Explodindo

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AMANDA

Aos poucos eu estou criando uma rotina aqui em São Paulo e tô amando isso.
Amanhã é a cirurgia do Antônio e se tudo der certo hoje, eu acredito que consigo ir pro rio acompanhar ele. Não sei se ele quer. Mas também não julgo dele estar chateado. Eu acho que exagerei em algumas palavras ontem e preciso voltar atrás e conversar com ele hoje.

"Bom dia. Pode me atender? Queria conversar."

Mandei e entrei no banho depois de mais uma manhã de exercícios.

Sai e meu celular estava tocando. Era ele. Mas eu preferia não ter atendido aquela ligação.

Am: oii... bom dia. Tá bem?
An: oi, Amanda. Não. Eu não tô bem. Eu tô péssimo na verdade. Eu não aguento mais esse monte de notícia mentirosa ao nosso respeito. E hoje foi tudo longe demais.
Am: que? O que é que ta acontecendo? Como assim?
An: você ainda não viu? Agora estão me pintando de vilão. Afirmando que eu quis propor um rompimento de um tal acordo de exclusividade que nunca existiu. E o pior: que eu descartei você pra me envolver com a Anaju.
Am: onde estão falando isso?
An: eu não sou isso. Nunca faltou responsabilidade afetiva da minha parte. Eu sempre fui claro e nunca tive dúvidas sobre o que eu sinto ou o que eu quero.
Am: Antônio, calma! Respira. Me deixa entender. Eu não tô entendendo nada e acho que você está descontando tudo em mim sem motivo.
An: eu não tô descontando. Eu tô desabafando. Eu não aguento mais essa situação.
Am: e você fala como se a culpa fosse minha?
An: claro! Não sou eu que tô em dúvida. Você sabe que a gente pode acabar com tudo isso hoje, né? Resolver tudo agora.
Am: como? Como resolver alguma coisa agora? Se essa mídia podre não deixa a gente em paz pra...
An: pra pensar? Pra tirar dúvidas?
Am: para de repetir essa história de dúvida.
An: você que me disse que tem dúvidas. Eu nunca duvidei, Amanda. Nunca. Eu sei o que eu quero.
Am: me fala então. Me fala como é que a gente resolve isso agora.
An: assumindo. E pronto! Que se foda todo o resto. Eu quero assumir. Ficar junto de verdade... eu só quero você! Só você.
Am: não é assim, Antônio. Você sabe que não é assim tão simples. Já já você volta pros Estados Unidos... você tem sua vida lá. Eu tenho a minha aqui...a gente então pode simplesmente...
An: simplesmente dizer que a gente se ama e fazer dar certo? A gente não pode?
Am: Antônio...
An: a gente não pode, Amanda? Ou você não tem certeza? Você não sabe se quer fazer dar certo... é isso?
Am: eu não vou resolver isso sendo pressionada por mídia. Não é assim.

Ouvi ele respirar fundo. Ficamos em silêncio.

An: é isso então? A gente não segue adiante?
Am: Antônio... Não assim. Não dessa forma... agora não.

Mais um silêncio. Ouvi ele chorar e
Eu também chorei.

Am: Antônio... independente de qualquer coisa... eu...
An: não continua. Não, Amanda. Não fala que me ama. Por favor. Não piora tudo agora... eu preciso desligar.

E desligou.
E eu meio que me desliguei também.
Chorei. Desmarquei tudo o que eu pude.
Chorei de medo. Me senti fraca e covarde. Me senti incompleta sem ele.
Mas não consegui resolver tudo assim na pressão. Não é isso que que quero pra nós.

Liguei pra minha mãe. Conversei. Chorei. Expliquei o que houve. Ou pelo menos tentei. Ouvi dela um "filha, eu vou rezar por vocês! O tempo vai resolver tudo."

Liguei pra Vic e depois pra Pam. Desabafei, chorei. Me culpei. Me expus pras pessoas que realmente me conhecem.

Passado algum tempo as coisas ficaram ainda piores.

Num desabafo dele no Instagram eu me desfiz em mais lágrimas ainda.

"Não há e nunca houve um namoro" "não tem acordo nenhum"
"Eu não vou deixar que digam que eu sou o vilão dessa história. Eu sempre responsável afetivamente com a Amanda."
"Nós nos amamos, mas só somos  amigos. Nada além disso"

Eu não tava pronta pra ver e ouvir aquilo, mesmo sabendo que eu eu busquei isso tudo.

Fiquei arrasada. No fundo do poço.

ANTÔNIO

Explodi. Extrapolei. Exagerei.
Tudo isso sim.
Mas eu não aguentava mais a situação toda.
Eu só queria ela aqui comigo. Mas hoje eu entendi que ela não me quer. Não dessa forma.

Seguiremos afastados e eu seguirei sofrendo.

Liguei pro dindinho e ele foi pro hotel me pegar.
Meu coração estava super acelerado e eu tinha certeza que um crise de ansiedade e pânico ia me pegar de jeito.
Segui em silêncio até a casa dele.
As crianças na escola e a Beta no consultório. Seríamos só nós dois e eu ficaria tranquilo pra desabafar com ele.
Chegamos na casa dele ainda em silêncio.
Minha respiração estava descompassada e minhas mãos geladas.

M: tomou seus remédios?
An: humrrum.
M: ta se sentindo bem? Ei, cara. Eu tô aqui contigo. Não quero te ver assim. Eu vou tentar tirar do ar essa página idiota.
An: se fosse só essa página seria bom. Já viu a quantidade de hater no tt?
M: po... esses filho da puta não são fãs seus. E nem dela tbm.

Eu comecei a chorar sem conseguir me segurar mais. Que foda esse sentimento. Ver pessoas me atacando por uma coisa que eu não fiz.
Eu poderia me livrar de todo esse hate se as pessoas entendessem que ela quem não me quer. A Amanda que não escolheu seguir adiante com o nosso "relacionamento".

Mas mesmo servindo de saco de pancada pra tudo isso eu jamais faria nada que transferisse esse ódio gratuito pra ela.
Eu prefiro que doa em mim. Eu prefiro que me machuque.
Não quero que ela passe por nada parecido.

Mas precisei falar. Eu não vou deixar que me pintem de culpado numa situação que eu não tive culpa.

...

O dia seguiu cheios de dor, insegurança, crises e ausência. Ausência dela.
Sem falar. Sem mandar mensagem.
Triste, magoado.
E sendo atacado de todos os lados.

Spaces abertos pra e julgar e pra nos acusar de tantas inverdades.

Além de todo esse inferno ainda tenho uma cirurgia marcada pra amanhã cedo. E sinceramente eu não sei como ainda estou de pé com tudo isso.

Liguei pra minha mãe. Conversei, desabafei. Expliquei tudo.

"Né possível, Júnior. Corre atrás dela, meu filho. Vocês são loucos um pelo outro. A Amanda vai repensar e vocês vão se resolver."

Só dona Wilma pra me animar e me fazer sorrir no meio disso tudo.
Meu pai chegou com minha madrasta e tivemos uma noite agradável, na medida do possível.

Na internet os juízes já inventavam mais mentiras sobre mim.
Tentei ao máximo me concentrar pra que me afetasse o mínimo possível.

Eu preciso acordar bem pra cirurgia. É só o que importa agora.

🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢🪢

Digna de ser Amada Onde histórias criam vida. Descubra agora