42• Tudo que Passou

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Alguns dias se passaram desde que descobri que Minho era Spy_0922. Mas, sendo sincera, isso não me surpreendeu nada comparado ao que descobri depois sobre o passado do Lee. Como ele mesmo havia dito que faria, o garoto me contou tudo que aconteceu, cada detalhe sobre o que havia acontecido antes dele vir para o Songdong.

Minho não morava em Seul, ele vivia em Busan, onde a sede da empresa de seu pai está localizada. Lá, ele ia para um colégio de elite, onde tudo começou. 

Heeseung e ele sempre estudaram na mesma classe e nunca tiveram problemas entre si, mesmo que não fossem amigos próximos, até que, segundo o Lee, cerca de dois anos atrás, Heeseung começou a agir de forma agressiva com outros alunos. 

Depois da separação dramática dos pais, o garoto começou a intimidar outros alunos e praticar bullying com colegas da mesma idade e até crianças menores de outras classes. Nessa época, Minho já era um streamer conhecido, mas usava seu próprio nome e imagem; o que significa que o Spy_0922 que conheço hoje, não existia. No colégio, Minho também era conhecido por todos, um garoto popular, muito diferente do que ele é hoje no Songdong. 

Por ser conhecido por todos por suas lives na internet e ter uma boa reputação no colégio, Heeseung não se atrevia a chegar perto de Minho e de quem era próximo a ele, mas isso não anulava o fato de que outros alunos estavam sendo intimidados constantemente por Heeseung e seus "amigos". 

Certo dia, ao sair da aula, o Lee viu um dos seguidores de Heeseung arrastando uma garota do colégio pela rua. Sem se importar se seria perigoso, o garoto os seguiu, parando em uma construção abandonada onde o grupo, liderado por Heeseung, esperava pela chegada da garota. 

Espiando à distância, Minho viu quando eles a jogaram no chão e a obrigaram a tirar a blusa enquanto filmavam tudo e riam. Entre xingamentos e tapas que levava, a menina chorava baixo sem qualquer chance de defesa. 

E essa foi a primeira e única vez que Minho confrontou Heeseung. Mas não o confrontou com violência como o outro fazia; depois de filmar toda a cena que presenciou, Minho apenas borrou a imagem da garota para que não fosse exposta e postou em todas as suas redes sociais. 

E com isso, o Lee ganhou o ódio e ressentimento de Heeseung.

Depois de ter feito tudo isso, o bully deveria ao menos ter sido expulso do colégio, pensei comigo mesma, mas a história ficou ainda pior. Heeseung não foi expulso. Através de seu poder e conexões, o pai do garoto fez com que os amigos do filho assumissem toda a culpa, o livrando de todas as acusações perante o conselho estudantil, que decidiu manter Heeseung no colégio. 

E como uma cobra que espera o momento certo para dar o bote, alguns meses depois, quando ninguém mais se lembrava do que havia acontecido, Heeseung encurralou Minho na saída da aula. 

Essa parte, ele não quis contar em detalhes. Talvez ainda o machucasse muito falar sobre isso, ou talvez ele não quisesse me assustar ou me preocupar. De cabeça baixa, tudo que ele conseguiu dizer foi:

— Ele me deixou inconsciente, Ky. Se juntou com todos os amigos dele e me espancou em um beco sem saída.

Meu coração doía tanto que eu mal conseguia me manter firme depois de ouvir tudo aquilo. Apenas abracei Minho e fiquei ali com ele, em meus braços, pelo maior tempo que podíamos. 

— Como ele pôde ser tão...? — minha voz estava embargada e eu me segurei para não chorar. 

— Covarde? — Minho completou o que eu queria ter dito — Ele sempre foi assim. Eu só tive sorte de não ter sido a vítima por algum tempo.

— Você contou pra alguém que foi ele quem te bateu? — me afastei do abraço para olhá-lo.

— Meus pais até hoje acham que foi uma tentativa de assalto por causa do nosso dinheiro. O único que sabe a verdade é o Jisung.

— Você e ele são muito amigos, né? — entre tantas coisas ruins que ouvi, lembrar da amizade deles me fez sorrir por um instante.

— Demais — ele sorriu também. — A gente ia pro mesmo colégio em Busan, mas a família dele se mudou pra Seul quando tínhamos oito anos.

Lembrei da foto que vi no quarto do garoto da última vez, eles eram realmente muito fofos. Voltei minha atenção para Minho quando ele continuou:

— Fiquei no hospital por uns dias depois que eles me bateram, e Jisung veio de Seul pra me visitar. A primeira coisa que ele fez quando contei o que aconteceu foi me chamar para estudar no Songdong. Ele disse até que eu poderia morar na casa dele caso meus pais não pudessem se mudar por causa da empresa. Demorou um pouco, mas minha mãe convenceu meu pai a irmos pra Seul e eu finalmente pude estudar com vocês.

— E que bom que você veio — peguei em sua mão e nós sorrimos juntos. — Foi depois disso tudo que surgiu o Spy? 

— Uhum. Eu não queria deixar de fazer algo que eu gostava tanto, sabe? — confirmei com um aceno de cabeça — E esse foi o único jeito que encontrei de fazer o que queria sem que soubessem que era eu. 

Saber de tudo isso me fez perceber ainda mais o quanto Minho é forte, e agora eu consigo perceber que seu jeito muitas vezes reativo é fruto do quanto ele sofreu antes.

— Mas agora parece que vou ter que parar com as lives pra sempre...

— O que? — franzi as sobrancelhas, sem entender — Por que?! 

Nós estávamos conversando em meu quarto e, nesse momento, percebi que Minho olhou pela janela. Segui seu olhar, notando que ele parecia incomodado. Levantei e fechei as cortinas. Mesmo que Yohan não estivesse do outro lado da árvore, em seu quarto, o fato de existir a possibilidade de alguém estar olhando podia o deixar apreensivo. Acendi o abajur ao lado da cama, iluminando o quarto o suficiente apenas para deixar aconchegante e tentar, de alguma forma, deixá-lo mais tranquilo. 

— Se não quiser falar sobre isso, tudo bem, tá? — voltei a me sentar na cama, de frente para ele — Não vou te pressionar a nada.

— Tudo bem — suspirou —, é só que... meus pais não sabem que eu sou o Spy. 

Eu não sabia bem o que dizer, então apenas esperei que ele continuasse.

— Quando meu pai concordou em vir pra Seul, ele disse que a condição seria que eu não fizesse mais lives e me concentrasse nos estudos, e eu aceitei, porque, enfim... queria mais que tudo fugir de lá  — tentei não demonstrar o quanto eu estava de coração partido escutando o que Minho dizia, queria passar alguma força para ele. — Mas Heeseung me seguiu até aqui atrás de vingança e descobriu que eu sou o Spy.

— Ele tá te chantageando com isso? 

— Ele disse que vai contar pra todo mundo. Se meu pai souber que quebrei a nossa promessa, vai me levar de volta pra Busan, e eu não quero voltar pra lá... — segurei seu rosto com a mão quando ele abaixou a cabeça.

— Ei! Tá tudo bem, nós vamos dar um jeito juntos, tá? — coloquei o maior otimismo em minha voz que consegui.

— Ky, não quero que você se envolva nisso. Heeseung é uma pessoa horrível, e eu nunca iria me perdoar se você acabasse se machucando por minha causa.

— Tsc, Lee Minho... — fingi deboche com uma careta — Eu não tenho um pingo de medo dele.

Levantei da cama em um pulo e o garoto me encarou confuso.

— Yohan me ensinou muitos golpes de Taekwondo, não se preocupe — disse, enquanto fazia alguns movimentos desengonçados. 

Minho gargalhou me olhando, e aquilo foi o suficiente para mim. Não me importo de parecer ridícula se for para conseguir ver um sorriso dele. 

— Pensando bem, acho que não preciso mesmo me preocupar com você — ele continuava rindo dos meus movimentos —, quem conseguiria atacar alguém que sabe fazer esses golpes? 

— Pois é! Agora vem cá! — segurei em sua mão, o puxando para levantar da cama. 

Ele pendeu a cabeça para o lado de um jeito fofo, provavelmente sem entender minha ação. Me aproximei dele, o abraçando o mais forte que podia e ele retribuiu, enterrando o rosto em meu pescoço. Minho realmente passou por muita coisa.

— Você não tá sozinho — sussurrei em seu ouvido —  E eu vou fazer tudo que puder pra te proteger, Minho. 

Love Spy • Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora