X: A sala da Velha

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— Murilo seu animal! — Henrique vinha andando às pressas atrás do filho.

— Painho, calma. — apelou.

— O que está acontecendo? — Olinda franziu o cenho e se colocou em frente ao marido para protegê-lo.

Henrique olhava chateado a mulher. 

— Dona Olinda, nos dê licença e deixe o assunto de pai e filho continuar. 

— Deixa não, minha esposa. Painho enlouqueceu.

— Eu vou te arrebentar, Murilo. — começava a puxar o cinto.

— Painho, eu me enganei, cheguei tarde e ele já não estava lá. 

O senhor mais velho se enfureceu ainda mais e sua bochecha cobriu de vermelho. 

— Eu vou resolver painho. Eu vou agorinha. — ajeitou o terno escuro e saiu da casa.

Os dois ficaram olhando o homem correr para fora como se fugisse da morte.

— E a próxima vez, dona Olinda, não se meta nos assuntos que me correspondem.

A mulher concordou com a cabeça. 

Henrique não confiava no filho do meio, portanto chamou o seu capataz de confiança e saíram para ir resolver a missão que ele tinha confiado a Murilo. Cosme vinha andando atrás do intendente, ele tinha roupas enriquecidas pelo dinheiro que ganhava ao serviço do garimpeiro e coronel. Levava em torno do tronco uma arma de fogo potente, como se devia a um capataz do intendente. 

Cosme subiu no cavalo e acompanhou o patrão até o grandioso hotel que o Inscantunam havia construído com a sua autorização e agora tinha deixado seu filho Ariedes para continuar com os negócios ali. 

— É, Murilo. — concordou o pai com raiva. — Sai garoto, sai moleque. 

Empurrava o filho para o lado, ele estava conversando com o recepcionista. 

— O Inscantunam. — mandou. 

— O senhor Inscantunam não está presente, senhor intendente. O senhor Mendes passou bem cedinho e os dois foram comer a primeira refeição, porém já passou a hora do sol e não voltaram. 

— Senhor Mendes. — repetiu cuspindo raiva. — Não volte a citar esse nome para mim! — bateu com a mão no balcão. — Onde que eles foram, moleque? 

— Eu não sei, não senhor. 

— Incompetente. — sua respiração se fez mais apertada. 

Henrique vinha cambaleando e subiu no carro onde o chofer aguardava abaixo o sol quente. 

— Cosme. — chamou vendo o filho subir no carro também. — Vá buscar o estrangeiro, eu quero ele para jantar lá na minha casa. 

— Sim senhor, senhor coronel. — confirmou com sua cara feia e seguiu pela rua de paralelepípedo.

— Esse moleque tem que assinar o contrato!

E enquanto se preocupava com os negócios da família, sua neta estava mais ocupada com outras coisas. 

— É verdade, Josefina. — Francisca assegurou olhando a menina. Tentava convencer a menina Marques que iria sim imitar o professor Simão. 

O grupo saiu da sala do professor Simão Aldavez animado após ouvir o relato da viagem de verão do professor até Braufilius no mundo de Nubis e o que poderiam aprender lá. 

— Estamos no curso de professoras. Se o professor pode viajar, porquê não as professoras? — Alicia franziu o cenho. 

— Porque o professor é homem e nós somos meninas. 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora