36• Coragem

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Na escola, o primeiro dia após minha suspensão foi estranho. Talvez porque eu nunca tivesse sido suspensa antes, a atmosfera era diferente hoje para mim. Precisei me atualizar sobre as notícias dos dias que fiquei fora e Yena foi a responsável por me contar todas as fofocas. Não foi surpresa alguma pra mim quando ela contou que nenhum dos bullies foi suspenso, apenas Minho e eu. Segundo o diretor, Yeonjun e Heeseung estavam apenas brincando e nós dois partimos para a violência sem razão.

Nojo.

Peguei algumas anotações das aulas perdidas com Soojin e me apressei em terminar os exercícios de matemática antes do intervalo. Não podia me dar o luxo de ficar tranquila depois de ter perdido o conteúdo de três dias. Usei a carteira vazia ao meu lado para colocar alguns livros, aquele era o lugar de Yohan desde que ele veio estudar aqui no Songdong, mas com tantos treinos, é difícil vê-lo nas aulas. 

Ergui as sobrancelhas, ouvindo a cadeira ao meu lado ser puxada. Minho se sentou, empurrando meus livros para um canto e colocando sua apostila em cima da mesa.

— Pode me ajudar na cinco? 

Dei uma espiada no que o professor estava fazendo, a aula estava acabando e ele parecia entretido arrumando suas coisas. 

— Agora? Mas já é hora do intervalo — bastou eu dizer para ouvirmos o sinal tocar.

Todos começaram a se levantar, indo para o refeitório, enquanto Minho me olhava com um rosto pidão. Suspirei, sendo vencida por ele.

— Vamos, Ky? — Soojin me chamou, esperando eu me levantar. 

— Ah, não, eu-

— Tá na cara que ela não vai com a gente, Soo — Yena me interrompeu, dando uma piscadela para mim. — Ai ai... parece que o menino do café ficou no passado!

— Aish! — ergui o braço com o punho fechado, ameaçando acertá-la — Yena, eu devia te...

Em minha visão periférica, vi Minho olhando confuso a nossa discussão. Com certeza ele não sabia que o "menino do café" citado se tratava de Seungmin, mas, mesmo assim, aquilo me incomodou. 

— Hehe — Soojin riu, sem graça, puxando Yena dali pelo braço. — A gente já tava indo, tem pizza hoje na cantina! 

As duas saíram e fiquei sozinha na sala com o garoto. Eu estava brava apenas porque Yena citou Seungmin na frente de Minho? O que isso queria dizer? 

Bufei, cruzando os braços e dizendo mal-humorada:

— Vai querer ajuda ou não? 

— S-sim! — ele gaguejou, certamente assustado com o meu mau-humor — Só preciso ir ao banheiro antes, tudo bem?

— Ok, mas vai rápido. 

Quando o Lee saiu pela porta, eu soltei todo ar que estava prendendo num suspiro aliviado. Levei a mão ao peito, sentindo meu coração bater acelerado. Eu não sabia porque isso tinha mexido tanto comigo, quer dizer, Seungmin e eu não tivemos nada, mas pensar na possibilidade de Minho achar que tivemos algo me deixou apreensiva. Esse sentimento é tão estranho que me deixa zonza.

É oficial. Eu devo mesmo estar ficando louca.

Passei a mão em minha testa, a esfregando na tentativa de me livrar da dor de cabeça que esses pensamentos me trouxeram. 

De repente, notei que já fazia um certo tempo que Minho havia saído, ele estava demorando demais para voltar. Levantei, indo procurar por ele antes que o intervalo acabasse.

Segui pelo corredor vazio da nossa classe, não era comum ter alunos por ali na hora do intervalo, a essa hora, todos estariam no refeitório ou no jardim comendo e conversando com seus amigos. Quando me aproximei do banheiro masculino, ouvi algumas vozes se tornarem mais claras, uma delas com certeza era a de Minho. Parei, encostando minhas costas na parede bem ao lado da entrada do banheiro.

