PARTE V: "IRMÃO" - CAPÍTULO 13

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07 de Agosto de 2022

Hoje faz exatamente cinco meses e quatro dias que eu transei com a Martha, pode parecer doentio da minha parte saber exatamente quanto tempo se passou desde esse "incidente", mas foi extremamente marcante para mim, e ao mesmo tempo muito frustrante.

Foi bom porque foi sexo com alguém que eu queria muito ficar (e ainda quero pra ser honesto) e acho que meu sentimentos vão além de só querer "ficar" com ela, mas isso é um assunto para outra hora. Foi frustrante porque eu senti um desdém enorme da parte dela depois que tudo terminou, na manhã seguinte ela saiu de casa sem avisar e deixou uma mensagem no meu celular dizendo que precisava continuar as investigações dela, mesmo que ela tenha pedido minha ajuda para isso.

Desde então eu vi Martha uma vez quando fui atrás dela em seu apartamento para perguntar quando iríamos atrás do cara que vendeu a Douce Mort para o Deicída, ela disse que já havia ido atrás e que não havia dado em nada. Aparentemente ela se absteve da minha companhia propositalmente o que me deixou ainda mais inseguro e paranoico em relação ao nosso "relacionamento" se assim posso dizer. Para piorar tudo, eu perdi o cargo de policial mais ou menos duas semanas depois de ter conversado com as agentes do Condutor no Bar de Lótus, estou vivendo de bicos antigos que tinha como segurança e com a ajuda da minha mãe adotiva (ou como prefiro chamar, minha verdadeira mãe) Isaura. Neste meio período eu evitei ao máximo beber, já que meu dinheiro estava acabando e eu não queria ser um filho alcoólatra que gasta dinheiro da mãe com essas merdas. Mas nesta noite eu senti um enorme peso, pois segundo minhas análises e as de Martha, o próximo crime do desgraçado do Deicída seria amanhã, eu não resisti ao impulso de ir ao bar do seu Emílio de novo e beber até esquecer quem sou.

Eu já me sentia muito vazio e solitário antes de todo esse rolo acontecer, mas depois que Martha não falou mais comigo essa sensação piorou muito, eu só tinha minha mãe Isaura e meu irmão (filho biológico da minha mãe) Luan, e mesmo assim eles eram muito ocupados pra lidar comigo, não duvido do amor deles por mim, mesmo que eu seja adotado. Isaura era minha babá e trabalhava pra minha mãe biológica: Melissa, antes desta tentar me matar, desde essa época eu já conhecia Luan e brincava com ele. Atualmente a mãe trabalha numa escola como merendeira e Luan que é um pouco mais novo que eu trabalha na manutenção das linhas de metrô de Aurora durante a tarde enquanto faz faculdade de Análise de Sistemas durante a noite.

Em resumo eu sou um cara solitário, tenho a minha presença como companhia há algum tempo e não posso dizer que isso é de todo mal, se adaptar a própria companhia é um dos passos mais importantes para atingir seus objetivos, mas sinto que estou seguindo essa regra muito ao pé da letra, isso com certeza está me fazendo mal, eu até pensei em ir num cabaré alguns meses atrás, mas pra ser honesto eu sentia que ficaria ainda mais vazio caso fizesse isso.

Eu tomo minha quinta ou sexta dose de cachaça neste momento, enquanto tomo a cerveja mais barata do bar do seu Emílio, como se eu estivesse me punindo por ser tão merda.

Foi quando senti uma mão no meu ombro, o álcool me impediu de reagir rápido a isso então eu virei devagar e mesmo assim meus olhos pareciam demorar a chegar em quem encostou em mim. Antes mesmo de eu ver eu reconheço a voz que fez isso dizendo:

- Bebendo de novo pé de cana? - Diz meu irmão Luan com o mesmo tom amigável de sempre - Nem me chama mais, tô entendendo tudo agora - Ele fecha a cara forçadamente e logo após dá uma gargalhada dizendo - Quanto você já bebeu?

Meu cérebro não processou as últimas informações direito, sinto que ouvi cinquenta por cento do que Luan disse, mas mesmo assim respondi:

- Você não me chama pra porra nenhuma caralho - Dei um soluço enquanto dizia embolado - Nem sabia que você lembrava de mim.

- Claro que lembro irmão, é que eu mal saio de casa - Ele dá outra gargalhada leve - Que tal eu pagar minha dívida com você? Vamos beber na sua casa agora?

- Claro - Eu aceitei sem sequer lembrar da última frase que disse - Vamos pegar o metrô até minha casa.

- Sua casa é aqui do lado mané - Ele se aproxima mais de mim - Vem, vou te ajudar a ir até meu carro.

- Não precisa, eu consigo ir sozinho - Digo saindo da cadeira alta próxima ao balcão.

- Tudo bem meu querido, você que manda.

Dou uns passos em falso e quase caio, alguns segundos depois consigo me estabilizar e ficar de pé, até consequentemente começar a andar acompanhando Luan como um guia numa caverna escura.

- Pera irmão - Digo quase caindo enquanto paro de andar - Eu preciso pagar.

- Deixa que hoje é por minha conta - Ele volta indo até o balcão - Ei seu Emílio vem me cobrar o que o Isac bebeu agora.

- Eu pago - Digo soluçando forte, quase vomitando - Você não precisa fazer isso.

- Preciso, lógico que preciso - Ele diz pagando Emílio no balcão - Preciso tanto que já fiz, bora.

- Pra onde porra?

Luan ri alto dessa vez e eu não entendo o porquê, ele então diz:

- Pra sua casa beber, lembra? Eu te convidei.

- Ah, é verdade, bora.

Eu sigo até o carro dele que está estacionado do outro lado da rua do bar, ele destrava o carro, eu abro a porta do passageiro com dificuldade e entro, Luan logo entra do lado do motorista. Quando eu sento-me, um zumbido atinge meus ouvidos e tudo começa a girar ainda mais rápido que antes, eu me concentro pra não morrer e então eu sinto que estou prestes a apagar, antes disso ouço Luan dizer algo que não entendo e instintivamente eu respondo:

- Tô não mano.

E então eu desmaiei ali mesmo.

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