Silvana esperou ansiosamente para que o homem viesse bater em sua porta.
— Me enviou um recado. — ele falou olhando a mulher.
— Sim. — deixava-o passar.
— O que está quebrado desta vez? — olhou ao redor e sentiu o cheiro de bolo de chocolate.
— Nada. Ou espero que não. — franziu o cenho. — Na verdade, o senhor no último dia...
— Dois dias atrás.
— Sim, — sorriu sem graça. — o senhor deixou cair uma parte de seu pagamento, tentei lhe alcançar, mas seria demasiado escandaloso gritar.
— Escandaloso para quem?
— Para as pessoas na cidade, um comportamento a evitar na sociedade.
Ele riu concordando com a cabeça. A mulher lhe ficava olhando vendo que ele talvez nem fosse feio, ou não o suficiente para sentir nojo de seu rosto. Seu nariz era feio, isso era certo, mas o resto parecia bem.
— E meu dinheiro então?
— Ah, sim. — despertou e foi até o quarto buscar a nota. — Aqui está.
— Está um cheiro de bolo, novamente não vai me oferecer? Por educação ao menos.
— O senhor quer um pedaço?
— Não, eu estou de saída. — riu da cara dela, estava desajustada. — É brincadeira, óbvio que quero.
Silvana franziu o cenho, chateada, e foi indo até à cozinha.
— É brincadeira. — repetiu se sentando à mesa. — É suposto rir.
— Eu acho que fazer as pessoas de idiota não é bem o melhor jeito de fazer alguém rir. — serviu-o e cruzou os braços.
— A senhora tem que descontrair mais.
— E há como descontrair nesta cidade? — suspirou olhando o relógio em cima da cabeça dele.
— Temos uma praia lindíssima. Deveria experimentar, já que mora de frente para ela. — gesticulou indicando atrás dela.
— Uma senhorita não fica saltitando na areia. — ditou com seu ar estressado.
— Uma senhorita também não recebe um homem estando só em sua casa, mas aqui estamos. E não pela primeira vez. — comeu. — Se não se importasse tanto com esses "senhorita não faz isso, senhorita não faz aquilo", definitivamente seria mais feliz.
— O senhor é? — franziu o cenho.
— Claro. Além de não ficar grudado a essas imposições, eu sou homem e o mais importante, a felicidade só depende de nós mesmos. Felicidade é algo permanente, é uma forma de ser, um modo de vida e não um estado de espírito que pode mudar a qualquer problema grave.
— O senhor é daqui, de Magris? — franziu não entendendo tão bom humor, definitivamente era um estrangeiro ilusionado.
— Nascido e criado. Na rua da feira, ali em cima. — se serviu de refresco.
— E é sempre sozinho?
— Não. Eu tive filhos, tenho sobrinhos, dois irmãos. — encolheu os ombros.
— Teve filhos, como assim? — tentou não ficar extremamente chocada, afinal não era ele um solteirão?
— Ah eles morreram no parto junto com a minha esposa. A parteira não chegou a tempo e eu não estava presente.
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Magris A história de uma cidade
Roman d'amourMagris: A historia de uma cidade se trata de um mundo mágico dominado há dez séculos por uma família originalmente bruxa, contudo Magris é uma das poucas cidades que está terminantemente proibida de fazer uso da magia ou da manipulação dos elementos...