minha cabeça no seu peito e dormi.
Sergei
Bóris olhava para mim, surpreso:
- Quer dizer que você dormiu, com Letizia, no seu quarto? Assim, dormir mesmo?
Estava sem paciência:
- Sim. Ela estava exausta e ainda está lá.
- Sergei, você está fora do seu juízo perfeito. Pretende casar com ela?
- Ela não quer compromisso.
- Sei, e você?
Peguei um cigarro:
- Vou deixar assim mesmo, por enquanto.
Continuou:
- O que fez com Natalya?
Dei uma tragada e soltei a fumaça:
- Disse a ela que não precisava mais dos serviços e transferi uma quantia generosa. Vai conseguir se manter por bastante tempo, se for esperta.
- E ela aceitou bem?
Bati meus dedos na mesa:
- Fez o teatro básico: chorou e se atirou aos meus pés.
Nesse momento, a porta se abriu e Letizia apareceu. Estava com a minha camiseta, que mais parecia um vestido, chegava até os joelhos. O cabelo amarrado em um rabo de cavalo e olhos inchados de tanto dormir.
Viu que eu não estava sozinho:
- Não sabia que estavam em reunião. Vou subir...
Deixei meu cigarro no cinzeiro e fui até ela:
- Nada importante.
Encostou no meu ouvido:
- Já tomou café?
Respondi em voz baixa:
- Estava esperando por você. Vou pedir para servirem no quarto.
Ela saiu, caminhando descalça em direção às escadas, com suas pernas torneadas. Fiquei observando até que desaparecesse no corredor.
Bóris começou a rir:
- Não sei quem é você, mas gostaria de ter meu amigo de volta!
Respirei fundo:
- Eu gosto dela. E daí?
- Você está muito ferrado, Sergei. Daqui eu consigo enxergar a palavra apaixonado escrita na sua testa. Quantos anos ela tem? Vinte?
- Vinte e cinco – resmunguei.
- Dezoito anos mais nova.
Terminei de assinar os documentos, revisei as planilhas, mostrei o esquema que Letizia tinha sugerido para o armazém e saí apressado.
Abri a porta do quarto e já estava vestida, a mesa do café posta perto da sacada.
Sentei ao seu lado.
Sim, eu estava fascinado por ela.
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A senhora das armas (livro 2)
Action"Estava olhando de forma fixa para a janela do outro lado da sala, com os braços cruzados, quando ouvi uma voz, bem perto de mim, junto com um cheiro amadeirado, fresco: - Desculpe o atraso. Me virei. Sergei. Era um homem bonito apesar da idade, ve...