PARTE VI: "MÃE" - CAPITÚLO 16

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10 de Agosto de 2022

Faz dois dias que Luan foi velado de caixão fechado, os responsáveis disseram que seu rosto foi totalmente destroçado pelos explosivos e vela-lo com o caixão aberto seria de extrema crueldade com todos os familiares. Minha mãe Isaura está devastada, não comeu nem dormiu direito nesses dois dias, eu e Martha estamos tentando ao máximo cuidar dela desde quando nos encontramos.

Martha tem me ajudado bastante, provavelmente ajudou muito a própria mãe quando seu pai faleceu, mas imagino que a dor de perder um filho seja maior do que a dor de perder um marido, sei que não devo mensurar o sofrimento de ninguém, mas é o que eu acho. Agora estou numa cadeira sentado ao lado da cama da minha mãe, ela está deitada de costas pra mim, aparentemente adormeceu. Quase caí de sono algumas vezes mas tentei me manter firme para ajudá-la, como um instinto superior ela diz:

- Você tem que descansar meu filho - Sua voz está rouca e fraca - Eu já sinto que consigo pelo menos cochilar, deita na cama do seu quarto antigo e pede pra sua amiga descansar também.

- Tem certeza mãe? - Eu digo de maneira serena - A senhora não parece melhor.

- E não estou - Ela diz tentando aumentar a voz, mas falhando - Mas acho que consigo dormir.

- Mas o sol ainda tá quente lá fora - Digo calmamente passando a mão em seus cabelos crespos - A senhora tem dificuldade para dormir no calor.

- Com os seus cuidados e os de sua amiga tenho certeza que terei um bom sono - Ela sorri amarelo com a cabeça virada pra mim - Pode ir lá descansar - Eu não consigo segurar minha expressão de decepção, por minha culpa não capturamos o Deicída e Luan morreu - Não fique se culpando meu filho.

- Como sabe disso?

- Eu sou sua mãe, sei o que está sentindo só de olhar.

- Mas parte da culpa é minha, eu não evitei o crime mesmo sabendo das datas e da maneira que Marco Usai agia, era só eu ter prestado mais atenção.

- Você deu seu melhor - Ela se vira pra mim, me encara nos olhos e coloca a mão nos meus cabelos que já estão bem longos pro padrão masculino - Não podia ser diferente, infelizmente é o que aconteceu e nós temos que lidar - Sinto um pesar enorme na voz dela, como se a sua experiência de vida transparecesse no som - Filho, repete o nome do homem que fez isso.

- Marco Usai - Digo deixando um tom de raiva na minha voz - Era o que estava escrito na carta que ele deixou quando salvou duas garotas de um sequestro.

- Eu sei que pode parecer loucura minha - Ela diz expressando a tentativa de se lembrar de algo - Mas posso jurar que ouvi dona Melissa dizer esse nome tempos depois dela surtar.

- Como assim mãe? Em que contexto Melissa disse esse nome.

- Ah meu filho - Ela diz desistindo de lembrar - Eu não vou me lembrar, mas posso garantir que lembro dela falando esse nome.

- E por que você chama essa maluca de "dona" Melissa?

- Porque eu coloco ela nas minhas orações, meu filho - Eu coloco uma expressão de deboche no rosto - Como também colocarei esse tal de Marco.

- Mãe, o que essas pessoas fizeram...

- Não tem perdão, eu sei, mas não cabe a nós julgar o que deve acontecer com elas - Ela põe a mão no meu rosto - Só Deus é capaz de fazer isso, o que posso fazer é rezar torcendo para que eles se tornem pessoas melhores.

- Tudo bem mãe, se isso faz a senhora se sentir melhor.

- Não é questão de me sentir melhor, é uma questão de aceitar o que acontece.

- Certo - Faço com que sim com a cabeça - Agora descansa eu vou na padaria comprar um lanche.

Menti, eu sabia aonde eu tinha que ir, eu precisava revirar meu passado e minha mãe provavelmente também sabia, mas ela estava ciente que não conseguiria me impedir. Assim que saí do quarto, passei na sala onde Martha estava vendo alguma coisa no celular, eu passei por ela dizendo:

- Eu preciso resolver uma coisa, fica de olho nela, caso precise de algo me liga.

- Onde você vai? - Ela larga o celular e se levanta na minha frente - Fazendo isso do nada tá me assustando.

- Não se preocupe, eu acho que peguei uma pista sobre o desgraçado.

- Isac, não é hora pra isso - Ela diz com a voz mais fina - Deixa isso pra depois.

- Não dá, eu não vou conseguir dormir à noite se não conferir essa pista.

Ela olha a volta, depois olha pra mim com os olhos que expressam preocupação e logo após diz:

- Tudo bem - Ela pega minha mão com as duas mãos - Toma cuidado.

- Vou tomar - Eu saio na direção do meu Landau que está estacionado na frente da casa de minha mãe, ao lado da calçada e sigo rumo ao Hospital Psiquiátrico Josefa Andrade, local onde a maluca da Melissa, minha mãe biológica, está internada há anos.

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