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Quinta-feira, São Paulo.

Alexandre passou a gostar muito desse dia específico na semana, mesmo estando no meio de um plantão corrido no hospital ou até mesmo em uma reunião com a diretoria.

Esse era o karma que carregava em ser dono e ao mesmo tempo diretor financeiro do maior hospital da capital.

Isso sem contar com a sua carreira de cirurgião plástico, sem querer se gabar, mas era o melhor da área em todo mundo.

Mesmo agora fazendo cada vez menas cirurgias e focando mais na parte burocrática do hospital, havia pessoas de vários lugares do mundo atrás dele para operar todos os dias.

Um homem maduro de quarenta e cinco anos, com uma filha entrando na fase adulta, mas com a mentalidade infantil.

Não é nada fácil criar uma filha sozinho, ainda mais sendo mulher. Como não teve escolhas, tentou fazer o seu melhor.

Criou sua filha com todo amor, respeito, dignidade e acima de tudo mimos. Era dessa parte que ele tinha arrependimento.

Como não tinha mãe, ele acabou fazendo todas as vontades da menina para talvez tentar suprir a falta, que a mulher fazia na vida dela. Bianca era mimada, mas tinha um coração lindo.

- Ô paizinho.

Bianca abre a porta sem bater e sai entrando no escritório do pai no segundo andar da mansão. O ar-condicionado estava no talo, a sala estava congelando, do jeito que ele gostava.

- Credo, isso aqui parece uma geladeira. - ela reclamou se aproximando da enorme mesa de madeira.

Alexandre desviou o rosto do notebook aberto e olhou na direção da filha, pegou a xícara de café percebendo que já estava fria.

- Oi, meu amor. Já chegou? - respondeu olhando em seu relógio de pulso, que marcava às seis e meia da tarde.

- Cheguei. - ela se debruçou nos ombros dele dando um beijo em seu rosto. - Giovanna vai passar a noite aqui, precisamos fazer um trabalho da faculdade juntas. Tudo bem?

- Claro, filha. Vocês querem alguma coisa especial? Posso pedir naquele restaurante japonês que ela adora.

Na mesma hora ele sentiu aquele arrependimento. Bianca não precisava saber que ele prestou atenção no que a amiga dela gostava de comer.

- Vish, ela meio que enjoou desse japa. - ela faz careta. - Que tal uma pizza?

- Claro, meu amor. Daqui a pouco eu peço para vocês.

- Obrigada, pai. Amo você. - ela soltou um beijo no ar e saiu da sala com a mesma velocidade que entrou.

Ele ficou encarando a porta fechada e soltou um suspiro.

O nome Giovanna ficou preso na sua mente, contra sua própria vontade. Deixando bem claro isso.

Alexandre se considera um cara tranquilo, centrado, correto. Mas de um tempo para cá, meio que se transforma quando ele escuta esse nome.

É como se o demônio sentado em seu ombro esquerdo, falasse mais alto do que o anjinho do lado direito.

Desceu as escadas em silêncio, os pensamentos longe.

Às vezes coloca a culpa na idade, só pode ser isso a explicação para a sua total falta de vergonha na cara. Como pode um cara que tem tudo, tem dinheiro, tem poder, tem a capacidade de se envolver com qualquer mulher, e fica simplesmente preso na melhor amiga de sua filha.

Onde já se viu passar a maior parte do tempo pensando nela.

Quando chegou na cozinha, a geladeira estava aberta e uma mão pequena com unhas pintadas de rosa segurava a porta, do nada ela se fechou e um gritinho agudo ecoou por toda casa.

tempo de amar | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora