Há momentos na vida que quando damos um passo para frente, estamos dando - ao mesmo tempo - mais dois para trás. Essa noite, uma década depois, deixamos o passado para trás. Não teve fogos de artifícios para comemorar tal superação. Tanto eu quanto você, entendemos que o fim chegou. Esse ciclo de dor e arrependimento só durou tanto porque precisávamos nos encarar e nos perdoar por nos machucarmos tanto, e fomos imaturos demais para fazer isso antes. Por isso arrastamos esse término por tantos anos.
Nos libertamos.
O que faço agora que não preciso mais evitar você?
O que serei agora, já que não preciso mais fingir ter te esquecido?
O que farei agora, já que não precisamos mais nos evitar?
E se nos tornarmos alguém que não falaremos sobre?
Seguimos caminhos opostos, e o adeus se torna uma despedida dura demais para enfrentarmos. Eu me sinto liberto dessa prisão, finalmente saio do quarto escuro em que havia estado por tanto tempo. Me sinto livre, leve e solto. Mas... ainda não estou feliz.
O primeiro destino após nos separarmos, é ir me encontrar com os meus amigos, com as pessoas que estiveram comigo quando tudo se complicou. Marcamos de ir a uma festa, um lugar que não havia ido já fazia anos. Todos se surpreendem com a minha sugestão e não escondem a empolgação. A gente brinda, dança, conversa e se diverte como nos velhos tempos.
Estamos sentados na ala VIP principal da boate que pertence a um amigo do Yong. Kart dança com Abie, ambos se divertem e eu sinto inveja dessa leveza que esbanjam. Vale vem a minha direção com uma garrafa de champanhe na mão. A balança no alto e a abre, causando chuva de espuma.
— Não estão exagerando muito? — pergunto ao ver que Yong joga gelo no Kart, e o mesmo tenta soca-lo.
Vale senta no sofá ao meu lado, me entregando uma taça e servindo com champanhe.
— A última vez que fomos todos juntos a uma festa, foi quando estávamos na faculdade. É mais que normal que a gente exagere.
Concordo. A última vez que fomos a uma festa me vem à cabeça. Foi no dia que você me olhou nos olhos e jurou nunca ter me amado. Por isso deixei de ir a festas. Porque tudo isso me lembrava você.
Mas não dói mais.
Eu só compreendo que foi melhor assim.
— Deveríamos sair assim com mais frequência... É bom. — apesar da música alta, ainda sou capaz de ouvir sua risada, que faz com que eu - curiosamente - o olhe.
— O que é engraçado?
— O motivo que te trouxe aqui hoje.
Sei do que está falando e aonde quer chegar.
— Não tire conclusões precipitadas. — dou de ombros, bebendo do champanhe. — Só me senti nostálgico.
Outra risada. Essa é mais alta e vem carregada de sarcasmo.
— Por quanto tempo vai continuar fingindo?
— Do que está falando?
— Não se faça de ignorante. Acha mesmo que acreditamos que você esqueceu dela? — questiona, retórico. Há seriedade arranca meu sorriso. Olha em direção aos outros, que ainda dançam juntos. — Assim como fingiu que perdeu as memórias, nós fingimos que acreditamos porque foi uma decisão sua fazer isso. Mas está mais do que na hora de ser honesto consigo mesmo.
Quando uma pessoa que a gente ama nos machuca, devemos tirá-la da nossa vida, Caina. Se ela voltar, não devemos aceitá-la de novo, porque isso dará a ela uma nova chance de te machucar de novo. Eu te dei essa chance uma vez e mesmo com medo e receio, desejei que não fosse ser tão óbvia, mas você foi e não farei isso novamente. Dei a volta por cima e superei. Não voltarei para o que me deixou assim.
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Como Reconquistar Esse Garoto? - II
RomanceNesse conto, eles não são os mocinhos com um passado doloroso em busca de rendição. Eles são os vilões da própria história. Por isso lutam contra a força do universo e o querer do destino, porque não aceitam o que a vida os impôs. Eles querem escrev...