25 de Setembro de 2022 - 06:27
Eu dormi bem cedo ontem, não me lembro exatamente a hora, mas sei que dormi antes das oito. Ouvi os pássaros cantarem baixinho, o som da cidade e vi o sol raiar pelas frestas da janela.
Hoje é o fatídico dia do último crime de Marco Usai, por coincidência eu sinto que não dormi nada, levantei da cama e foi como sair de um colchão de brita. Minhas costas doem, meus olhos ardem e ainda sinto aquela pontada atrás da cabeça, fazia algumas semanas que não me sentia assim, talvez isso seja um sinal divino para eu me manter exatamente onde estou, deitado na minha cama.
Continuo deitado e estranho o alarme não ter tocado, só aí eu pego o celular e vejo que acordei quase uma hora e meia antes do mesmo apitar. Fico ali me revirando tentando voltar a dormir, mas é uma tentativa falha, eu consequentemente crio forças para me levantar e ir em direção a cozinha para fazer um café e assim ver se consigo começar esse maldito dia com o pé direito.
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- O que você acha que vai acontecer? - Martha fala sentada na outra ponta do meu sofá enquanto a televisão está ligada num canal de notícias - Já é quase meio dia e meia.
- Eu não faço ideia - Fico tremendo as pernas num claro sinal de ansiedade - A cada segundo que passa eu me sinto mais apreensivo com as possibilidades do que pode acontecer.
- Talvez se a gente tivesse insistido mais com a polícia? - Ela diz amargurada.
- Nós fizemos o máximo que conseguimos - Digo de maneira firme - Não dá pra guiar a polícia desse jeito.
- Tudo bem - Ela sorri amarelo - Espero que esteja certo.
- Tenho certeza que estou - Falo enquanto levanto e me alongo - Você tá com sua arma aí?
- Sempre - Ela usa calça jeans e tem a arma no coldre abaixo da blusa longa - Por que a pergunta?
- Não faço ideia - E realmente não sei o motivo - Talvez eu esteja tão paranoico que possa estar cogitando ele nos atacar.
- Mas isso não faz sentido, ele se encontrou com você, ele sabe muito sobre nós, por qual razão esperar isso tudo pra nos atacar?
- Ok - Digo me sentando novamente.
Alguns segundos se passam e ouço meu celular tocar, sinto um frio na barriga, eu não recebo ligações, ainda mais numa situação como essas. Eu pego o celular, vejo que são meio-dia e vinte e oito e só após isso vejo que quem está me ligando é minha mãe Isaura. Aquela pontada me atinge novamente, no mesmo lugar de sempre só que mais forte e eu sinto o mais puro e limpo medo, rapidamente eu atendo celular e um silêncio se estabelece até eu dizer desesperado:
- Mãe? - Ouço um vento bater no celular dela - O que foi?
- Oi filho - Me acalmo um pouco após ouvir a voz dela - Tô aqui onde você pediu pra gente se encontrar, meia hora antes.
- Que? - Eu fico sem palavras, as coisas começam a girar à minha volta.
- No cemitério - Ela tosse fraquinho - Pra visitarmos Luan.
- Mãe sai daí, agora - Eu gesticulo para Martha levantar e vou na direção da chave do meu Landau - Eu não te disse nada, foi alguém se passando por mim.
- Não filho, foi você - Ela parece estar caminhando - Estou aqui te esperando, você disse que ia ficar tudo bem.
Ela então desliga o telefone enquanto eu grito pra Martha desesperado:
- Eu não sei o que tá acontecendo, mas minha mãe é um alvo - Nós entramos no Landau na minha garagem - Eu sei disso, eu não falei nada com ela.
- Do que você tá falando? - Martha tem os olhos arregalados e parece apenas me acompanhar - Ela quem?
- Eu te explico no caminho.
- Fala pelo menos para onde estamos indo.
- Para o Cemitério Terra de Gigantes.
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Imperfeito
Misterio / SuspensoUma carta é deixada para a polícia por uma pessoa misteriosa e é encontrada pelo policial Isac no que parecia ser apenas mais um sequestro na cidade. Isac podia simplesmente deixar a carta com a perícia e seguir sua conturbada vida "em paz", mas alg...