CAPÍTULO 6

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03 de Março de 2022

- Basicamente sabemos que devemos unir a quantia de um "ano final" - Martha diz olhando para uma cópia da carta do suposto culpado pelos recentes atentados fazendo aspas com os dedos - Para que assim possamos descobrir dia, mês e hora dum fim?

- Mas o que especificamente seria a "hora dum fim"? - Eu questiono lendo uma outra cópia da carta em minha mão também fazendo aspas com os dedos - E por que ele escreveu essas duas palavras em runas, logo abaixo?

- Vamos por partes - Ela olha e aponta para um ponto no papel - Indo até o final da carta temos um nome: Marco Usai - Ela pega outros papéis postos ao lado na mesa - Segundo os registros da polícia não há ninguém com esse nome com passagem criminal em Aurora, o máximo que encontraram foi um garoto no Jardim de Infância com o mesmo nome.

- E isso nos leva até onde? - Questiono ela enquanto encaro ela revirar mais papéis.

- Isso não nos leva a nada em específico ainda, mas - Ela vira a carta em minha direção e aponta para a última linha dizendo - "Para o ano final de: Cleópatra, Alexandre e Haroldo", Marco Usai entrega na nossa cara que a união do ano final, ou melhor, o ano da morte de Cleópatra...

- Será dia, mês e hora de um fim - Eu completo a frase dela e ela me olha de olhos arregalados - Qual o ano da morte de Cleópatra?

Pesquiso rapidamente pelo Google no meu notebook e ao ler digo pra Martha:

- Ela cometeu suicídio no ano trinta antes de cristo.

- Cohen foi morta perto das três da manhã - Exclama Martha com exaltação.

- Do dia três do mês três - Eu encaro a cópia da carta e depois a encaro - O desgraçado tá realmente criando um jogo.

- Sim - Ela pega uma outra cópia da carta de Marco Usai - Usando isso podemos fazer o cálculo de quando o próximo crime ocorrerá e assim capturar o desgraçado.

Eu me sinto otimista em relação a isso, mas ao mesmo tempo sinto como se o desgraçado do Marco quisesse que alguém soubesse dessas informações. Eu já vi alguns filmes assim, pessoas com esse nível de organização estão sempre um passo a frente, coisa que eu sou burro demais pra entender. Percebo só agora que estou parado refletindo nisso e então Martha estala os dedos na frente dos meus olhos dizendo:

- Alô - Ela limpa a garganta e volta a dizer - Se Cleópatra é a primeira eu suponho que esse Alexandre seja o próprio Alexandre o Grande, pesquisa o ano da morte dele.

Faço isso com rapidez no meu notebook e então digo:

- Trezentos e vinte e três antes de Cristo.

- Somando os algarismos da oito - Ela pega uma caneta da mesa da minha cozinha e anota num papel - Às oito horas, do dia oito de Agosto, essa é a data.

- Isso que ainda não olhamos o real conteúdo da carta - Eu coloco na frente dela a minha cópia da carta e aponto para a primeira linha depois do título - Ele parece querer falar sobre morte.

- "Focando nos povos da mansão do espírito de Ptah, ela vem para que embalsamados vejamos uma nova vida..." - Martha lê da minha cópia que estendi na frente dela na mesa - Eu tô muito confusa com essa estrofe - Ela respirou fundo e encarou o teto.

- Vamos por partes - Digo de maneira calma, mesmo que não transpareça o que eu estou sentindo de verdade.

- Certo - Ela diz voltando a encarar a carta na mesa - Ele deve estar falando de algo relacionado a morte?

Enquanto ela diz eu pesquiso no Google: "povos da mansão do espírito de Ptah".

- O nome Egito é derivado do grego Aegyptos, que é a pronúncia do egípcio antigo - Eu viro a tela do notebook pra ela apontando pra palavra Hwt-Ka-Ptah, já que não faço a mínima ideia de como se pronuncia isso - Esta palavra significa "mansão do espírito de Ptah" - Martha me encara com um brilho nos olhos.

- Então traduzindo - Ela aponta para a linha na carta de Marco enquanto a lê - "Focando nos povos do Egito, ela vem para que embalsamados..." - Ela faz uma pausa como se estivesse tentando se lembrar de algo até finalmente se recordar - Embalsamado é uma palavra diferente para mumificado, se não me engano - Ela faz outra pausa, limpa a garganta e volta a ler - "...vejamos uma nova vida...".

