Meu mundo caiu

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Antônio

Quando a gente entrou aqui, nessa dinâmica que te obrigava a ficar conectado 24 horas do dia com uma pessoa que eu não conhecia, eu não imaginava como a amizade dela ia ser importante pra mim e se tornaria o meu Porto Seguro.
Eu não conseguiria passar por isso aqui sem ela.

Lembro de estar na fila pra entrar e tentando ajustar a venda dos meus olhos, consegui ver uma mulher loira, de vestido preto justo, saindo da fila. Talvez em direção ao banheiro. Ajustei a venda e tentei me concentrar, mas não tirava ela da cabeça. Talvez porque eu estivesse confinado sozinho há cerca de 10 dias sem ver ninguém.
O que eu não imaginava era que essa mesma mulher séria tão importante pra mim a partir daquele dia.

Nossas mãos sempre juntas, nossos olhos fixos. Eu olho pra Amanda e parece que eu entro dentro dela.

Ela é linda. Inteligente, amável, honesta, íntegra. Ela me passa segurança. Força.

Por tantas vezes eu ouvi nessa casa que ela era o "elo fraco" do nosso grupo. Ah se eles soubessem a força que ela tem. O quanto eu não sou nada sem a força dela.

Sem o olhar dela.
Sem a mão dela.

E aí o tempo foi passando e eu fui ficando cada vez mais confuso em relação ao que sinto por ela.
Ela é minha amiga. Eu sei.
Mas tem alguns momentos que eu poderia jurar que rola alguma coisa.

Às vezes, a noite, a gente se olha diferente. Meu corpo procura cada vez mais o dela. Puxo ela pro meu peito e eu poderia ter ela ali pra sempre. Ela encaixa certinho em mim e eu só queria poder cuidar e proteger ela de tudo. Ser colo. Ser apoio. Ser conforto.
Se ela beija o meu pescoço parece que aperta um botão de liga/desliga e acaba comigo, irmão.

Uma noite dessas eu corri pra cama dela no meio de uma crise de ansiedade. Só o cheiro dela me acalma. Sentir ela junto de mim, cheirar ela, o cabelo dela, a mão dela. Só ela é capaz de me tranquilizar.

Na verdade quem me vê assim grande, forte, não imagina o quanto eu sou inseguro em relação a esse lance de relacionamento.

Aí pra me deixar ainda mais com o pé atrás eu sempre ouço uma resenha sobre um ex que ela insiste em falar.

Sinceramente não dá pra entender nada. Na casa todo mundo fala que a gente é amigo. Ela sempre solta um "Brodis e sistis" que deixa a gente cada vez mais na friendzone.
Tá foda.

Eu não consigo me afastar. Eu necessito dela. De saber onde ela tá, o que tá fazendo.
Ver outra pessoa perto dela me dá uma sensação estranha. Sei lá. De cuidado. Deve ser isso. Só cuidado. Eu só quero cuidar dela. Ser o amigo dela. O Porto Seguro.

....

Dia 15. Amanhã é meu aniversário.
E hoje a gente teve uma dinâmica diferente.
Um café da manhã na cama super especial.

Am: eu nunca ganhei café na cama.
An: que? Como nao, amandinha? Nunca?
Am: nao. De namorado, contatinho assim não. Só da minha mãe.

Como assim? Como que você namora uma mulher como ela e não faz de tudo por ela?
Acredita que eu me peguei pensando nisso.
A gente junto. Café na cama. Flores, viagens. O mundo pra ela.
A verdade é que eu sempre procurei por alguém assim como ela. Ela é perfeita pra mim.
Afinal "todo mundo queria uma Amanda" e eu acho que encontrei a minha.

O dia foi diferente. Nossos carinhos estavam diferentes. A gente tava se olhando mais profundamente. O simples toque da pele dela na minha me arrepiava.
A gente ficou conversando sozinhos no quarto como nunca antes havia acontecido.

E aí o mundo virou. Sabe quando parece que tudo que pode dar errado vai dar?

O big fone tocou. A porta se abriu e uma mulher entrou na casa.

Eu fui o cara mais fraco desse mundo. Inconsequente. Burro.
Sabe você simplesmente jogar fora tudo que vem sendo construído e se jogar na pilha de todo mundo?

Eu realmente olhei pra ela. Ela me olhou. Todo mundo empurrou um pouquinho. Eu olhava pra Amanda e ela só dizia: eu aprovo, beija ela, vai lá.

Porra. Será que eu vi tudo errado?
É isso então? Só amizade e ela não me vê com outros olhos mesmo?

Meia noite comemorei meu aniversário com a Amanda. Dei o primeiro pedaço do bolo pra ela. Mas eu não conseguia não olhar pra aquela mulher. A gente se paquerou, dançou, rolou uns olhares, umas investidas. Eu realmente tava confuso. Não queria sair de perto da Amanda, mas sentia ela (e toda a casa) me empurrar cada vez pra outra pessoa.

Domitila: mas ela é seu tipo de mulher, né sapato? Assim morena? Grandona, mulherão.
An: não, domi. Na verdade não. Eu prefiro loira.
D: aaah. Entendi. Mas loira corpão. Mulherão.
An: nao. Sabia que não? Prefiro mais delicada mesmo. Engraçada. Que me faça bem. Que me entenda.

Enquanto eu falava percebia que tinha acabado de descrever a minha amandinha. Cara. Que confusão é essa?

.....

Tocou um forró. Tomamos uns shots. E mais uns. E outros.
Ela me desafiava, trazia mais. Eu perdi a Amanda de vista.
Me joguei nela. Todo mundo dizendo que ela me queria. Todo mundo dizendo que eu queria ela.

E aí em 10 minutos eu me deixei levar.

"Ah, por que não? É meu aniversário. Ela é gata pra caralho. Ela quer. Eu também."

Só que deu tudo errado.
Ela não queria como eu imaginei.
Fui acusado de importunação sexual. Eliminado do programa. Julgado.
Errei. Fiz tudo errado.

Na hora do anúncio eu achava que meu peito ia explodir. As pessoas choravam e me abraçavam. Corri pra aquela mulher. Perguntei o que ela falou. Fiquei desesperado. Pedi desculpa.
Olhei ao redor e vi a Amanda desesperada.
Me desesperei ainda mais. Eu nao posso atrapalhar o jogo dela. Eu não poderia ter traído o coração dela.

Abracei ela forte, mas rápido.
"Te amo, amandinha"

E fui embora.
Meu mundo caiu.

...

Cheguei em casa com meu irmão depois de todos os protocolos com a direção do programa e da emissora.
Eu só chorava. Muito.

M: ei, fica bem. Se acalma. Toma aqui seu remédio.
An: eu não sou um monstro, dindinho. Eu não sou. Caralho. Que foi que eu fiz. Eu perdi tudo.
M: fica tranquilo. Agora não é hora de pensar em nada. Vc precisa ficar calmo. Eu vou cuidar de tudo e amanhã a gente vai rever tudo e conversar sobre. Agora se acalma. Tô aqui contigo.

Não dormi. Fiquei grudado nele e na Roberta, minha cunhada. Eu só chorei a noite inteira.
Não podia ter acontecido isso.
Eu não sou isso. Não sou esse cara.

E ela? E a Amanda? Como eu pude trair o coração dela desse jeito?
Agora eu tô aqui. Do lado de fora. Confuso e sem entender o que aconteceu direito.
O que porra eu fui fazer?

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SEM MILITÂNCIA, POR FAVOR.
É UMA FIC.

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