XV: Despedida de solteiro

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— Vem logo, Justino. — Gaspar gritou do andar de baixo. 

Constança olhava o senhor Gomes e balançou a cabeça negativamente. 

— Ele não desceu nem para jantar ontem, nem para comer hoje de manhã. — ela contou olhando o homem e alternou vendo a empregada. — Vá chamar ele. Ande. 

A empregada que estava ali para vigiar os dois, subia contrariada. 

— Eu posso subir? — apontou. 

— É claro que pode. — Constança sorriu impressionada. 

Gaspar começou a subir as escadas e viu a empregada à porta do quarto do amigo. 

— Vamos, Justino. Pode nos deixar a sós? 

O senhor Gomes esperava que a funcionária saísse para que ele pudesse falar. 

— O que aconteceu? — deu um tapa fraco no rosto dele. 

— Estou mal disposto. Dor de barriga. 

— Mentira que a sua irmã disse que nem comer você comeu. 

— Talvez seja por isso. 

— Fala logo. Ou melhor, não fala, não importa. O que importa é que hoje é a noite de estreia da dançarina nua. 

— E a despedida de solteiro do meu pai. — resmungou.

— É. É. — dizia em tom agudo. — Por isso mesmo você precisa levantar esse ânimo, afinal, uma puta nova, seu pai nem vai conseguir meter nela, compra ela. 

— Eu não estou disposto. — levantou da cama. 

— Para com isso. — gritou grosseiro. — Seja homem. 

Justino se apoiou no espelho do armário e depois de muito encarar concordou com a cabeça. 

— Puta nova. — proferiu animadamente e bateu as mãos felizmente. — É tudo o que eu preciso para esquecer esses problemas. 

— Terno novo? — apontou para o cabide. 

— Para o casamento amanhã. 

— Meu pai deve estar indo buscar os nossos agora, acompanhando mamãe. 

— Enfim, a puta. 

— Dançar nuinha. Já estamos fazendo lista para quem vai deitar com ela primeiro. — apontou. 

— Quem vai levar essa lista a sério?

— Dona Olímpia. Vamos. 

Justino e Gaspar correram para o bar do senhor Camilo, o Belaguarda. 

Os coronéis deixaram o bar e foram diretamente para o bordel, ao contrário dos mais jovens. Gaspar e Justino continuavam no bar bebendo.  

Severino servia as últimas doses de cachaça. Gregório se ocupava de limpar o bar enquanto Camilo contava a caixa. 

— Vem Severino, eu te faço esse favor. — Gaspar ria já um pouco bêbado. 

Era costume de Justino e Gaspar se alcoolizarem nos bares mais baratos antes de seguir para o cabaré. O champagne na casa de prostituição era demasiado caro, havia que ter uma saída mais barata. 

— Que isso, senhor Gomes?

— Senhor Gomes. — riu. — Gaspar. Este bar já é minha segunda casa. 

— Isso alegra meus ouvidos. — Camilo fechava a caixa. — Mas Severino terá que ficar aqui a noite inteira. 

— Por favor, — zombou. — o bar já está fechado e ademais, hoje é uma noite especial.

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora