Como Reconquistar Esse Garoto? - II

3 - Paz mundial

Você simplesmente sabe.

Não há como esconder algo assim. É muito óbvio.

Você até tentará mentir pra si mesmo dizendo que essa pessoa não é capaz disso baseado no que quer que ela seja. Você tentará a todo custo fazer com que ela se torne alguém melhor só para que não haja um risco, mesmo que mínimo, dela te machucar. Mentirá pra si mesmo todos os dias, só para não admitir que ela vai te magoar. Porque não importa muito o quanto alguém é incrível, confiável ou empática; se ela tiver a capacidade de te decepcionar, ela vai. Não há pra onde correr.

E você possue essa capacidade, Colin.

Eu te olho nos olhos essa noite entre a multidão com os flocos gélidos de inverno caindo sobre mim, e compreendo tudo. Finalmente as consequências dos meus vários atos chegaram e você é a principal causa disso. Aqui está você; tão real, deslumbrante e magnífico, sendo aplaudido de pé por todas essas inúmeras pessoas. Eu sei o quão é especial apenas por poder te olhar nos olhos tão de perto.

Você não é como todos que entraram na minha vida. Na verdade, você não é como ninguém. Será apenas mais um erro tentar novamente te comparar com alguém.

O sorriso natural que se estende no teu rosto aquece meu corpo. Eu costumava dizer que o coração é só um órgão e não há como ele bater por alguém além de você mesmo, e eu sempre acreditei fielmente nisso porque soava um absurdo ir contra a lógica. Mas quando você sorriu tão singelamente pra mim e meu coração acelerou as batidas, tudo se tornou uma tremenda farsa. Ele bate por você e não só por mim. Após tantos desencontros, finalmente reencontrei o meu destino.

Mas as vezes, só as vezes, o destino é só uma maldita maldição. Você até pode escapar de um destino bom, mas nunca de um cruel.

Muitos anos se passaram, já nem sei ao certo dizer quando foi que tudo começou a desandar na minha vida.

É véspera de ano novo. O dia perfeito para deixar o passado para trás e pensar no futuro que virá. As pessoas ao meu redor estão felizes, comemorando com as pessoas que amam, celebrando um ano de vitórias. Não há muito o que celebrar. Mesmo com tanto sucesso, me encontro aqui sozinha.

Nova Iorque, a cidade que nunca dorme mas que curiosamente mais me deixa cansada e sonolenta. Tenho estado nesse lugar por vários meses, às escondidas; aprendendo o necessário para poder te encontrar de novo. Não sei se é o momento certo, mas não posso evitar, já que você se reunirá para celebrar o ano novo num baile de gala patrocinado pelos magnatas hipócritas que tem dinheiro para doar mas nunca tempo para dar "bom dia".

A festa é para, principalmente, celebrar nossa colaboração com sua empresa. Eu não queria estar aqui, mas meus chefes tem uma opinião diferente da minha e são eles que pagam meu salário. Sou a principal representante e é meu dever fingir cortesia.

Ao chegar na entrada, através da janela de vidro do carro, posso ver a quantidade de pessoas que se reúnem para a festa. O tanto de fotógrafos e repórteres que já se encontram no local não me surpreende. É o lugar perfeito para se estar, mesmo num dia tão banal.

Saio do carro, ajeito meu vestido a tempo de ser notada. Como abrutes atrás de carne morta, cercam-me. Eu nunca fui famosa ou chamava muita atenção, digamos que passava despercebida pelos lugares e eu apreciava isso de bom grado. Gostava dessa paz. Mas com meu sucesso, comecei a me tornar famosa entre os empresários e magnatas, já que sou a principal responsável pelos fabulosos carros de luxos que dirigem, exibem ou guardam na garagem como um mero troféu.

Ao lado de dentro, sou recepcionada por olhares curiosos. Ninguém aqui me conhece realmente. É engraçado, não é, Colin? Minha presença costumava significar confusão e todos evitavam isso. Será que todos aqui continuariam me olhando com tanto impressionismo se soubessem que parti o coração do menino de ouro deles?