25 de Setembro de 2022 - 12:50
Foi o mais rápido que consegui dirigir, acho que nunca fiz isso tão bem em toda a minha vida. Expliquei o que havia falado com minha mãe no celular para Martha e ela se manteve estática com a arma em mãos, parecia nervosa mas se contendo.
- Falta quanto pra chegarmos? - Ela diz acelerada no banco do carona.
- É logo aqui - Eu tento discar novamente para minha mãe enquanto dirijo, mas nenhuma ligação é recebida - Só preciso virar nessa rua.
Eu faço isso, paro o carro em frente ao cemitério e vou correndo na direção do portão, rapidamente minhas pernas vão perdendo a força, como se de alguma forma eu estivesse perdendo o controle delas. Martha vem igualmente frenética atrás de mim e de longe eu consigo ver minha mãe ajoelhada ao lado do túmulo de Luan.
Algumas pessoas estão no cemitério nessa hora mas minha visão está apenas em minha mãe. Eu corro na direção dela enquanto grito:
- Mãe! - Eu me aproximo cada vez mais enquanto ouço Martha correr entre os túmulos atrás de mim - O que a senhora tá fazendo aqui? - Grito novamente.
A cada passo que dou sinto que estou perdendo aos poucos o controle das minhas pernas, quadril, barriga, torso, como se estivesse entrando num transe, a pontada na cabeça continua a me atormentar até que tudo que eu imaginava foi por água abaixo quando eu vi aquilo.
Minha mãe se levantou e na distância eu vi ela limpar os joelhos como sempre fazia depois de rezar, mal sabia eu que essa seria sua última oração. Algo no túmulo de Luan entrou em chamas e explodiu, a única coisa que vi foi o corpo de minha mãe voar distante do corpo de meu irmão.
- Ah não, não, não - Ouço as pessoas à volta gritarem mas eu parecia perder o controle sobre todo o meu corpo - Merda, merda, merda.
- Isac - Martha diz enquanto nós paramos de correr e ela me segura pelo braço, com a arma na outra mão - Toma cuidado podem ter outros...
Eu tiro meu braço do agarro dela enquanto corro para o local onde minha mãe havia caído após a explosão e com toda a certeza ao chegar lá essa foi a visão mais traumatizante de toda a minha vida.
Sua pele estava inteiramente queimada, não haviam olhos nela, sua boca estava aberta e ela parecia tentar grunhir, mas suas cordas vocais estavam todas queimadas.
- Mãe! - Eu me aproximo e vejo ela naquela situação, uma respiração gutural e assustadora - Não, não, não, por favor, não faça isso comigo.
Lágrimas saem do meu rosto enquanto eu ajoelho no chão e começo a gritar dando socos na terra. A parte de baixo da minha mão começa a doer de tanta força que eu faço ao socar, sinto a mão de Martha tocar meu ombro.
E foi nesse momento que aquela dor atrás da minha cabeça tomou conta de mim e eu perdi total controle sob meu corpo, era como ver em primeira pessoa os atos de outra pessoa, exatamente como nas visões e sonhos que tive e eu não sei o porquê de eu estar me levantando agora, senti os músculos do meu rosto mudarem de posição e as lágrimas pararam de sair.
- Isac? - Martha ainda tem a mão no meu ombro enquanto ouço ela fungar e me levanto - Isac? Você tá bem? - Eu me levanto de costas pra ela e me viro devagar, ao ver meu rosto ela se espanta - Isac - Ela tenta se afastar mas eu a segurei perto de mim - Por que você está sorrindo?
- Porque o plano está completo, deusa final - Martha parece confusa e eu ainda continuo sem controle do meu corpo, num movimento rápido eu tomo a arma da mão dela.
- Espera, o que você tá fazendo? - Eu começo a tentar me mexer mas não consigo, é como se meu corpo não fosse meu - Por que você pegou minha arma? Por que tá fazendo essa voz de novo?
- Diga adeus a Marco Usai - Meu braço se ergue apontando a arma na direção da cabeça de Martha, seus olhos estão arregalados e ela tem as mãos erguidas ao lado da cabeça, meu dedo aperta o gatilho, a bala acerta a cabeça de Martha que cai no chão instantaneamente morta.
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Imperfeito
Mystery / ThrillerUma carta é deixada para a polícia por uma pessoa misteriosa e é encontrada pelo policial Isac no que parecia ser apenas mais um sequestro na cidade. Isac podia simplesmente deixar a carta com a perícia e seguir sua conturbada vida "em paz", mas alg...