Era o último dia da minha suspensão e eu estava na casa de Yohan o esperando para assistirmos um filme. Eu conversava com a mãe do garoto enquanto ele tomava banho, já que tinha acabado de chegar do colégio depois de treinar a tarde toda.
O fim da tarde hoje estava particularmente bonito, o que me dava certeza de que eu veria um lindo pôr-do-sol logo logo.
— Yohan, não devia deixar a Kyra esperando tanto — a Sra. Kim o repreendeu quando ele surgiu na sala.
— Hm... então, sobre isso... — Yohan coçou a cabeça sem jeito, correndo em seguida para se curvar para mim. — Eu esqueci que combinei de ajudar o Jisung hoje, não vou poder ver o filme com você.
Eu ri, o erguendo da reverência.
— Tudo bem, Yohanie, a gente assiste depois — acariciei o topo de sua cabeça como se fosse um cachorrinho. — O que o Jisung quer?
— A competição tá chegando e prometi ajudar ele. Como é proibido treinar a noite na escola, vamos pro parque aqui perto — o garoto sentou do meu lado no sofá, ajeitando o cabelo com as mãos — Mãe, tudo bem se eu for, né?
— Espera, você ainda não tinha pedido pra ela? — gargalhei, vendo sua mãe semicerrar os olhos em sua direção. Yohan deixa tudo sempre pra última hora.
— Vou pegar um dobok limpo pra você — ela saiu, indo buscar o uniforme de treino dele.
— Obrigado, mãe! Te amo! — gritou, fazendo conchas com as mãos ao lado da boca. Em seguida, voltou sua atenção para mim — Quer vir junto?
— Ver vocês dois se chutando? Parece tentador.
— Então você vai?
— Bom, acho que não tenho nada melhor pra fazer.
[...]
Quando chegamos no parque, Jisung ainda não estava lá. Sentamos nas arquibancadas da quadra à céu aberto e ficamos ali, batendo papo, enquanto aproveitávamos a brisa fresca que chegou junto com o anoitecer. Me afastei um pouco de Yohan, apenas para ter espaço suficiente e deitei de barriga para cima na arquibancada, olhando as poucas nuvens lá no alto. Mesmo que o céu estivesse quase todo limpo, não conseguia ver estrela alguma, essa é a parte ruim de morar em uma grande metrópole.
— Quando fomos no acampamento dava pra ver até algumas constelações — comentei, esperando a resposta do meu amigo. Entretanto, ela nunca aconteceu.
— Ah, é, eu me lembro bem daquele dia — me assustei, vendo Minho me olhando de cima e meus olhos saltaram em surpresa.
— Minho?! Ya! — me ergui rapidamente, sentando, enquanto tentava ajustar minha respiração — Cadê o Yohan?
— Tá ali, ué, se alongando com o Jisung — ele deu de ombros, apontando com o polegar e se sentando ao meu lado em seguida.
Sua fala foi tão obviamente idiota que me fez rir.
— Você precisa parar de me assustar desse jeito!
— Eu não tenho culpa de você estar sempre distraída por aí.
Se fosse há um tempo atrás, eu provavelmente daria uma resposta atravessada para ele, mas não tive vontade de fazer isso. Por algum motivo, eu não me sentia mais emburrada quando ele tentava me provocar.
Ficamos em silêncio por um tempo, observando nossos amigos lutarem na quadra. Yohan dava algumas dicas para Jisung, que por sua vez, tentava golpear o outro. Acho legal que eles estejam mais próximos, dos meninos que fazem parte da equipe de Taekwondo do Songdong, com certeza Han é o mais legal entre eles.
— E então — resolvi quebrar o silêncio —, pronto pra voltar pra escola agora que nossa suspensão terminou?
Analisando a expressão que tomou o rosto de Minho, eu percebi que não deveria ter mencionado esse assunto. Seu rosto estava triste por alguma razão, mesmo assim, ele soltou um riso fraco, dizendo:
— Queria não ter que voltar pro colégio.
O clima pesado foi cortado por Jisung e Yohan, que vieram em nossa direção ofegantes, os dois se jogaram na arquibancada ao nosso lado, tomando água em suas garrafinhas. Han se ergueu apenas o suficiente para me olhar e me cumprimentar com um aceno, enquanto ainda tomava o líquido em sua garrafa.
