CAPÍTULO 30

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25 de Setembro de 2022 - 13:00

Eu tentei gritar, mas não consegui a voz não saía, nesse momento meu corpo pareceu voltar a me obedecer e eu finalmente consegui gritar ainda mais, a arma caiu da minha mão e eu me juntei ao corpo dela enquanto ainda ouvia a respiração desesperada e gutural do corpo de minha mãe logo ao lado.

- O que? - Eu olho minhas mãos trêmulas - O que eu fiz? - Digo com a voz igualmente trêmula, só que agora as lágrimas parecem sair de meus olhos novamente.

- Você não era nada além de uma variação de mim, Marco Usai - Ouço aquela voz familiar que falou comigo no restaurante dias atrás, a voz com sotaque Catarinense que salvou as garotas. Viro-me rapidamente enquanto me arrasto para trás no chão de terra ao lado do corpo morto de Martha - Você sabia? - Ele ri devagar e pausadamente - Que você era Marco Usai esse tempo todo?

Meu cérebro só pareceu processar agora quando vi eu mesmo, em pé, na minha frente, era um clone meu, usando as minhas roupas, o mesmo cabelo longo. Eu fiquei perplexo, como eu deveria reagir após perder minha mãe, namorada e ver uma pessoa exatamente igual a mim?

- Quem, quem - Eu engasgo nas minhas lágrimas - Quem é você?

- Eu sou Isac Moura - Ele se abaixou na minha frente - O verdadeiro dono desse corpo desleixado.

- O que quer dizer? - Eu choro muito, mal consigo falar.

- Você é um tolo mesmo - Ele parece desenhar algo na terra do chão do cemitério - Você não tinha percebido até agora que era apenas uma personalidade minha?

- Que, como assim? - Eu fico tremendo e encarando todos os lados em busca de aliviar a própria realidade - Eu, uma personalidade? Mas eu existo porra! - Grito alto nesse momento.

- Ah, existe? - Ele parece terminar o desenho na terra - Olha aqui - Ele diz apontando pro que escreveu no chão.

Eu me recuso a olhar, é como se eu estivesse hipnotizado em olhar meus próprios olhos castanho-claros de uma forma totalmente diferente, como se fosse outra pessoa em meu corpo. Consequentemente eu olho pra terra e vejo desenhado nela:

- O que isso significa, seu filho da puta? - Eu digo sem forças pra avançar pra cima dele

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- O que isso significa, seu filho da puta? - Eu digo sem forças pra avançar pra cima dele.

- Nossos nomes são anagramas um do outro - Ele se levanta ficando em pé na minha frente - Criado por mim, é claro.

- Por que, por que você fez isso? - Digo engasgando em lágrimas.

- Você é só uma personalidade Marco - Ele ri soltando ar pelo nariz - Eu apenas fingi ser Marco Usai para te destruir e voltar a ser dono do meu próprio corpo.

- Mas por que você matou elas - Eu fecho os olhos balançando a cabeça - Por qual razão feriu tantas pessoas.

- Suas emoções não importam, você nem existe na verdade - Ele fala cada vez com mais deboche - Só surgiu como um surto pra ser mais amigável com as pessoas, por culpa de Isaura você existe - Ele limpa a garganta - Agora não vai existir mais, pois eu tirei cada um dos motivos da sua existência, tirei todo o amor de dentro dessa casca.

- Desgraçado! - Digo me levantando - Você é louco seu filho da puta - Eu sigo na direção dele e dou um soco, mas não parece fazer efeito nele.

- Como disse Marco - Ele se vira na direção da saída do cemitério - Você não passou de uma mera personalidade minha, nunca existiu e tudo que você sente não passou de uma ilusão - Ele abre os braços - Eu proclamo aqui o fim dos deuses da sua vida, todos eles se foram e agora você não existe mais.

- Então você era a criança amaldiçoada? - Eu começo a perder consciência como se estivesse sumindo aos poucos - Eu realmente não fiz nada de errado então?

- Como ousa me chamar de criança amaldiçoada - Ele se vira com cara de bravo - Você que nunca sequer existiu.

- Criança amaldiçoada - Num surto é a única coisa que eu consigo dizer, era como se fosse a única coisa que podia sair da minha boca - Criança amaldiçoada.

- Fale o quanto quiser Marco - Ele gargalha - Este é o seu fim.

Neste instante vejo ele sair do cemitério caminhando devagar enquanto eu me lembro de muita coisa, pra ser sincero, eu me lembro de quase tudo.

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