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Uma pilha de nervos. É assim que me sinto desde a retomada de contato de William. Embora, soubesse que depois de tudo que houve, eu não deveria estar me sentindo assim, mas isso não é algo que possa evitar.
E é exatamente por meu estado de espírito que estou deslizando de um lado para o outro da minha sala de estar. Por que deslizando? Porque possuo uma deficiência física desde o nascimento. O que significa que uso cadeira de rodas.
Não posso deixar de me lembrar quando, em nosso primeiro contato online, eu expliquei minha condição a William.
Foi logo na nossa primeira conversa.
'' Oi William. Obrigada por ter me aceitado. ''
Para minha grata surpresa, ele respondeu.
'' Que isso! De nada. ''
'' Desculpa a pergunta. Mas você sabe que eu sou?''
Sabia que podia parecer uma pergunta idiota, mas como nunca nos falamos no colégio, achava que ele não me conhecia.
''Claro que sei. Você não é a Julie Red do nono ano?''
''Nossa! Sou. Novamente, desculpa a pergunta idiota, mas achava que você não me conhecia. ''
''Rsrs. Sem problemas. Podemos nunca ter chegado a nos falar na escola, mas eu sempre te observei. ''
Não entendi na época, o porquê de me coração bater mais forte ao saber disso.
''Nossa! Confesso que estou surpresa ao saber disso. Principalmente considerando que você saiu do colégio e soube que completaria o ano escolar em outra instituição.
''Ah é? Pelo visto eu não era o único que observava um de nós aqui, não é?
Sua fala me fez lembrar que naquele dia, me lembrei de quando soube que ele havia se retirado do colégio para completar seu último ano em outro lugar.
Era mais um dia de saída da escola e eu estava novamente olhando a escadaria cinza do pátio, mas diferente dos outros dias, naquele, ela estava vazia.
_ Procurando alguém? –Provocou uma amiga sorrindo. _ William não vai estar mais sentado ali. Ele mudou de escola.
_Como soube disso? –Perguntei tentando esconder meu desapontamento.
_ Ele é melhor amigo do meu irmão. Ouvi uma conversa deles.
Naquele dia, fiquei triste com a possibilidade de nunca mais vê-lo. E nem ao menos, sabia o porquê.
Despertei das lembranças aquele dia e apenas continuamos a nossa conversa.
'' Mas tem razão. Eu realmente me retirei do colégio e completei o último ano em outra instituição. Nossa professora de matemática queria me segurar e me fazer repetir o ano pela matéria dela. Fazer o quê? Odeio exatas. ''
'Rsrs. Não vou te julgar. Também odeio. ''
'' Rsrs. Falando no nosso colégio. Como estão as coisas por lá? ''
''Não sei. Acabei saindo de lá também. ''
''Por quê? ''
''Minha família achou melhor que continuasse com os estudos em casa para me concentrar em minha reabilitação. ''
''Agora será você a me desculpar pela pergunta e se não quiser, não precisa responder. Mas o que houve com você? ''
Parte de mim, já estava cansada de explicar isso, mas não sei porquê, para ele, de repente não me importava.
''Sequela de nascimento prematuro. Resumindo nasci deficiente.
''Ah, entendi. Desculpa se te deixei desconfortável. ''
''Não se preocupe. Ter PC faz parte de mim.
''PC?''
'É o nome popular da minha deficiência. PC é de Paralisia Cerebral. Meu nascimento adiantado causou falta de oxigênio no meu cérebro e isso afetou meu desenvolvimento. Mais precisamente minha mobilidade. Por isso, uso cadeira de rodas e andador. ''
'' Nossa! Eu sinto muito. ''
''Não sinta. '' Me sinto com sorte. Sei que na escala de Paralisia, a minha é a de menor gravidade. Afinal não afetou meu cognitivo e mental. Além disso, tenho a sorte da minha família ter um alto padrão, podendo pagar uma reabilitação de ponta. Com isso, consigo ter um grau de independência bem elevado, embora com algumas adaptações é claro, mas para mim, já é o bastante. Não vou mentir é cansativo. Terapias, médicos e cirurgias, mas já faz parte da minha rotina.
De repente, fiquei com medo de estar falando demais.
''Desculpa, acho que falei demais. Ou melhor, digitei. Rsrs.
''Sem problemas. É admirável. Sua forma de pensar, digo. Aliás, isso comprova minhas impressões de você na escola. Sempre rindo e conversando com todos. ''
'' Gosto de levar a vida de forma leve. ''
''E está certa. Muito deveriam fazer o mesmo.
Embora ele tenha me dito isso, dias mais tarde, o convidei para o meu jantar de aniversário daquele ano, mas ele não compareceu, como também, não compareceu em diversos outros que o convidei no passar dos anos seguintes.
Com isso, até ele me visitar pessoalmente pela primeira vez, passei a achar que tinha vergonha de mim e essa possibilidade se tornou uma certeza quando declarei meu amor e ele nem ao menos, nos deu uma oportunidade.
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_ Minha menina, William acaba de chegar. –Desperto dos meus pensamentos e lembranças com nana Marie em minha frente.
E assim, como que para comprovar seu aviso, ouvimos uma batida na porta.
Nana Marie se apressa a abrir a porta e dar espaço para que William entre e se aproxime.
Então, com ele em pé diante de mim, me sinto voltando no tempo e assim, como aconteceu da primeira vez, o mundo parece ter parado.
_ Oi Julie. –Fala sem graça e visivelmente desconfortável.
Isso me deixa triste. As coisas não deveriam estar assim e parte minha, não pode deixar de me sentir culpada por isso, já que tudo mudou desde de que declarei meu amor.
_ Oi William. – Devolvo em um sorriso forçado.
Um silêncio desconfortável se instala e não faço ideia de como quebrá-lo.
Ah, meu anjo! Como foi que chegamos a esse ponto?
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Spin Off De Contratado Para Amar. -Contrato De Amor.
RomanceE se Julie soubesse da existência do contrato de William e Fernando? Mas do que isso, e se a forma de pagamento do empréstimo de William, isso é o casamento entre ela e Will fosse orquestrada por ela e não por seu irmão? O que alguém é capaz de faze...