Capítulo 26 - Acordo

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Letizia

Sergei se abaixou e falou no meu ouvido:

- Escute o que ele tem para dizer. Se você não concordar, ele vai assinar o divórcio.

Fez menção de sair da sala, segurei a sua mão:

- Fique aqui.

Ele sorriu:

- Estarei do lado de fora. Qualquer coisa, é só gritar.

Acompanhei-o com o olhar até que a porta fosse fechada. Me sentei em uma das poltronas, cruzando minhas pernas, o que fez com que a barra do vestido subisse mostrando minhas coxas.

Giuliano se sentou na minha frente, estava com os cabelos desalinhados e olheiras, barba por fazer. Parecia exausto.

- Está bonita.

Respirei fundo:

- Tenho certeza que não veio até aqui para falar da minha aparência. O que quer?

- Preciso de uma segunda pessoa no comando. Fique ao meu lado.

Oferecia migalhas. Fiquei irritada:

- Por que eu faria isso?

Olhou para mim:

- Fiz uma solicitação ao conselho para incluir seu nome como um dos membros.

Então era verdade, não havia sonhado. Poderia ser a primeira mulher em um conselho italiano.

Mas não seria enganada novamente:

- Quem garante que eles vão me aceitar?

- Vou interceder a seu favor. Haverá uma reunião na Sicília, para votação.

Suspirei:

- Seu informante já deve ter avisado que estou de partida para a Ásia.

- Só peço que aguarde a decisão do conselho. Se não der certo, assino o divórcio.

Me ajeitei no assento, enrolando uma mecha do meu cabelo nos meus dedos. Se estivesse no conselho, poderia tomar parte nas decisões estratégicas. Seria uma posição privilegiada, como a segunda no comando. Teria que continuar casada com ele. Meus sentimentos poderiam atrapalhar minha mente racional.

Mas, seria o mais perto que conseguiria chegar da promessa feita ao meu pai.

Parei de pensar ao sentir um calor subir pelo meu corpo.

Giuliano havia sentado ao meu lado. Me afastei um pouco dele:

- Vou aguardar a reunião. Se me aceitarem, vou te ajudar. Se não, você assina o divórcio. Temos um acordo?

- Sim – pegou nos meus cabelos – gostava deles um pouco mais escuros.

Encostou seu nariz no meu pescoço, me levantei rapidamente:

- Avise para Yula a data da reunião.

Segurou a minha mão, olhou para mim. Seus olhos estavam claros:

- Sinto a sua falta.

Meu coração começou a acelerar. Antes que ele pudesse perceber, recolhi minha mão:

- Pena que não posso dizer o mesmo.

Estava me dirigindo à porta, quando senti seus braços em torno da minha cintura, seu queixo apoiado na minha cabeça.

Fechei meus olhos:

- Se continuar, vou gritar.

Me abraçou com força:

- Penso em você o tempo todo.

Ele cheirava bem. Senti calafrios no estômago, minhas pernas estremeceram.

Quase não consegui disfarçar.

Fiz com que me soltasse:

- Arrume uma amante e nunca mais encoste em mim.

Abri a porta. Sergei estava fumando, percebeu meu desconforto e passou o braço pelos meus ombros, me levando para a cozinha:

- Almoçamos juntos?

Fiz que sim com a cabeça e passei a mão pelo meu olho, escondendo uma lágrima que tentava fugir pelo meu rosto.


Giuliano

Após o check-out no hotel fui direto para o aeroporto. Precisava voltar o mais rápido possível e antecipar a reunião do conselho, antes que Letizia perdesse a paciência.

Dentro do carro, recebi o telefonema de Manoela:

- Giu, conseguiu falar com ela?

- Sim, ela aceitou esperar a decisão do conselho.

- Está muito ressentida?

- Disse para eu arranjar uma amante.

Ela riu:

- Não vai ser fácil.

- Eu sei. Como estão as coisas aí?

- Bem, mas eu tinha esperanças que pudéssemos passar o Natal juntos. Ela se recusa a falar comigo ou com Nico, que está bastante chateado.

- Minha esperança é que seja aceita no conselho e não vá para a Ásia. Pretendo colocá-la como segunda no comando.

- Tudo isso é por estar se sentindo culpado?

Respirei fundo:

- Quero que ela aceite as minhas desculpas. Vou desligar, nos falamos mais tarde.

Por mais que tivesse consideração por Manoela, não ia demonstrar o quanto Letizia era importante para mim. Estava disposto a ceder na liderança, no conselho, o que fosse preciso para que ficasse comigo. Perdê-la para Khalan não era uma opção.

Cheguei na Sicília à noite, encontrando meu pai na entrada. Ele olhou para mim preocupado:

- Filho, está com um aspecto horrível. Vá descansar, peço para levarem seu jantar no quarto.

- Ótimo pai, obrigado.

Segurou no meu braço:

- Tudo isso por causa da sua ex-mulher?

Passei as mãos pelos meus cabelos:

- Minha esposa, pai. Se tudo correr como planejado, não vou me separar.

Subi em direção ao meu quarto. Entrei embaixo do chuveiro, fechando meus olhos. A imagem de Letizia não me deixava. Seus cabelos, suas pernas, seu cheiro de lavanda. Troquei a temperatura da água para fria, melhor se fosse gelada.

Saí do banho e recebi a notícia que a data da reunião havia sido marcada para a próxima semana.

Liguei para ela, que atendeu desconfiada:

- Quem é?

- Sou eu, Letizia. Marcaram a reunião do conselho.

Ouvi ela puxar o ar, aborrecida:

- Me ligou só para isso?

Resolvi arriscar:

- E para ouvir a sua voz, também.

- Já ouviu. Mande as informações para Yula, como eu havia dito.

Desligou.

Suspirei, olhando para o espelho, embaçado pelo vapor.

"É, não vai ser nada fácil."

A senhora das armas (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora