Distanciamento

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ANTÔNIO

Depois da quase briga que tivemos parece que tudo acalmou um pouco. Como se o tempo que passamos abraçados naquele sofá tivesse nos resetado. Nos reiniciado.
Fizemos amor a noite toda. Carinhosos, atenciosos, dengosos até.
Dormimos agarrados, de mãos dadas como sempre.
Passamos o fim de semana juntos e com amigos. Saímos, bebemos, nos divertimos. Transamos, namoramos, tomamos banho juntos, cozinhamos, dormimos.

Mas não havia nada normal nisso tudo. Tudo tinha um gosto de saudade, de despedida, de fim.

Eu olhava a Amanda e não via ela.
E eu sei que ela também não me via. Nos abraçamos e choramos muito na hora que eu precisei vir embora pro rio. Daqui viajo pra minha casa.
E não, nada está normal.

Ainda tentamos conversar algumas vezes, mas sempre parávamos antes que evoluísse pra uma discussão. E sempre acabava numa lágrima que insistia em cair.
Como num beco sem saída.
Uma situação estranha e difícil.
E simples ao mesmo tempo.

Difícil porque tem distância, tem imagens sendo construídas, tem um processo de importunação sexual no meio, tem amigos e família, tem uma legião enorme de fãs. Tem projetos separados.

E fácil porque tem amor. Muito amor.
Eu amo essa mulher de uma forma que eu nunca amei ninguém antes.

Talvez a gente esteja vivendo o tal clichê da pessoa certa na hora errada e isso me dói pra caralho.

Eu não quero atrapalhar ela. Não quero pressionar ela. Não quero que ela perca oportunidade ou deixe de viver coisas por mim.
Eu não posso vir embora agora. Eu ainda quero lutar esse ano.
Ela não pode ir agora. Ela tá no ano dela.

Embarquei com o um nó na garganta.

"Tô embarcando. Te aviso quando chegar lá. Te amo, ta? Muito. Nao esquece isso nunca."

Mandei antes de ativar o modo avião do celular.
Por alguns instantes esperei uma resposta.
Que veio como um afago no meu peito:

"Também amo você. Muito. Não esquece também. Volta pra mim logo que puder. Eu vou sempre estar aqui pra nós. Boa viagem."

Horas depois eu cheguei em casa e mesmo que ela nunca tenha vindo aqui, eu ainda seguia sentindo o vazio que me acompanhava desde que saí do apartamento dela em São Paulo.

Mandei uma foto pra ela dizendo que cheguei. Avisei pra meu irmão, minha mãe e meu pai.

...

Os dias seguiram.
E o que estava estranho ficou ainda mais prejudicado pela distância.
Entre ligações e mensagens as declarações foram diminuindo. Sempre com medo de incomodar ou atrapalhar. Como se uma força estranha e obscura estivesse nos afastando aos poucos.
E eu não faço a mínima ideia de como resolver isso.

AMANDA

Distante. É assim que eu tô sentindo.
Fisicamente e emocionalmente.
E é péssimo sentir que a gente se afastou tanto.
Ele foi embora. Nos despedimos com um aperto diferente no coração.
Os dias sozinha são longos e doloridos.
Tenho chorado muito e não posso negar que tenho sentido muita dúvida em relação ao nosso "relacionamento".

A gente se ama. É fato.
Mas essa distância toda, esses momentos diferentes que a gente vive estão nos levando pra um caminho que eu não queria ter que seguir.

Enquanto ele tá lá longe e enquanto eu vejo pouco a pouco a gente se distanciar, a vida precisa seguir aqui.
Da mesma forma que a dele precisa seguir lá tbm.

Reuniões, participações em programas, trabalhos, estudo. Muito estudo.
Uma imagem minha esta sendo trabalhada e tudo respinga nessa nova Amanda que eu tô sendo.

Nova somente a parte da exposição. Tudo isso é muito novo.
Eu que sempre vivi minha vida de forma pacata e tranquila, no máximo dividindo minhas particularidades com as minhas amigas, agora me vejo com mil holofotes virados pra mim. Me fazendo ter medo de tudo e qualquer coisa. Me fazendo sentir quando vejo pessoas que nem me conhecem, ou que nem gostando mim, se metendo na minha vida.
Achando que podem decidir por mim. E ainda pior... que podem sentir por mim.

Nas redes sociais nós nunca deixamos de ser assunto.
Sempre tem alguém falando sobre nós ou sobre os nossos fãs.
Segundo a minha assessoria, quanto mais em silêncio nós estivermos, melhor será pra decidirmos sobre o que fazer de nós dois.
Só que muitas vezes eu acho impossível isso acontecer.

Mesmo afirmando que somos apenas amigos, mesmo as nossas famílias e amigos tentando manter a calma, não conseguimos sair desse foco.

Eu amo o Antônio. Muito.
Mas eu não sei o que vai acontecer com a gente.

A minha vontade é sumir. Pegar uma mala e correr pra ele. Sumir no mundo com ele. Pra um lugar que nós deixem viver o nosso amor e construir a nossa história em paz. Sem interrupções e sem julgamentos.

Na mídia, se estamos juntos no mesmo lugar somos namorados. Se negamos é porque um não quer o outro.
Se um de nós se declara numa entrevista é mentira e pra usar o fandom para engajamento.
Se aparecemos longe um do outro é porque estamos nos envolvendo com outras pessoas.
Oi? Como assim? Até quando a gente vai ter que lidar com isso tudo?

Nossas mensagens e ligações estão estranhas. Rápidas.

Cheguei em casa um pouco depois das 17:30 e tinham duas ligações dele. Senti um aperto diferente no peito. Um medo estranho.

Liguei por vídeo e ele logo atendeu.

An: Amandinha, ta ocupada?
Am: nao. Já tô em casa. Que cara é essa?

Os olhos apreensivos dele deitado numa maca me deixava aflita do lado de cá. Ouvi um homem falar em Ingles com ele. Olhei ao redor e percebi que se tratava de uma clínica.
Ele vestia uma roupa de treino e estava suado.

Am: me fala, Antonio. Onde você tá? Que foi?
An: eu to na clínica de fisio. Meu joelho piorou. Eu preciso de um
Reparo cirúrgico, Amanda.
Am: que? Como assim? Me explica direito. Me diz tudo.

Logo um outro profissional chegou perto dele, dessa vez falando em português. Ouvimos juntos a explicação dele. Debati alguns procedimentos e sim: ele precisa de uma nova cirurgia.

Seus olhos marejados e a carinha de tristeza dele acabaram comigo.
Não desgrudamos mais do telefone. Buchecha levou ele pra casa e fomos nos falando o tempo todo por mensagem.

Am: calma, Antônio. Fica calmo. Você precisa só vir. Vem logo e resolve isso. Vai ser simples. Mais simples que a primeira vez. Logo logo você estará 100%, garotinho.
An: você vai ficar comigo? O tempo todo? Vai cuidar de mim?
Am: kkkkkkkkkk que dengo. Claro que eu vou cuidar de você. Eu vou estar aqui esperando por você.

Os dias seguiram e pós susto da nova cirurgia infelizmente o nosso esfriamento se manteve.
Vi de longe ele se organizar pra vir. Minha agenda ficou cheia.
Nossos horários não iriam se bater.
Em paralelo a isso tudo uma fofoca envolvendo o nome dele com uma amiga da Bruna.
E eu precisava respirar fundo cada vez que via algo a respeito disso no Twitter.
Nos falamos muito sobre a cirurgia. Pouco sobre nós.
Fiquei sabendo que ele estava pousando aqui pelas redes sociais. Estranhei o fato dele não me contar.

Não cobrei. Não posso fazer isso.
Só espero que mesmo estando no Brasil? Nos não nos afastemos ainda mais.

🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢

Vem aí choro, discussão, briga e afastamento.

Digna de ser Amada Onde histórias criam vida. Descubra agora