Colin Hawkins
O mundo é um lugar onde as pessoas dominam a maior parte dele, e a parte que não conseguem dominar, destróem. Quando criança, meu pai costumava dizer que é muito fácil abrir mão do poder quando não é tudo o que você tem, caso contrário, é impossível. Minha família sempre foi muito pragmática, não havia meio termos entre negócios e relações pessoais. Mesmo aos 10 anos, tive que mostrar meu valor como integrante da renomada família, caso não o fizesse, seria descartado da mesma forma que descartamos um papel rabiscado na lata de lixo.
Aprendi muito cedo o quão valioso é o seu sobrenome. Para muitos, uma identificação. Para a minoria, um passaporte. Mas para mim... um bilhete dourado. Nasci numa família cuja fortuna poderia sustentar um país. Como homem, não deveria me preocupar com nada além dos negócios porque esse era o dever dos homens.
Minha mãe fez o que tinha que fazer; me deu à luz, me ensinou a andar e a falar. Após isso, vieram os professores e orientadores, que me ensinaram etiqueta; a como me vestir e me portar perante a sociedade. Não tive tempo suficiente para aprender a ser uma criança, pois estava ocupado demais me preparando para o meu brilhante futuro. Ninguém nunca perguntou minha opinião. Meu irmão, recebeu a benção de ser o caçula e quase nunca parava em casa, e minha mãe estava mais preocupada em garantir meu futuro. Estupidamente aceitei o que a vida havia me oferecido. Me tornei o garoto prodígio; inteligente, perspicaz e esperto.
De fora, parecia um sonho de contos de fadas. Mas por dentro, foi o pesadelo real.
Abri mão da minha felicidade em nome dos negócios. Entrei numa guerra acirrada pelo poder contra meu pai, trai a confiança do meu irmão e machuquei a mulher que jurei amar até o fim dos meus dias.
Silenciosamente eu sofri, e sorri para disfarçar.
Então, um dia, eu decidi. Decidi que viveria por mim e não mais pelos outros. No dia que me libertei da minha prisão, foi o mesmo dia que me tornei prisioneiro de mim mesmo. Percebi que para me tornar livre, teria que me tornar muito mais poderoso que meu pai, muito mais esperto e impiedoso. Se eu quisesse me libertar dele, deveria destruí-lo primeiro. Porque na lutar pelo poder, ou você destrói seus oponentes, ou eles destruirão você. Não há meio termo.
Há dez anos atrás, estava com meus 24 anos. Havia conquistado tudo o que minha família desejou pra mim. Embora tão jovem, já carregava comigo várias conquistas. Aguentei esse inferno durante duradouros meses, onde minha única fuga da realidade, foi um lampejo de esperança que me assombrava nas noites frias e solitárias.
Certo dia, algo mudou.
Me senti apaixonado por uma garota que fazia questão de provar que eu não era suficiente. Você foi... Como posso explicar sem soar tolo? Meu único amor. Com o passar do tempo, ao me envolver com tipos diferentes de pessoas, conhecer histórias e lugares, cheguei a conclusão de que não queria que você ficasse marcada na minha vida como meu único amor. Porque não podia continuar apaixonado pela sua tristeza e as marcas que essa relação me deixou. Se realmente esse for o caso, não sou capaz de admitir ter vislumbrado um reencontro com uma alma tão destrutiva. Fazer isso me fará ver o quanto estou vazio por dentro. Tão vazio que me apaguei a uma fagulha de esperança de estar com alguém capaz de enxergar além desse eco dentro de mim.
Mas é que o mundo ficou muito silencioso depois que você se foi, Caina. Então eu só... passei a pensar em você durante noites solitárias. Te encontrei nos meus pesadelos e nos dias tristes, e em algum momento, comecei a te esquecer. Conheci outras garotas, visitei outros lugares, aprendi outras culturas, e ao me dar conta, já estava apagando você da minha memória.
Mas será que... após tantos anos, finalmente, faz alguma ideia do quanto sacrifiquei? Durante tantos meses me tornei um nada para que continuasse sendo a razão das minhas noites em claro. Sua presença na minha vida me modificou de forma que eu passasse a pensar em outras pessoas e não ser mais aquele garoto egoísta. E a cada dia que passou, a cada semáforo que parei e olhei para rua, desejei não te ver. Todas as vezes em que me afoguei no álcool e tragicamente segurei nossas recordações nas mãos, pensei em como havia mudado. Um dia, a vida começou a nos desafiar. Passamos a nos encontrar nos desencontros, e sorrimos para disfarçar o que cada encontro nos causava.
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Como Reconquistar Esse Garoto? - II
RomanceNesse conto, eles não são os mocinhos com um passado doloroso em busca de rendição. Eles são os vilões da própria história. Por isso lutam contra a força do universo e o querer do destino, porque não aceitam o que a vida os impôs. Eles querem escrev...