XIX: Ansiedade de fugir

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— O que será que aconteceu? — Gertrudes perguntou baixinho quando via que o professor não vinha mesmo. Novamente.

Josefina encolheu os ombros e começou a organizar suas coisas. 

Cordélia se unia a elas e foram saindo da escola. 

— E vamos à praia outra vez? — Josefina pediu apontando para a rua de baixo. — Tenho algo triste para contar. 

— Triste? — Cordélia franziu o cenho. 

O trio foi até a praia e descalças se deitaram vendo as ondas quebrarem. 

— Ontem meu avô... — fez uma cara de decepção. — Meu avô vai me colocar para casar assim que meu tio chegue. 

— Com quem? — a filha do dono do bar sentiu o coração apertar. 

— Com o filho do coronel Gomes. Gaspar. — deitou em cima da barriga de Gertrudes e limpou as lágrimas. 

— Isso é ruim? — Cordélia mordeu os lábios. — Gaspar parece ser um bom homem. 

Josefina olhou a amiga de lado e fez uma cara feia. 

— Pode até ser, mas eu acho horrível. E se eu quiser casar com outra pessoa? Meu avô nem me deu opção. O que você acha Gertrudes? Gertrudes? — balançou a amiga. — Todos os dias você está extremamente sonolenta, o que passa as noites fazendo? 

A herdeira Santos fez uma careta e se espreguiçou olhando as duas. Bocejou e riu sem graça. 

— Lendo? — franziu. — O que eu acho de quê? 

— De Gaspar. O filho do coronel Gomes. 

— Eu acho ele alto. — encolheu os ombros. — Eu não sei. 

— Deveria, pois ele sempre te chama para dançar. Algo devem conversar. 

— Sinceramente? — a olhou. — Eu não lembro nem da voz de Gaspar. Se algum dia falou comigo eu não ouvi. 

Josefina a empurrou e gargalhou. 

— Só consegue ouvir o garçom dizer "Olá". — brincava. 

— Ou até mais. — Cordélia deitou de barriga para baixo. — Fique sabendo Josefina que Gregório todos os dias sai à noite para "passear". 

— Curioso que você esteja tão sonolenta ultimamente. — a menina Marques riu maldosa. — Será um garçom que te deixa acordada toda a noite? 

Gertrudes riu triste. 

— Talvez. — mordia a luva. — Mas não fantasie demais, as duas. 

— Como não fantasiar? — desdenhou. — Afinal, ao menos alguém aqui é corajoso. Por que seu irmão não me deixa acordada toda a noite? 

Cordélia encolheu os ombros e arregalou os olhos. 

— Diga, Cordélia. Marque também um encontro para mim! — exigiu com seu tom de menina mimada. 

— O único encontro que meu irmão poderá ir antes de levar um tiro é ao templo orar pela própria alma. Afinal, você está noiva, Josefina!

— Contra a minha vontade. — se deitou na areia e cruzou os braços. — E nem Martin sequer apareceu. Todos me esqueceram. Nem Justino me enviou um cartão! Acreditam nisso? 

— Justino? — franziu o cenho. 

— Ele sempre mandava cartões com poemas repetidos, para marcar espaço na concorrência. 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora