— A senhorita Santos me convidou para beber chá em sua casa. — Cordélia anunciou se colocando à frente da mãe que estava enrolando salgados enquanto Gregório falsificava bebidas de maior qualidade para colocar um pouco mais de teor alcoólico. — A senhora me permite ir?— Sim.
— "Sim", o quê? — franziu o tio Camilo subindo as escadas da casa e trazendo a caixa para o sobrinho descer com as bebidas.
— Cordélia vai visitar uma colega. Santos, não?
— Sim. — sorriu.
— Esse nome já está muito falado dentro desta casa.
— Mas se eu... — Clotilde enrugou o cenho. — Camilo, se não quer que ela vá diga diretamente. Eu não vejo problema nenhum.
— O problema não somos nós, são eles. — olhou pela janela a praça do chafariz. Pensava sobre tudo o que ouvia dentro daquele bar, as formas que os homens falavam sobre as meninas, sobre as prostitutas, sobre o casamento, era o terror e maior pesadelo de Camilo ver Cordélia ser desonrada por algum deles. — Severino vai te levar. Para evitar conflitos.
— Mas papai, Severino está sempre olhando Josefina como se fosse a beijar loucamente. Não posso ser acompanhada por ele!
— E nem só. — Camilo coçou o peito. — Eu vou lhe levar porque Gregório também não se pode contar. — fez uma careta e deixou a caixa e o pano que levava por cima do ombro.
— Passe perfume. — a mulher ordenou.
A mãe espirrou perfume em torno do marido e os dois foram para a praça. Camilo ia levando a filha pela rua e ainda pensava em como preocupado estava. Ao chegar na casa Santos e ver a senhora Eva, se tranquilizou. Cordélia olhava o pai com um sorriso sem graça e as três meninas davam um adeusinho enquanto Camilo pensava sobre o pesadelo do homem pai de três meninas ou mais.
— Deverá ser o próximo jantar importante.
— Eu fui à modista ontem. — Josefina contou. — Mamãe falou que os filhos do coronel Cristóvão vão jantar em nossa casa esta semana.
— Quem são? — franziu com o cenho.
— Valentim e Vicente.
— Será que eles foram para alguma escola de magia? — Josefina franziu o cenho.
— Com dois anos? Melhor duvidar que foram formar em direito.
— Antes fossem pedreiros. Já que as obras dos Inscantunam não terminam nunca.
— Se eles são de Magix, porquê estão crescendo negócios aqui?
— Dinheiro, Gertrudes. Dinheiro. Vovô jantou com ele ontem à noite. — confidenciou. — Mas é segredo. Os Inscantunam's já são demasiado ricos. Meu avô está armando alguma coisa.
— Segredo porquê? — franziu Cordélia.
— Porque meu avô é o dono desta cidade e o Inscantunam está construindo a cidade. Mas vejo no olhar do senhor Inscantunam que está aterrorizado. No jantar, ele ficava constantemente olhando os revólveres na cintura do Costa. Mas o problema é o aspirante Martin.
— Que beijou a sua mão?
— A sua mão, queres dizer.
— Culpa de Severino. A intenção dele era beijar a si.
— Se meu avô souber disso, ele matará o senhor Mendes sem pensar duas vezes.
— Falemos de outra coisa. — Gertrudes pediu. — Vamos, — levou as meninas até o armário. — tem sempre que usar luvas, Cordélia.
— Mas está calor. — franziu.
— Uma dama nunca sai sem as luvas, o chapéu, o leque, as meias e os saltos. — entregou um par de coisas e buscou uma caixa. — Uma dama sempre está com sua aparência frágil e olhos lacrimejantes, por isso leve sempre estes frascos. — mostrou. — Uma dama sempre sorri pouco, se sorrir muito os senhores perdem o interesse. Uma dama está sempre quieta e nunca sozinha com um homem, apenas se for da família. Uma dama nunca toca a um senhor encostando a pele. Uma dama não deve se dar ao capricho de olhar demasiado a ninguém e certamente não devemos nem sequer citar magia em lugar nenhum.
— Mas essas regras são... — se preparava para reclamar quando recordou das indicações de sua mãe. — Adequadas à sociedade de Magris.
— Isso não significa que gostamos delas. — suspirou Gertrudes. — E não esqueça do pó. — mostrou o frasco.
— Para a pele? — franziu. — A minha mãe prefere rouge.
— Não é para a pele. — Josefina riu. — É para provocar um desmaio.
Cordélia abriu a boca chocada.
— Falemos de coisas mais interessantes. Me conte sobre a Magia, se é de Sjar, faz magia por certo.
Josefina olhava a nova amiga com interesse. Pensava no irmão dela, tinha que planejar alguma coisa para se verem novamente. O ato de se apaixonar não era surpresa para a menina Marques, porém há um tipo de fascinação que faz todo o mundo se encher de cor, faz um coração voltar a palpitar. Não tinha a certeza se era recíproco, mas sabia que seria divertido. E há coisas que só se vêm com o coração.
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Magris A história de uma cidade
RomansaMagris: A historia de uma cidade se trata de um mundo mágico dominado há dez séculos por uma família originalmente bruxa, contudo Magris é uma das poucas cidades que está terminantemente proibida de fazer uso da magia ou da manipulação dos elementos...