- Então ele começa falando das nuances da morte e logo após cita como seria a morte para os egípcios?

- É o que parece.

- Tô me sentindo estranho em relação a isso - Digo enquanto coço o queixo.

- Por que?

- Porque eu sinto que isso tá muito fácil - Eu encaro os olhos castanhos dela, estes que expressam certa dúvida - Nós chegamos a essa conclusão em alguns minutos, se isso realmente for como estamos analisando a polícia já deve saber quando Marco cometerá o próximo crime.

- É, talvez você esteja certo - Ela encara o chão por alguns segundos - Pelo menos nós temos o privilégio de estarmos dentro da polícia e entendermos que eles não querem fazer nenhum alarde, além de que essa missão já está nas mãos da Polícia Civil que quer manter as investigações longe da mídia - Ela pega uma caneta e gira entre os dedos enquanto me olha nos olhos - Imagino que isso tenha sido feito por conta dos crimes de Seis, que foram amplamente midiáticos e até romantizados por algumas pessoas.

- Concordo - Digo ainda a encarando nos olhos - Mas isso ainda não explica o porquê da Polícia Civil não estar dando instruções à Polícia Militar sobre o próximo crime.

- Isso pode ser tanto pelo medo de um novo assassino em série - Ela para de girar a caneta entre os dedos - Tanto por eles não terem descoberto o que nós descobrimos.

- É, imagino que se a gente quiser descobrir mais sobre Marco Usai é melhor focarmos na carta.

- Certo - Martha diz enquanto esboça um sorriso de canto de boca.

Esse simples ato me faz sentir um adolescente com sua primeira paixão durante a escola, mesmo que eu seja velho demais pra isso. Sim, eu sou afim dela desde que a conheci se não ficou claro e eu sinto que tenho uma atitude um tanto quanto infantil em relação a isso. Para alguém da minha idade eu já devia ter colocado as cartas na mesa e dito o que eu sinto pra não ficar com essa incógnita na minha cabeça toda vez que lembro dela, mas acho que não sou muito experiente com relacionamentos, devo ter pulado essa fase durante a vida pra ser tão imaturo com relação a essa situação.

- Ei - Ela estala os dedos na frente do meu rosto novamente - Por que parou aí do nada?

Porque seu sorriso me tirou dos eixos sua gostosa. Era o que eu tinha vontade de falar como resposta, mas como eu disse, não lidei com isso da maneira correta e tenho que soterrar minhas emoções como sempre faço. Além disso, há o agravante que o pai dela acabou de falecer e isso contribui para agora não ser uma boa hora para este assunto.

- Não é nada - Eu sorrio fazendo um barulho baixo - Só lembrei de uma coisa.

- É útil para o que estamos fazendo agora?

- Não chega nem perto de ser útil - Eu volto a feição normal e volto a encarar a tela do notebook - Eu acho que consigo pesquisar mais a fundo sobre essas coisas egípcias num site específico, acho que o nome dele é...

No meio da frase eu sinto uma forte dor de cabeça, mas não uma comum de ressaca, mas como se eu tivesse levado uma marretada na testa, nesse exato instante minha audição parece ser suprimida e minha visão fica completamente turva. Eu sinto a força saindo do meu corpo e caio da cadeira que estou sentado batendo metade do corpo e da cabeça direto no chão. Ouço bem baixinho Martha falando meu nome, é tão baixo que parece que ela está dentro de um garrafa, vejo os pés dela se aproximando de mim e ela se agacha na minha frente, seu rosto está próximo do meu e sinto sua respiração, ela me sacode pelo ombro rapidamente mas isso é a única coisa que me lembro antes de ver aquilo.

Era como se eu estivesse tendo uma visão dos olhos de outra pessoa, vi ela chegando perto de uma grande construção, eu reconheço essa construção das imagens que vi na televisão, era a Biblioteca de Alexandria, lá eu tenho a visão dessa pessoa se aproximando de um segurança, era o senhor Arnaldo Corrêa, pai de Martha, mas por qual motivo eu tô vendo isso? E como uma resposta quase imediata a visão troca de cena e eu vejo um papel branco e nele está escrito de maneira rabiscada apenas uma palavra: Evoluído.

ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora