03 de Março de 2022
Após mais algumas tentativas de ligações para Martha, a ansiedade me dominava de tal modo que eu não conseguia pensar em mais nada, como eu estou de folga hoje decidi vir diretamente até o apartamento dela. Sigo até as portas duplas da entrada onde do outro lado está o porteiro, logo em seguida falo com ele:
- Bom dia meu patrão - Não me lembro do nome dele, mas quero parecer o mais agradável possível. Ele estava anotando algo num grande caderno e me olha com rapidez - Gostaria de saber se a Martha está em casa - Como não é um prédio grande dá pra desenrolar essa informação apenas com o nome dela.
- Ah - O jovem porteiro responde - Você é o Isac Moura né? - Eu faço com que sim com a cabeça - Sinto muito mas ela não está.
Como ele me reconheceu das outras vezes que vim aqui eu decido perguntar algo mais pessoal dela:
- Você não tem informação de onde ela foi?
Os olhos deles parecem esmorecer e ele encara os lados com certo nervosismo até dizer:
- Peço perdão por não avisar, esqueci que tinha sido algo grave - Eu sinto um desconforto ao ouvir isso, junto a um medo frio como gelo - O pai dela faleceu - Eu coloco ambas as mãos na cabeça e começo a andar em círculos numa tentativa de aliviar o desconforto que me aflige neste exato momento - Pelo que eu soube ele era um dos seguranças da biblioteca que sofreu o atentado.
Rapidamente eu me viro e começo a sair da portaria do prédio, o jovem porteiro parece dizer algo mas não presto atenção. Antes de sair por completo eu preciso saber de algo, eu volto e pergunto ao porteiro:
- Você sabe onde está sendo o velório?
- Você está bem? Precisa de algo - Seu olhar está nervoso no momento - Eu posso...
- Eu tô bem - Corto a fala dele imediatamente - Você sabe onde o pai dela está sendo velado?
- Na casa velatoria próxima a casa onde os pais de Martha moram.
Antes mesmo dele terminar de falar eu saio definitivamente da portaria e em passos largos sigo até meu carro para então ir a caminho de Martha.
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Precisei estacionar o velho Landau um pouco longe da casa velatoria já que as vagas mais próximas de lá estão ocupadas. Assim que me aproximei vi diversas pessoas do lado de fora e percebi que nenhuma delas eram a Martha, como meu lado social não está muito aflorado no momento eu decidi entrar de maneira discreta e buscar por ela. Após alguns minutos vendo pessoas prestando condolências ao falecido, vi Martha junto a sua mãe próximas ao caixão fechado. Há uma fila de pessoas indo até elas, eu me posiciono no fim dela e vou seguindo o fluxo, percebo como a mãe de Martha está chorosa e com os olhos vermelhos, sinto um forte pesar por ela. O que mais me assustou foi o que reparei em seguida, Martha está parada encarando o chão, apenas recebendo as pessoas que prestam condolências de maneira automática, sinto um aperto no peito ao ver ela dessa maneira pois nunca tinha visto ela assim antes e isso além de me deixar mal me confunde. A fila anda e consequentemente eu chego até Martha e sua mãe, eu primeiro falo com a Joana, mãe de Martha:
- Sinto muito Joana - Ela me reconhece e me abraça - Eu não imagino como deve estar sendo sua dor.
- Tudo bem meu filho - Ela se afasta de mim de leve e me olha nos olhos, reparo como os olhos delas estão úmidos - Só cuida dela, não sei o que está acontecendo.
Eu faço com que sim com a cabeça e vou na direção de Martha, ela mantém o olhar fixo no chão até eu estalar os dedos na frente de seu rosto e ela focar em mim, só nesse momento eu consegui realmente perceber que ela estava ali:
- Sinto muito - Eu gesticulo um abraço - Não faço ideia do que está sentindo mas...
Ela me agarra pelo braço e me arrasta por entre as pessoas até o lado de fora, eu fico tão perplexo que só percebo que isso aconteceu quando estamos do lado de fora e levemente afastados da multidão, quando ela para de andar eu confuso a questiono:
- O que você tá fazendo? - Eu puxo meu braço do agarro dela - Pra que isso?
- Você ficou sabendo que a morte da Cohen provavelmente está ligada ao atentado que matou meu pai, né?
- Eu supus isso, ia comentar com você, mas não achei que fosse querer falar disso agora.
- Isso é a única coisa que eu quero além de te pedir uma coisa, Isac.
- O que? - Sinto um frio na barriga, como se esse momento fosse o início de uma longa jornada.
- Quero saber se você vai me ajudar a matar o filho da puta que fez isso.
O frio na barriga se intensifica, a força nas palavras de Martha me assustam, mas não mais que ouvir ela falando um palavrão pela primeira vez.
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Imperfeito
Mystery / ThrillerUma carta é deixada para a polícia por uma pessoa misteriosa e é encontrada pelo policial Isac no que parecia ser apenas mais um sequestro na cidade. Isac podia simplesmente deixar a carta com a perícia e seguir sua conturbada vida "em paz", mas alg...