— Foi pra isso que você veio pra cá? Pra me infernizar igual fazia antes? — a voz de Minho estava alterada. 

— Pensou que se livraria de mim só porque mudou pra esse lixo de escola? — ele riu debochado e eu comecei a me sentir apreensiva — Você não é tão ingênuo assim, Minhozinho.

— Não mudei pra cá por sua causa, Heeseung, não pense que o mundo gira em torno de você. Só fique fora do meu caminho e não teremos problemas.

Então eles já se conheciam? É, eu já imaginava que havia algo acontecendo entre os dois. Mordi o lábio inferior, pensando se devia tentar interferir ou não. Eu sabia que era errado escutar uma conversa que não era da minha conta, mas ainda estava preocupada que a discussão virasse algo maior e Minho saísse machucado. 

— Há! Acha mesmo que tá no direito de exigir algo? Eu não vim de tão longe pra deixar barato o que você fez comigo — Heeseung riu, mas com certeza não era por achar graça. — Só não contei ainda pra todo mundo o que sei sobre você porque não quero que minha diversão acabe tão rápido.

— Não sei como conseguiu entrar nessa escola depois do que você fez, mas eu não tenho mais medo de você. 

Embora Minho dissesse isso com firmeza, eu sabia que não era totalmente verdade. Ele ficou assustado quando Heeseung o intimidou no laboratório, e percebi o quão desconfortável ele está no colégio desde que esse garoto se mudou para cá. 

— Não pense que vai viver em paz nessa escola, porque você não vai — a voz ficou mais baixa, o que me deu arrepios. — Não enquanto eu estiver aqui.

— Você não passa de um covarde — abri os olhos apreensiva, me assustando com o som da batida de uma porta das cabines do banheiro. 

— Eu vou acabar com você! — Heeseung esbravejou, e eu juro que pensei em entrar lá mesmo sendo um banheiro masculino — E depois disso, vou dar um jeito naquela sua namoradinha. 

Escutei um barulho abafado, como se um deles tivesse agarrado o outro pela roupa. 

— Se encostar um dedo na Kyra, eu mato você! 

Ouvi um arfar de dor em seguida.

— O que foi? Você não gosta tanto de fazer isso com os outros? Te incomoda que agora seja você preso na parede por outra pessoa? — Minho continuou, eu podia sentir a raiva em seu tom de voz — Só vou avisar uma vez, e espero que entenda. Faça qualquer coisa com a Kyra e você vai estar acabado.

Tampei minha boca com a mão. Nunca tinha ouvido Minho falar dessa forma com ninguém, era como se ele tivesse ganhado essa coragem de repente. Diferente dele, eu estava mais assustada do que nunca, meu coração batia loucamente dentro do meu peito.

— Então vamos ver quem vai acabar com quem — escutei outro som, provavelmente o Lee tinha soltado o garoto. 

Os passos dentro do banheiro foram se tornando mais próximos e eu me virei de costas, me afastando da porta e colocando o celular na orelha rapidamente para disfarçar. Espiei por trás do ombro Heeseung sair bravo ajeitando a gravata do uniforme, ele sequer notou que eu estava ali, passou como uma flecha na direção oposta e dobrou a esquina no corredor, desaparecendo da minha vista. Guardei o celular de volta no bolso do blazer, esperando Minho sair do banheiro. Eu continuava muito preocupada com ele.

Alguns segundos depois, o garoto surgiu no corredor e seus olhos encontraram os meus imediatamente. Uma sensação esquisita tomou o meu corpo e minha barriga gelou completamente. 

Ele estava parado a poucos passos de distância de mim, seus cabelos levemente bagunçados não atrapalharam em nada a sua aparência perfeita. Meus batimentos estavam loucamente descompassados, mas agora eu sabia que não era mais por causa do medo. 

Era ele. Por causa dele. 

E eu precisava, mais que tudo, saber se ele estava bem. Meu coração praticamente implorava que eu me aproximasse, que eu o tivesse perto de mim.

E, numa atitude que nunca imaginei tomar, eu corri até Minho e o beijei.

Love Spy • Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora