14• Pior Aluno do Mundo

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Alguns dias tinham se passado e agora eu estava ocupada separando o conteúdo que ensinaria a Minho amanhã em sua primeira aula. 

O assunto? Coreano. 

Lee Minho é ruim em várias matérias, mas ele é realmente péssimo em coreano. Não digo isso porque ele não sabe coisas como classificar orações ou o que são advérbios, digo isso porque ele não consegue sequer interpretar textos simples corretamente, sem contar o seu problema com ortografia errada. 

Eu realmente estava me esforçando para montar um plano de estudos que desse certo, não porque eu queria tanto assim ajudar o garoto, mas sim porque o valor que o Sr. Lee vai me pagar realmente fez meus olhos brilharem. 

Realmente, o capitalismo é assustador.

Estava sentada em minha escrivaninha olhando no notebook algumas apostilas em PDF que tinha salvado para minha própria revisão quando a janelinha de pop-up do aplicativo de stream surgiu no canto da tela, indicando que Spy_0922 tinha acabado de entrar em live. 

Bom, eu mereço um pouquinho de diversão. 

Fechei as abas de conteúdo e abri a live, colocando meu headset nos ouvidos. Eu fiquei ali por horas, interagindo no chat com os demais espectadores da live e rindo de todas as idiotices que Spy fazia e falava. Hoje ele estava fazendo stream jogando um jogo de escolhas no PlayStation 5, o que me fez ter vontade de jogar também. Por sorte, é um dos vários jogos que meu pai comprou na esperança de ter tempo para jogar, o que obviamente nunca aconteceu, ainda mais depois do nascimento de Kyujin. 

Acabei caindo no sono em cima do teclado e acordei assustada no meio da madrugada, vendo o tanto de letras que digitei sem querer no chat por ter dormido em cima das teclas. A live ainda estava acontecendo, no canto do visor marcava quase quatro da manhã, eu apenas fechei o notebook e me arrastei para a cama, com sono demais para sequer andar corretamente. 

Como eu suspeitava, quando o dia amanheceu eu estava um caco. Parecia um zumbi andando pelo quarto tentando encontrar minha toalha para ir para o banho. Precisava me arrumar rápido para a aula já que adiei o alarme pelo menos três vezes antes de conseguir me erguer da cama. 

Eu fiz tudo muito rápido apesar do meu estado não ser dos melhores nesse momento. Coloquei o uniforme e peguei minha mochila, encontrando Yohan em seguida na calçada e seguindo para o colégio. 

E é claro que ele tinha que ter a indelicadeza de comentar sobre minha aparência acabada e as olheiras enormes que, segundo ele, me deixaram parecendo um panda bobo. 

Na escola, as aulas pareceram passar em passos de tartaruga. Eu me esforcei o máximo que pude para ficar de olhos abertos mas, de vez em quando, meu rosto apoiado em minha mão vacilava. 

Observei Minho perifericamente enquanto o garoto rabiscava algo em seu caderno. As únicas palavras que troquei com ele depois do dia que ele me ajudou no corredor foram para avisar a ele sobre o local e horário de sua primeira aula de reforço. Na verdade, eu não sei nem como ele se sente sobre isso, já que o Sr. Lee acertou todos os detalhes diretamente com o meu pai e eu recebi as informações dele. 

Pedi ao professor que me deixasse ir ao banheiro, precisava jogar água no rosto, caso contrário, eu acabaria dormindo debruçada em minha carteira. No momento em que levantei, Minho deixou sua borracha cair no chão. Eu me abaixei e peguei o objeto instintivamente, me erguendo de volta para entregá-lo. Meus olhos pararam em seu caderno, onde, no centro de vários rabiscos sem sentido havia a pergunta: o que ela acharia se eu entrasse na equipe de Taekwondo? 

Eu mal tinha interpretado a pergunta quando me assustei com o barulho que o garoto fez ao se debruçar por cima da folha, tentando me impedir de ler o que havia ali. Abri os olhos com o susto, não entendi o motivo por ele ter ficado tão nervoso com aquilo. Em um milésimo de segundo, Minho pegou a borracha de minha mão e voltou a se debruçar sobre o caderno. 

