Uma vez, na infância, meu pai disse que me desertaria. Eu estava no ensino médio. Nunca estive numa fase tão ruim, vivia brigando na escola, me metendo em encrenca. Perdi as contas de quantas vezes fui suspensa da escola. Foi uma época onde meu avô começou a me importunar para ajudá-lo a consertar carros quebrados e montá-los, peça por peça. Esse simples gesto despertou meu interesse na mecânica.
Falta poucos minutos para o fim de ano e após conversar com o Kart, sou convencida a ficar um pouco mais. Voltamos a sacada e procuro Rebekka entre os convidados na intenção de apresentá-la a ele. É nessa breve observação que meus olhos caem sobre uma cabeleira escura que se escora no batente da sacada, passando a observar o céu, tão ansioso quanto o restante.
Meus pés se movem quase que automaticamente a sua direção. Uma força maior que eu mesma me guia até você. É como se nada no mundo fosse capaz de me parar. Em questão de segundos estou ao seu lado, te fitando fixamente como se fosse a coisa mais surreal do universo.
E é.
Não há chances de alguém ser tão interessante de boca fechada.
— Um dólar para cada pensamento...
Olha-me de canto de olho, sem esboçar reação por me ver. Inesperadamente sorri. Um sorriso um tanto esmagador. Há algo em você que me faz acreditar que tudo que o Kart me contou, é mentira. Quando você me olha nos olhos, fica muito evidente. Os olhos... eles não mentem, Colin. Mesmo que sua mente tenha me esquecido, seu coração com certeza se lembra.
— Meus pensamentos valem uma fortuna. No dia que eu os vender por 1 dólar, me interne num hospício. — rebate arrogantemente. Você sempre soube que possue uma áurea diferente dos outros; seus movimentos, seus gestos, cada mínimo ato bem pensado, são frutos de anos de etiqueta. Você age elegantemente como todos os outros, mas isso não me engana.
— Por que fingir que não me conhece? — pergunto naturalmente, imersa numa curiosidade insaciável. Permanece sorrindo, sem se afetar. Não soa disposto a ceder, nem mesmo sob pressão.
— E eu deveria te conhecer? — indaga de volta, franzindo o cenho em seguida, aparentemente confuso com meu interrogatório. — Posso ter ouvido sobre você por alguns empresários, nas notícias locais. Talvez até tenhamos nos encontrado casualmente em algum lugar. Mas isso não significa que nos conhecemos, não é?
— No dia do seu acidente, nos encontramos, você lembra?
Bingo! Seus olhos finalmente transpareceram algo além da vitória. Você não está preparado para esse tipo de pergunta. O fato de eu estar constantemente convivendo no caos, realmente te faz acreditar que eu não lembraria de mais um dia caótico.
Fica de frente para mim. Semicerra o maxilar e comprime os lábios numa linha reta, forçando-se a sorrir naturalmente para que ninguém ao redor note o quanto minha presença te afeta. Você plantou uma imagem na sociedade e precisa mante-la, por isso nosso encontro é inconveniente e gera tanta desordem.
A verdade é que nunca deveríamos ter voltado a vida um do outro. Deveríamos ter sido mais espertos desde o começo.
— Você parece mais desesperada do que eu. — retruca, desafiando-me através do olhar. Os olhos escuros... tão traiçoeiros e egocêntricos.
— Por que acha isso?
E novamente o sorriso vitorioso vibra intensamente na feição angelical. Fatalmente ri, o sarcasmo sendo desferido de maneira mais bruta possível.
— Porque eu não lembro de você.
Pow! Me atinge como um soco. E quando eu começo a sentir o gostinho da vitória, você vem e sutilmente me mostra o que realmente significa vencer. A sensação é de que esses nossos encontros geraram uma sequência de mal entendidos e após muito tempo estamos frente a frente, e eu me sinto na obrigação de provar que a espera valeu a pena.
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Como Reconquistar Esse Garoto? - II
RomanceNesse conto, eles não são os mocinhos com um passado doloroso em busca de rendição. Eles são os vilões da própria história. Por isso lutam contra a força do universo e o querer do destino, porque não aceitam o que a vida os impôs. Eles querem escrev...