✿07 - Quando você não pode julgar por ser igual ✿

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O nosso indesejado parceiro de viagem era um kamikaze, e conseguia falar mais que meu neto

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O nosso indesejado parceiro de viagem era um kamikaze, e conseguia falar mais que meu neto. Ele se pendurou na janela, como um cachorro, e mijou em um morador de rua quando paramos em um desses posto de conveniência para abastecer e comprar curativos, o cara nada suspeito não queria ir ao hospital. Isso em poucas horas de viagem. Imagina agora que estamos mais tempo com ele. Enquanto compro comida, penso em como posso me livrar dele, principalmente por Peter, o garoto tá matando a dignidade que tem achando que está interessado nesse idiota. Mas o Kamikaze me lembrava o meu eu completamente imprudente e irresponsável adolescente; agora, acredito ter a mesma sensação que Steve tinha quando me salvava das minhas peripécias.

Quanto medo, dor e segredos podemos esconder atrás de sorrisos? Uma vida inteira, essa é minha resposta agora velho.

Éramos jovens brincando com o sol do verão californiano brilhando, queimando de leve nossas peles, as garotas de maiô e os rapazes de calção pulando em um lago. Os sorrisos joviais, a trilha sonora perfeita: Elton John, Beatles, The Rolling Stones, The Mamas And The Papas e Nina Simone. A suavidade alucinógena da Mary Jane, que fazia desse cenário tão enganoso parecer um belo cenário para um filme que se passa nos anos 70.

Com os olhos fechados, deitado no chão com a cabeça no colo de Hill, isso foi logo depois da festa que teve na cidade, uma sombra bloqueou a luz que batia no meu rosto; quando abri os olhos me deparei com a figura de Steve. Ele discutia com Sam e Bucky quem teria coragem de pular da parte alta do lago.

— Vocês são tão idiotas! — Sharon afirmou, sentando do lado de Hill.

— Eles precisam provar a grande masculinidade deles pulando de um lugar alto, colocando a vida deles em risco — Natasha debochou e tirou o cigarro de maconha da minha boca e tragou.

— Mal educada — resmunguei e Steve tirou a camiseta.

O trabalho na fazenda fazia os músculos dele serem bem definidos. Seu olhar se encontrou com o meu quando ele foi entregar a camisa para Sharon, senti como se aqueles olhos azuis pudessem ler a minha mente e ver o quanto a sua imagem despida mexia comigo. Fechei os olhos com medo que ele realmente pudesse espiar meus pecados.

— Eu não preciso dessa provação! — Rhodey afirmou.

— Esse é meu garoto — Mônica brincou.

— Desgrudam um pouco... argh, é muito grude — Ouvia Carol resmungar, acho que ela puxava Monica dos braços do Rhodey.

— Calma, posso dar atenção aos dois — Monica expôs com a voz risonha.

— Não precisa ser tão ciumenta, cunhadinha, Rhodey logo vai embora e o fogo da Mônica apaga junto.

— Ei! — Mônica jogou algo em Sharon, o que me fez abrir os olhos, era uma toalha.

— E você, Tony, não vai provar sua grande masculinidade? — Sharon perguntou.

— Meu dinheiro pode comprar as provas da minha masculinidade — afirmei dando de ombros e Hill começou a rir.

— Dinheiro do seu pai e avô, você quer dizer — Bucky retrucou me olhando com os olhos cerrados.

— E quem vai herdar o dinheiro do meu pai e parte da do meu avô? — respondi.

— Para isso existe o deserdamento e você deve estar muito próximo disso; nem o nosso santo Steve te suportou. — Bucky tomou um tapão na nuca de Rogers.

— Tá aí, o que aconteceu com vocês dois, não estavam unha e carne? Tony isso, Tony aquilo, Tony, Tony — Sam imitou a voz de Steve de uma forma afetada.

Nossos amigos ficaram nos olhando esperando uma resposta, Steve passou a mão no pescoço, parecia não saber o que responder. Não tinha como dizer a verdade sobre o beijo no campo de girassóis.

— Estamos dando um tempo, Rogers era muito grudento — menti fazendo uma expressão teatral. — Preciso de espaço e a companhia de Hill é mais agradável — sorri falsamente e Hill me deu um beijo, pude ver de canto de olho a expressão irritada de Steve.

Mentiroso, era o que eu lia no seu olhar. Depravado e mentiroso. Ele com certeza me detestava cada vez mais. Os três subiram para a parte alta do lago onde podíamos vê-los caso saltassem. Eu era imprudente e acima de tudo, naquela época, eu mal media as consequências de muitos dos meus atos. Tudo que eu precisava era provar para mim mesmo, me enganar o suficiente e acreditar que eu era como os outros garotos. Mas, em todos esses anos, nada consertou a angústia dentro de mim por me esconder, mentir e não tê-lo. Talvez eu só esteja me enganado, ele seria meu? Ele desejou, em algum momento, realmente ficar comigo além daquele verão? Tenho medo das respostas que posso ter se o encontrar. Subi o morro depois que eles subiram e ouvi eles discutindo sobre o salto, era bem alto uns 20 metros. Corri.

— Essa é a grande prova de masculinidade de vocês? Bananas. — Pulei.

— Tony, não. — Ouvi a voz de Steve de longe.

Meu corpo entrou na água de forma violenta, fazendo uma dor percorre-lo pela pressão. Fui tomado pelo frio. Me senti fraco e minha visão embaçou, não tinha força para nadar, minha mente estava tão letárgica que nem consegui me desesperar. Vi um borrão na minha frente e senti meu corpo ser puxado.

— Qual é o seu problema? Quando vai parar de ser tão imprudente?... Porra, você faz cada merda, podia ter se matado, seu idiota.

Eu ainda estava zonzo.

— Steve?

— É claro, quem mais seria? Quem é que está sempre te salvando das suas idiotices? Você não ia comprar a porra da sua masculinidade, por que saltou?

— Porque eu sou imprudente e tenho você para me salvar. — Tentei sorrir, mas uma forte tontura me tomou. Ele tinha uma expressão tão preocupada, me sinto bem ao lembrar que ele se preocupava.

Muitas das minhas lembranças sobre aquele verão tem sido mais fortes agora, alguns detalhes haviam se perdido ou fiz questão de esquecer?

— Idiota! Seu nariz está sangrando, precisamos ver isso.

Ele passou o dedo pelo meu buço e pude ver o sangue no seu dedo. Ele me puxou nadando até a margem.

— Você pulou!? Por que está todo inteiro até me xingando e eu estou um trapo?

— Deve ser porque eu levanto saco de 40 quilos todos os dias; e você, notas de 50.

Talvez essa viagem me dê uma nova perspectiva até mesmo do passado.

Quando eu tinha 60 anosOnde histórias criam vida. Descubra agora