Sorrateiramente você se aproxima, como um lobo atrás da sua presa. Você rapidamente me reconhece mas finge ignorância, e arrisco a dizer que até tem medo da minha presença. Talvez, bem lá no fundo, esteja com receio de que eu diga em voz alta que te conheço. Acho que eu te lembro de uma época especialmente marcante que vem tentando arduamente esquecer. Por isso sorri como se eu fosse apenas mais uma dessas mulheres ao redor sem muito importância ou significância.
Estende a mão e me fita, deslumbrantemente sorridente.
— Você é Caina Díaz, a famosa engenheira mecânica. Muito prazer, eu sou Colin Hawkins.
Encaro a mão estendida no ar com uma enorme interrogação nos olhos. Você realmente fingirá que não dividiu um momento tão feliz comigo, Colin?
Foi como eu disse antes, para cada acontecimento na vida, há sempre alguém que chora mais, sente mais, sofre mais. Você foi essa pessoa, certo?
— Nós já não nos conhecemos? Você me parece familiar. — analiso, estranhamente instigada a ver até onde irá para negar nosso passado. O sorriso vacila e por alguns segundos acho que obterei sucesso. Um pouquinho mais e eu te desmascararei.
Quem sabe outro dia.
— Deve ter estado com tantos empresários diferentes ao longo dos anos que não estou surpreso por achar que já nos conhecemos. — responde naturalmente, soando tão sincero que me faz até acreditar que o nosso passado não passou de uma mera ilusão. Ergue o queixo e me encara com certa prepotência. — Estou ansioso para trabalhar com vocês.
Seu sorriso sarcástico causa ainda mais tensão. Você parece estar saboreando uma vitória de algo que eu nem lutei e isso é frustrante pra caramba!
Como pode ser capaz de fingir ignorância quando esperei tanto por esse reencontro? Eu só quero te perguntar se está bem, como foi sua recuperação...
— Você tem razão, senhor Hawkins. Muitos empresários estiveram na minha vida. Eu confundo telefones, mas jamais um rosto. — respondo por fim. Aceno - com a cabeça - para Rebekka e Micael, me despedindo. — Estou ansiosa para o nosso próximo encontro.
Você entreabre os lábios na menção de rebater algo, mas os sela tão rápido como um raio, desistindo de iniciar uma guerra que não está pronto para vencer. Ainda assim, parece determinado a me fazer acreditar que não nos conhecemos, então faço o que tenho que fazer e saio antes que possa ter a chance de dizer algo a mais. A festa acaba pra mim, vou em direção a saída com o propósito de ir embora. Eu quase obtenho sucesso. A mão no meu pulso impede minha fuga.
A surpresa não passa despercebida. Nos fitamos por alguns segundos, tanto ele quanto eu já esperávamos esse encontro.
— Já faz muito tempo. — se afasta para me olhar, examinando-me detalhadamente, em busca de algo que indique que eu não esteja bem. Suspira ao constatar que está tudo bem. — Você está bastante diferente, quase não te reconheci. Como tem estado? Você sumiu do mapa. Literalmente.
Eu machuquei tantas pessoas com a minha partida que será difícil me retratar com todas. Mas eu quero - pelo menos - me desculpar por não manter contato. É que, Colin, manter o Lucas ou os seus amigos na minha vida significava manter você também. Eu sabia que se continuássemos amigos, inevitavelmente iríamos nos esbarrar mais vezes. Mesmo que tenha sido doloroso seguir sozinha, foi mais justo com você.
— Acho que sumir foi a opção mais sensata que encontrei. Minha presença significava caos. Naquela época eu não era boa companhia nem pra mim mesma, quanto mais pra vocês.
Ele me fita por algum tempo, aparentemente entristecido com minha resposta. Inesperadamente me puxa para um abraço. Kart está muito diferente. Se tornou um homem bonito, com presença marcante e não esbanja mais tanta espontaneidade.
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Como Reconquistar Esse Garoto? - II
Roman d'amourNesse conto, eles não são os mocinhos com um passado doloroso em busca de rendição. Eles são os vilões da própria história. Por isso lutam contra a força do universo e o querer do destino, porque não aceitam o que a vida os impôs. Eles querem escrev...