— De nada, Minho — ele não me agradeceu, mas eu disse mesmo assim. Pelo menos consegui deixá-lo desconcertado. 

— O-obrigado, Kyra. 

[...] 

Quando o sinal tocou, dei tchau para minhas amigas e fiquei esperando Lee Minho terminar de arrumar seu material na mochila. Ele se despediu de Jisung, que acenou com a mão para mim e saiu em seguida, deixando apenas nós dois na sala vazia. 

— Você tem que demorar tanto assim pra guardar suas coisas? — perguntei, olhando o relógio em meu pulso. 

— Parece que você tá apressada pra ir embora. Quer fazer um acordo? 

— Que acordo? 

— Eu vou pra lan house jogar e você vai pra onde quiser, quando eu chegar em casa digo que a aula foi ótima. Todo mundo fica feliz. 

— Tá maluco? Não vou enganar seus pais! 

— Então por que a pressa? 

Ouvi minha barriga roncar. Além do sono, eu estava com muita fome.

— Só não quero perder tempo com enrolação. 

— Terminei, apressadinha. — ele riu pelo nariz, colocando a bolsa nos ombros. 

Eu apenas ignorei, caminhando para fora da sala de aula enquanto ele me seguia. Pensei que seria menos incômodo se nós fôssemos para a biblioteca do colégio, já que não ficaríamos a sós, mas lá é obrigatório silêncio absoluto e, muito provavelmente, não vou conseguir ensinar Minho sem dar alguns gritos. 

Existiam algumas salas disponíveis para grupos de estudo fora do horário de aula e eu reservei uma para nós dois. 

Três - duras - vezes por semana vou estar aqui com Minho. Até as próximas provas. 

Abri a porta e indiquei que o Lee entrasse. Ele disse "primeiro as damas", então eu passei e soltei a porta, deixando que batesse nele. O garoto grunhiu de dor, resmungando algo que eu não entendi direito. 

A mesa da sala era retangular e tinha pelo menos dez cadeiras. Esperei Minho se sentar e sentei-me à sua frente, começando a tirar os materiais que preparei de dentro de uma pasta. Ele arregalou os olhos, fitando a quantidade de folhas que haviam ali. 

— Essa é a mesma cara que você fez quando li aquela "perguntinha" no seu caderno hoje — eu ri soprado, fazendo aspas com os dedos. — Não se preocupe, vou pegar leve com você nas primeiras aulas. 

Mas é claro que eu não vou. 

— A-aquilo foi... quer dizer, e-eu... — Minho gaguejou igual a um bocó. Eu apenas fiquei em silêncio esperando que ele continuasse. — Você entendeu errado! 

— E por acaso você sabe o que eu entendi? — examinei sua expressão que se tornou confusa. Era engraçado ver como ele se enrolava em suas próprias palavras. Como ele não respondeu nada, eu continuei: — Não sei sobre quem você estava falando, mas não acho que eles aceitem alguém tão velho na equipe. 

— O que? Mas eu tenho a mesma idade do Jisung! 

— Mas você sabe com quantos anos ele começou a lutar? — o garoto pareceu pensar por um momento, finalmente entendendo o que eu queria dizer. 

— De qualquer forma, eu nem queria entrar na equipe tanto assim. Só queria saber o que minha mãe acharia se eu entrasse. 

— Sua mãe? — franzi as sobrancelhas. Então era sobre ela a pergunta no caderno? 

— Óbvio. Pensou que fosse quem? — seus olhos julgadores me atingiram em cheio. Um disparo de arma de fogo faria menos efeito em mim. 

Era melhor eu ter ficado quieta.

— O que? Ninguém! Não pensei nada! 

— Se você tá dizendo — deu de ombros. 

— Sim. Se eu disse, tá dito — limpei a garganta antes de continuar. — Agora anda, vamos começar essa aula logo porque eu não tenho todo tempo do mundo.

Love Spy • Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora