44• Em Pedaços

562 80 66
                                    

Quando a segunda-feira chegou, eu não queria me levantar para ir à escola. Não queria mesmo. Meus olhos estavam inchados por ter chorado nas duas últimas noites e eu tinha certeza de que não conseguiria encarar Minho no colégio depois do que aconteceu na competição. 

Naquele dia, depois de encontrar Heeseung, eu saí do ginásio sem avisar ninguém e, desde lá, tenho me escondido em meu quarto, com a porta trancada e as cortinas fechadas. Não queria que ninguém visse o estado deplorável em que eu me encontrava, nem mesmo Yohan. 

Minhas lágrimas rolavam a cada vez que Minho vinha em meus pensamentos, e não foram poucas vezes.

Minha cabeça doía e meu coração se apertava só de pensar em como ele vai se sentir se me vir com Heeseung no colégio. Mas eu não tinha outra opção senão ceder à sua chantagem, mesmo que isso custasse a minha infelicidade. Não suportaria ver Minho perder tudo que ama e destruir a nova vida que ele finalmente conseguiu construir aqui em Seul depois de ter sofrido tanto em sua antiga cidade.

Senti meu peito se rasgar quando o nome de Minho surgiu na tela do meu celular. Mais uma vez. Já havia recusado dezenas de suas ligações durante o fim de semana, não sabia o que fazer e nem o que falar para ele. 

Me sentia em um beco escuro e sem saída.

Pensei em me arrastar para fora da cama, precisava me arrumar para ir à escola, mas meu corpo não me obedeceu. Só então percebi o quão quente eu estava e como os calafrios eram incômodos, mesmo debaixo de um edredom pesado. Não demorou muito para minha mãe vir me procurar.

— Filha? Você tá atrasada. Tá tudo bem?

Escutei minha mãe entrando e cobri os olhos imediatamente com a máscara de dormir que usava quando a claridade incomodava o meu sono, não queria que ela notasse que eu havia chorado. 

— Não tô me sentindo muito bem, mãe — resmunguei, me encolhendo debaixo do edredom pelo frio que sentia. Minha mãe veio até mim, tocando meu rosto para sentir minha temperatura.

— Ky, você tá com febre! — sua voz soou preocupada. 

— Não quero ir no médico — me apressei a falar, sabia que era a próxima coisa que ela diria —, só preciso descansar um pouco...

— Vou trazer remédio e um chá — ouvi seus passos se afastando da cama —, mas se não melhorar até a tarde, vou te levar no médico, você querendo ou não, ok? — apenas concordei.

— Mãe! — chamei, pegando sua atenção antes que ela saísse do quarto — E o colégio? 

— Vou ligar e avisar que você não vai — essa frase me aliviou tanto que meu corpo finalmente se sentiu um pouco relaxado depois de dois dias de pura tensão —, não se preocupe com isso e descanse. 

[...]

Quando acordei já era início da noite. O suor na pele e o calor que sentia indicavam que minha febre havia passado. Olhei para o lado e sorri fraco, vendo a bandeja com o lanche que tanto gosto em cima da mesa de cabeceira, provavelmente meu pai havia passado por aqui, ele é o melhor preparando minhas comidas preferidas. 

Me sentei na cama, pegando o celular e olhando com dificuldade para o visor devido à claridade da tela. Coloquei o aparelho no silencioso desde que fugi do ginásio sem me explicar para ninguém. Já havia recebido milhares de mensagens e ligações de Yena, Yohan e, principalmente, de Minho. Levando em conta que não dou sinal de vida a nenhum deles a mais de dois dias, não me surpreenderia se algum deles aparecesse em minha casa procurando por mim. 

Arrastei o dedo nas notificações de chamadas perdidas, as tirando de minha vista, como se isso fosse fazer a minha vontade de ligar para ele ir embora junto. Suspirei derrotada, escondendo o aparelho debaixo do travesseiro e levantei, pegando uma toalha para secar meu rosto suado, mas, ao passar na frente do espelho, eu enfim vi o péssimo estado em que me encontrava. Nem parecia o meu próprio rosto refletido ali. Os olhos azuis agora contrastavam com o roxo das olheiras e minha expressão era a de alguém que foi completamente derrotada.

Love Spy • Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora