XVIII: Mais um dia

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Silvana acordou bem cedo para ir à serraria antes de que enchesse de homens. 

Via o homem carregar madeiras de um lado ao outro. Se aproximou discretamente e cutucou o homem que tinha a calça demasiado baixa. Os pelos saindo do traseiro do homem pulavam para fora, era horrível e insultante.

— Senhor, por favor. — chamou. — Olá. Eu estou buscando alguém que me ajude com meu armário, ele é de madeira. Madeira antiga, pesada. 

— Jogue fora e compre outro. 

— Perdão? — franziu o cenho. 

— Se é antigo e está quebrado, o que mais quer?

— Que conserte? — franziu com medo de que o homem a agredisse.

— Primeiro, nós somos uma serraria e não uma marcenaria. 

Silvana franziu o cenho sem saber a diferença. 

— E onde posso encontrar uma marcenaria? 

— Aos redores da cidade, minha senhora. 

— Eu não sou vossa e nem senhora. — reclamou e marchou para fora do galpão. 

Olhou ao redor e suspirou. Estava de frente para o porto. Se sentava na mureta da rua e via os funcionários organizarem o ouro negro dentro do navio de exportação. 

O sol brilhava com força quando os carregadores começaram a descer e o navio logo sairia. 

Suspirou ao vê-los. 

Se para consertar seu armário teria que ser nas áreas fora da cidade, como igualmente faria para comprar um novo? 

— Algum problema? — um homem com barriga de cerveja, mas de braços fortes e um bigode farfalhudo perguntava. 

— Não. — franziu pela invasão de seu espaço pessoal.

— Então está parada aí porquê? 

— Ela é só uma solteirona, Chie. — um outro vinha atrás do bigodudo. — Não vai roubar o navio. — dizia rindo. 

— Eu não sou uma solteirona. — pulou da mureta e suspirou indo embora. 

— O que estaria fazendo senão vendo esses senhores todos viúvos, charmosos fazendo exercício? — riu o homem e ela percebia ser um dos carregadores. Este era um pouco mais bonito e mais jovem que o outro. Tinha a pele dourada do sol, cor de canela e um corte na testa. 

— Que absurdo dizer isso a uma senhorita solteira. — começou a andar para longe. 

— O que mais veio procurar aqui? No fim da cidade. 

— Uma marcenaria. — berrou envergonhada, tinha o rosto completamente vermelho. 

Silvana via Luciana se afastar com os lençóis empacotados, estava indo embora de sua casa, finalmente, parecia que não tinha sua própria. Suspirou chateada por ainda não conseguir solução para seu armário e ia fechando as cortinas quando via o carregador sair da praia. O carregador sorriu ao perceber que ela olhava-o pelo outro lado da rua. 

— Se assusta não. — falou alto rindo. 

A solteirona fechava as cortinas com pressa, mas continuava olhando-o atravessar a rua. Ele se distanciava e ela saía dali e se sentava no sofá desenhando outro vestido. A janela que abria de dentro para fora ficava encostada.

Ia pegar o lápis violeta quando seu coração quase parou com o susto que levou do homem colocando a mão por sua janela. Deu um grito e não sabia se fugia ou se lhe enfrentava. 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora