XXI: Não existe nós dois

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Bonifácia olhava distraidamente sua mãe costurando a barra do vestido. Estava do outro lado da sala fazendo a conta de mais uma senhora. Via suas contas no caderno pensando até quando seria assim tudo. Mordeu os lábios chateada e foi buscar a caixa decorada para colocar os itens do enxoval dentro. 

Escrevia o nome de Josefina Marques em cima do cartão de entrega. Colocou o vestido de noiva belíssimo. Ficava um pouco triste por saber com quem ela se casaria.

Precisava de um motivo para destruir aquele casamento. 

Fechou a caixa e levou até a porta da loja onde estava um jagunço esperando para receber o pedido e pagar as contas. 

Ele a olhava de cima a baixo e entregava as notas e só deixava a frente da loja após ela contar e confirmar que estava correto o montante. O homem subiu no cavalo e se ia. 

Gaspar a via do outro lado da praça. 

Ela também o viu, mas voltou para dentro sem a mínima intenção de encontrá-lo. 

— Mãe. — se sentou de frente para ela. — Vai me contar agora o que sabe da viúva Santos? 

— Bonifácia, não há nada para contar. 

— Se não houvesse eu não estaria perguntando, mamãe. Consigo ver no seu olhar que está escondendo algo. — olhou no fundo dos olhos da mãe e dizia com ternura pela decepção que tinha com Gaspar. 

— Bonifácia, por favor. Deixe de pensar em coisas. Se eu digo que não há nada é porque não há nada. — insistiu impacientemente.

— Então porquê está tão tensa? — franziu o cenho e ouviu o sininho anunciar a entrada de alguém. — Eu vou cobrar mais uma conversa consigo. — avisou antes de se levantar e ir até a recepção. 

Viu Gaspar na entrada e franziu o cenho. Dias tinham passado e como Gaspar já tinha tomado Josefina como certo, nem se importava de lhe fazer a corte. De contrário a Gregório que não deixava o jardim dos Santos nem que fosse para ver Gertrudes por míseros cinco minutos. Já valia a pena e sempre levava uma flor diferente. 

Deu a volta no balcão e fechou a agenda e seu caderno de contas. 

— Há algo que eu possa ajudar? 

— Pode ajudar sim. — se dobrou sobre o balcão e a olhou no fundo dos olhos. — Por que não esteve na praia esses últimos dias? 

— Por que deveria? — franziu recuando um pouco. 

— Você sempre está. Te vejo mesmo quando não posso me aproximar. 

— O senhor é homem, o senhor pode tudo. — desviou o olhar e fez bico.

— Não posso por respeito a você. — murmuravam os dois como se contasse um segredo proibido. 

— Sei bem o respeito que tem por mim. — dedicou sua vista, levantou a sobrancelha irritada e se aproximou. 

Gaspar a puxava pelo maxilar e roubava um beijo rápido.

— Se não respeita nem sua noiva, quem dirá a mim? — o empurrava. — Já lhe disse para não me procurar se não está solteiro. 

— Sabe que eu estar solteiro se torna impossível. O tio de minha noiva e meu sogro voltam hoje para a cidade, tem que entender Bonifácia. — apelou.

— Eu entendo. Por isso digo que não volte a me procurar. 

— Se você aceitar eu até pago para ter você. Eu te coloco casa. 

— Eu não sou prostituta, senhor Gomes. — arregalou os olhos chocada com a oferta.

— Gaspar. 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora