Martin fumava um cigarro pensando em como a filha da cozinheira era divertida. Imaginava como seria se ela fosse aquela noite ao baile. Seria ainda tempo de a convidar? Só conseguia ver os longos cabelos tocando a lombar, mais castanhos que caramelo e mais ondulado que mola. Imaginou o cheiro dos fios e logo depois passava o rosto pelo pescoço dela, em sua idealização.
O Inscantunam aparecia às portas do hotel e os dois jovens entravam dentro do carro em direção ao salão de baile da cidade.
Quase ao entrar no edifício, Mendes era visto pelo intendente Henrique. O guardião da cidade usava igual a Martin, um terno branco. Eles se olhavam quase queimando e a pouco de incendiar o salão.
— Um mundo escuro nessa cidade. — confidenciou Ariedes. — Nem de fogo se pode fazer.
— E minha varinha que está guardada desde que aqui cheguei? — riu para o manipulador de fogo.
— Eu mal posso esperar para ir embora.
— Eu sei bem o porquê você quer ir embora. — riu e olhou o amigo recente com confiança. — Puxe uma dama para dançar, assim esquecerá aquela moça que seu coração insiste em jurar.
— Eu vou voltar a Magix na semana seguinte. — contou tentando controlar o sorriso. — Vou lhe pedir em noivado. Será minha noiva e quando meu pai mandar meu irmão para me substituir em Magris poderei a levar ao templo e declará-la minha esposa.
Martin sorriu e pegou a taça de champagne.
— Mas que desaforo. — Henrique comentou acendendo um charuto. — Eu quero esse moleque fora daqui.
— Meu capataz colocará ele para fora, coronel.
— Não. — Felisberto impediu apressadamente. — Tem muitas pessoas aqui. Não dá para colocar o homem para fora.
— Olhe Murilo. — indicou Cristóvão. — Cumprimentando a viúva de Santos.
— Deixe que da viúva cuidarei eu.
Henrique se apressou a voltar até sua cabine, certo de que Murilo viesse trazer a viúva até ele.
— Isto é jogo político, Gertrudes. Seria bom que saibamos jogar também. — falou a avó descendo do carro. — Quero você sempre calada e rodeada de meninas, homens só pensam em uma coisa, sabe bem.
— Sim, senhora.
Gertrudes tinha o olhar baixo e lacrimejante. Não sabia o que os homens pensavam, realmente. Nunca tinha estado tão próximo de um senão seu avô. E tampouco seu avô lhe apreciava muito. A donzela usava uma coroa de joias para impressionar e um vestido demasiado ousado para a cidade de Magris.
Para se situar bem, Magris é a cidade mais ao sul do continente de Magix, no país Magix. Naquela cidade o dinheiro fluía mais rápido que o vento e a estratificação social estava bem estabelecida. Começava pelos coronéis, depois os empreendedores, depois os sacerdotes, os trabalhadores e os menos importantes como as prostitutas. Aquela cidade não tinha nenhuma relação com a progressista Magix, em Magris as mulheres estavam abaixo aos homens em completa submissão e nem podiam usar calças, sequer decidir o corte de cabelo.
Cordélia aprendeu isso com muita tristeza.
— Venha, Cordélia. — Clotilde chamou trazendo a filha para a frente do espelho de seu quarto. — Traga a tesoura.
Cordélia tinha visto pelo caminho os vestidos largos e os cabelos curtos. Gregório e ela tinham observado na estação algumas meninas e todas elas seguiam um padrão.
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Magris A história de uma cidade
RomanceMagris: A historia de uma cidade se trata de um mundo mágico dominado há dez séculos por uma família originalmente bruxa, contudo Magris é uma das poucas cidades que está terminantemente proibida de fazer uso da magia ou da manipulação dos elementos...