— Aish, essa água tá muito quente! — levantei as sobrancelhas, vendo o resmungo de Yohan. Ele tampou a garrafa com um semblante mau-humorado.
— Vou buscar umas bebidas pra gente! Minho, quer vir comigo?
Os três garotos se entreolharam por um segundo, talvez estranhando o meu convite para Minho. Todos sabiam da nossa relação tipo gato e rato. O Lee se levantou, concordando com um "uhum".
Caminhamos devagar até uma loja de conveniência, permanecemos em silêncio no caminho. Eu não sabia o que de fato estava acontecendo com Minho no colégio, mas sabia que havia algo errado desde que Heeseung se mudou para nossa escola. O dia da briga no laboratório não foi a primeira vez que Heeseung tentou intimidar Minho, ele também já o havia empurrado de propósito na aula de educação física antes disso.
Eu não queria ultrapassar os limites e questionar Minho sobre isso, mas confesso que minha preocupação me fazia querer saber o que estava acontecendo.
Nós pegamos algumas latas de refrigerante e sucos e pagamos no caixa, depois que citei nossa volta para a escola amanhã, eu não vi mais o sorriso do garoto aparecer. No caminho de volta, segurei o braço de Minho quando passamos na frente de um banco, ele ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Vamos sentar um pouco.
Ele não se opôs, mas permaneceu quieto, sentando ao meu lado no banco. A vista ali era bonita, por mais que fosse no meio da cidade. A rua onde estávamos era cercada por uma fileira de árvores de cada lado, e por ali não passavam carros, apenas pedestres. Já era outono, então as árvores não tinham nada além de galhos secos e algumas folhas alaranjadas, mesmo assim, não deixavam de ser bonitas.
Peguei um refrigerante na sacola e entreguei para Minho, em seguida, peguei um para mim também. O garoto abriu o seu, mas era como se seus movimentos fossem apenas automáticos, não parecia que ele estava ali de fato.
— Tem algo acontecendo na escola, né? — chamei sua atenção, mas ele não pareceu surpreso com minha pergunta. Imagino que já estivesse esperando por ela.
— É, parece que todo mundo já percebeu isso — sua voz soou indiferente ao responder, mas eu podia sentir que ele estava triste.
— E tem a ver com aquele Heeseung, né?
Ele suspirou, dando um gole em sua bebida em seguida. Não parecia querer falar sobre isso.
— Tudo bem, não precisa responder — disse suavemente. — Eu só... odiei ver ele te tratando daquele jeito.
— Acho que não te agradeci por aquele dia — ele sorriu fraco, me olhando. Senti meu corpo estremecer. — Obrigado por se importar.
— Ah, aquilo? Aquilo não foi nada! — coloquei um tom divertido na voz, tentando animá-lo de alguma forma — A gente acabou com ele junto. Viu como ele caiu no chão igual um idiota medroso quando você jogou a mesa pra cima dele?
Minho assentiu balançando a cabeça e finalmente um sorriso verdadeiro surgiu em seu rosto. Eu ri junto. Talvez ele estivesse pensando no mesmo que eu, quase nos encrencamos de verdade dessa vez, mas agora que passou, é engraçado lembrar disso.
Nós ficamos ali mais um tempo, terminando as nossas bebidas. Quando decidimos voltar para o parque, Minho se levantou primeiro e, num impulso, me levantei também, segurando sua mão. Ele me encarou surpreso, ao mesmo tempo em que eu tive a mesma sensação de choque elétrico da primeira vez que nossas mãos se tocaram por acidente.
Seus olhos tinham uma profundidade tão grande que pensei que me perderia neles.
— Minho, eu... não sei o que tá acontecendo na escola e nem porque aquele garoto te odeia, mas...
— Kyra, eu-
— Ei, você não precisa me explicar nada — sua cabeça estava baixa, então eu a ergui levemente com a mão, sorrindo ao ver seu rosto. — Seja lá o que for, eu vou estar do seu lado. Você pode confiar em mim.
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Love Spy • Lee Know
FanfictionO baile anual de boas-vindas do Colégio Songdong sempre foi divertido para Kyra e, em seu último ano escolar, não seria diferente. Ainda mais quando o tema da festa era uma de suas coisas preferidas no mundo: Cosplays. Com pais doces em casa e o st...