01 de Setembro de 2022 - 13:00
Estou com minha mãe em frente ao túmulo de Luan, enquanto ela faz uma prece de joelhos na terra ao lado do túmulo. Eu escuto ela rezar enquanto encaro o céu azul daquela tarde quente em Aurora, o dia está tão bonito que não espelha nenhum pouco a minha tristeza em estar sem meu irmão, ele com certeza foi a pessoa que mais me fez me sentir incluído na família nova quando eu fui adotado e sempre me tratou como se eu fosse seu irmão de sangue.
- No que está pensando Isac? - Minha mãe se levanta batendo as mãos nos joelhos pra tirar a terra deles - Parece distante aí olhando para o céu.
- Que boa pergunta dona Isaura - Eu sorrio pra ela - Só relembrando os momentos bons que Luan me trouxe.
- Fico feliz com isso, meu filho - Ela sorri também - Fazia muito tempo que não via esse sorriso lindo - Ela aperta minhas bochechas.
- Estou tentando mudar de vida - Coloco as mãos nos bolsos - Acho que está dando certo.
- Que bom filho - Ela tira as mãos das minhas bochechas - Espero que você conquiste seus objetivos.
- Vou conquistar - Ela começa a andar em direção a uma árvore com sombra ali perto do túmulo - Vou pedir Martha em namoro hoje.
- Com aliança e tudo? - Ela diz com uma voz engraçada - Quando vai pedir?
- Sim, comprei as alianças de prata no centro - Eu acompanho ela até a sombra - Vou falar com ela hoje a noite.
- Tem que cortar esse cabelo - O vento sopra de leve e meus cabelos se movem com isso - Fica mais bonito com ele curto.
- Vou pensar no seu caso - Digo de maneira irônica - Mas gosto dele assim.
- Não Isac, pode parar - Ela diz brava - Tem que cortar, como você vai trabalhar com esse cabelo?
- Eu já trabalho - Sorrio no meio da fala - E hoje em dia a galera nem liga pra esse tipo de corte, pode ficar tranquila.
- Você não me engana garoto - Ela me dá um tapinha - Sei que só tá assim porque quer.
Eu dou uma gargalhada baixinha, enquanto olho novamente para o céu, vejo os galhos da árvore acima de mim entrelaçados e entre os espaços noto o céu azul e sinto novamente aquele calor, só aí percebo que estou suando. Ao mesmo tempo um vento fresco bate novamente e refresca o calor forte, ouço o farfalhar dos galhos da árvore e logo após o som dos carros que passam ao redor do cemitério, Terra de Gigantes (pessoalmente sempre achei esse nome uma merda, com todo respeito é claro).
Eu não sei o que sinto no momento, um misto de felicidade por estar seguindo com minha vida e indo atrás do meu objetivo de ficar com Martha, tristeza por ter perdido meu irmão e por estar numa encruzilhada contra um psicopata maluco e extremamente confuso com esse misto de emoções. Como estou tentando ser otimista tento ver o lado bom das coisas ruins, penso nos bons momentos que vivi com meu irmão ao passo que penso que os atos de Marco Usai não estão sob meu controle, além de eu saber exatamente o dia e hora do seu próximo crime.
- Eu tenho medo do que esse rapaz que está por trás de tudo isso pode ser capaz de fazer - Ela diz com pesar na voz enquanto se escora no caule da árvore - Quantas pessoas e famílias ele ainda vai ferir?
- Eu não sei mãe - Digo com certa tristeza na voz - Eu e Martha tentamos comunicar a polícia várias vezes, mas eles parecem ignorar nossos avanços com a carta.
- Eu fico preocupada com vocês também - Ela me olha com os olhos grandes - E se ele vier atrás de vocês?
- Imagino que não mãe - Eu olho nos olhos dela - Ele já teria nos ferido se quisesse, o objetivo desse desgraçado ainda não é claro pra gente.
- Olha a boca menino - Ela faz um sinal da cruz - Pois é, acho bom vocês não se meterem nisso e deixarem com a polícia.
- Mas eles não fazem nada, mãe - Digo decepcionado - Ele já foi responsável pela morte do pai de Martha, pela morte de Luan, direta ou indiretamente temos que fazer algo se sabemos mais sobre ele.
- O que Deus quiser será feito meu filho - Ela segura minhas mãos - Só rezo pra que vocês fiquem bem e esse homem pague pelos seus pecados.
- Eu também torço por isso mãe - Ela então solta minhas mãos - Sinto que estou ligado a isso de alguma forma, por qual outro motivo ele viria falar comigo?
- Faz sentido o que está pensando, talvez em breve tenha uma resposta - Ela então começa a caminhar até o portão de saída - Que dia você disse pra eu não vir até aqui visitar Luan porque o rapaz vai cometer mais crimes?
- Dia vinte e cinco deste mês - Digo a acompanhando - Bem lembrado mãe, não saia de casa nesse dia.
- Tudo bem meu filho.
- Tudo certo? Vamos embora?
- Sim - Ela continua a andar - Só vamos passar na padaria antes de me deixar em casa pra eu comprar lanche para minhas irmãs que vem me visitar hoje.
- Claro mãe - Digo isso enquanto saímos do cemitério.
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Imperfeito
Mystery / ThrillerUma carta é deixada para a polícia por uma pessoa misteriosa e é encontrada pelo policial Isac no que parecia ser apenas mais um sequestro na cidade. Isac podia simplesmente deixar a carta com a perícia e seguir sua conturbada vida "em paz", mas alg...